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Comportamento

Surdo desde que nasceu, Enzo ficou encantando quando descobriu o samba

Enzo tem 8 anos, sabe libras e já ensinou a língua de sinais até para os amiguinhos da escola

Thailla Torres | 13/01/2018 07:05
Em casa, até a cadelinha Lulu entende os sinais dos donos.
Em casa, até a cadelinha Lulu entende os sinais dos donos.

Aos 8 anos, Enzo do Nascimento Waismann Asen é surdo e nunca teve contato com o Carnaval. Tudo mudou nesta semana, quando ele se deparou com uma escola de samba em um shopping da cidade, resolveu chegar perto da rainha de bateria e começou a dançar ao sentir a vibração da música.

Ele ficou tão entusiasmado que conseguiu até dobrar o coração da mãe que é adventista. "Eu estava indo embora do shopping quando ele viu a escola de samba e ficou louco de curiosidade. Apesar de ser religiosa, eu não boicoto ele em seus desejos e acabei deixando ele curtir o samba", explica Alice de Souza Nascimento, de 32 anos.

E este ano vai aproveitar pela primeira vez o Carnaval. A bateria da Escola de Samba Igrejinha, em Campo Grande, convidou o menino para curtir o Cordão Valu neste fim de semana. "E eu vou levá-lo. Nós não entramos nessa comemoração, mas ele gostou, se apaixonou e acho que ele tem todo direito de curtir", comenta Alice.

Enzo é surdo desde que nasceu. Ainda bebê o menino recebeu um resultado falso sobre a saúde auditiva, tanto que os pais só tiveram conhecimento da surdez aos três anos de idade, o que definitivamente transformou a vida da família e revelou que Enzo era uma menino capaz de superar todos os desafios da surdez, principalmente, diante do preconceito.

Em casa a conversação é libras.
Em casa a conversação é libras.

Unilateral - Isso porque Enzo é surdo absoluto só do ouvido esquerdo e do lado direito a audição chega a 95%. Segundo a família, a surdez unilateral traz uma série de desafios para quem convive com ela. "É uma deficiência invisível e quem surdo apenas de um ouvido, além de sempre ser questionado sobre isso e até ouvir que a surdez é frescura, ele sequer é amparado e considerado deficiente pela lei", desabafa Alice.

Ao ouvir apenas de um lado, Enzo tem dificuldade de descobrir de onde o som está vindo, isso também sobrecarrega o ouvido saudável que passa a escutar 'zumbidos' em ambientes com muito barulho e em lugares públicos também há dificuldades para compreender o que as pessoas estão dizendo.

É assim que há anos Alice e o marido Edio Tadeu Leite Waismann Asen, que também é surdo, lutam ao lado de Enzo para que ele tenha uma vida normal, mesmo diante das limitações. Mas desde de pequeno foi ele quem transformou o mundo à sua volta e fez muita gente que a exclusão nunca foi o melhor caminho.

Tudo começou nos primeiros anos da escola, quando a família ainda não tinha conhecimento da surdez do filho. "Diante do diagnóstico de que ele tinha audição perfeita, nunca me passou pela cabeça que Enzo também poderia ser surdo. Tanto que eu o estimulei muito quando pequeno. Mas só compreendemos a surdez quando ele passou a ter dificuldades na escola, principalmente, na oralidade. Ainda sofreu bullyng por não falar, foi chamado de macaco pelos gestos e até a professora não aceitou que ele falasse em libras".

Quando veio o diagnóstico, Alice mudou o filho de escola e a vida de Enzo foi transformada com o interesse de uma professora em compreender o universo da surdez. "Ela me chamou e disse que desejava entrar no mundo do meu filho. O que foi emocionante e positivo para o Enzo, que teve a oportunidade de ensinar a professora e os colegas a falarem libras dentro de sala de aula".

Enzo e os pais Alice e Edio.
Enzo e os pais Alice e Edio.

Mas o que entristece os pais é a falta de compressão da comunidade surda com quem com ouve de lado só. "Eu fico me perguntando como é que um médico que estudou anos, sabe das condições  e dos problemas que uma pessoa surda passa, não compreende as dificuldades de uma criança que é surda unilateral passa", diz o pai Edio.

Por isso, na visão de Alice, as contradições surgem ao dizerem que o filho não é deficiente. "Se ele for prestar um concurso público ou estiver em uma entrevista de emprego, Enzo não é aceito como portador de necessidades especiais. Mas se ele for em uma avaliação médica ele é considerado com uma deficiência. E isso é muito triste, porque as pessoas pensam que ele está ouvindo normal, mas a gente sabe o quanto ele sobre para ouvir".

Por isso para a família, a esperança é que a surdez unilateral seja compreendida e que continue a luta para que haja mudanças na legislação. "Preciso que ele tenha os seus direitos e autonomia para viver o mundo. E principalmente, respeito, porque a surdez unilateral também é deficiência", diz a mãe.

"Cãopanheira" - Dentro de casa, alegria de Enzo é ter por perto a família, mas principalmente, a cadela Lulu, que depois de tanto tempo com os donos, foi treinada para compreender os sinais. "Ela entende quando peço para ir chamar o Enzo ou Edio dentro de casa. Tanto que se chamá-la pelo nome ela não nos atende.  Mas quando fazemos os sinais ,ela corre e faz de tudo para chamar atenção deles, é lindo de ver", descreve Alice. 

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