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Comportamento

Sem previsão de volta ao "normal", atire a 1ª pedra quem não surtou

Deu saudades de escrever para mães que, como eu, estão pensando zilhões de coisas ao mesmo tempo em que não querem pensar em nada

Paula Maciulevicius Brasil | 05/04/2020 08:45

Eu não sei nem como começar a escrever o texto deste domingo. Depois de dias em ausência, peço desculpas pelo atropelo que o coronavírus tem trazido a vida de todos, em especial desta mãe de dois, jornalista em home office e com a família toda dentro de um apartamento de pouco mais de 70m².

Eu consigo enxergar o quão privilegiada sou por poder trabalhar de casa, por poder estar ao lado dos meus filhos, quando tantas mães, em especial às que estão na linha de frente, mantém uma distância que a segurança pede, mas a saudade cobra.

Sempre tive ajuda. Rede de apoio, avós, além de um companheiro maravilhoso que é o melhor pai do mundo. Mas ultimamente, está pesado, e pra todo mundo. Tiro o chapéu para as mães que fazem todo o ensino domiciliar, o "homeschooling". Até cheguei a mandar mensagem para uma delas que conheci em um grupo de WhatsApp. De resposta, recebi o oferecimento de ajuda com atividades e o que mais eu precisasse para trabalhar tarefas em casa. Me senti acolhida, embora não seja este o meu objetivo na quarentena.

O fato é que o que a gente está vivendo não se enquadra em rotina nenhuma. Do dia para a noite, passamos a ter de trabalhar com crianças em casa, e também virarmos tutoras de EAD (Educação a Distância). O que aliás, particularmente, acho louvável pelos professores e penável, se é que essa palavra existe, para as famílias. Os pequenos não estão de férias, mas também não precisam ser massacrados por conteúdo. De verdade? Não sei se sou pessimista ao pensar que o mundo como conhecíamos ruiu, ou está ruindo, ou vai ruir, mas de que adianta matemática e aulas de gramática quando é preciso exercitar paciência, resiliência e, principalmente, empatia?

Nestas horas não tem conteúdo de escola que me agrade. Eles estão cumprindo o papel, já que a maioria das famílias, por estar pagando a mensalidade, querem um retorno. Mas acho que seria mais bem aproveitável, da parte de todos, começarmos atividades juntos. Da rotina mesmo. A gente não sabe quanto tempo vai durar essa quarentena, nem como vamos sair dela. Volto a dizer, números não ensinam tanto quanto a realidade batendo à porta e pedindo, suplicando, para que você fique em casa.

É tempo de ensinarmos e aprendermos, acho que mais aprendermos, a lição de que a gente precisa do outro, de que o contato faz parte da sobrevivência de uma sociedade. E que a saudade existe, e dói. Dispensei vários convites de almoço da minha mãe aos sábados por pensar em subir três lances de escada com duas crianças no colo e uma pequena mudança. Não que não nos víssemos, ela vinha quase todo o dia aqui em casa, mas eu fiquei sem o arroz com feijão, a berinjela encapada, a farofa de cenoura e o franguinho com creme de cebola que só ela sabe fazer.

Sinto saudades. De sair para trabalhar, de conversar com os amigos de perto, dos colegas de redação, de sair sem o medo de ser infectada, ou pior, infectar alguém. Ficar dentro de casa é aprender, também, o simples. Está todo mundo tentando sobreviver.

Se você acha incrível as mil atividades e entreter as crianças o tempo todo, tá certo. Eu sou do time que prefere juntar todo mundo no sofá e escolher uma programação que caiba a nós todos. O que geralmente se resume a algum desenho, Shaun é o mais fofo de todos, ou um grupo de bolinhas fofas que canta pão de queijo em versão funk no Youtube.

A gente não precisa se sentir culpada. A gente não precisa se cobrar tanto. Ensine as crianças também a sentir tédio, a sentir a necessidade de sair, a aprender a ficar em casa pelos outros. E também a surtar, de vez em quando.

Não sei o quanto este texto foi proveitoso ou não. Deu saudades de escrever para mães que, como eu, estão pensando zilhões de coisas ao mesmo tempo em que não querem pensar, muito menos fazer nada.

Vamos sair dessa juntas. Me escrevam, gente. Desabafem comigo, meu e-mail é: paulamaciulevicius@news.com.br.

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