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Comportamento

Tarde no parque reúne gente que deu basta à chapinha depois de sofrer horrores

Adriano Fernandes | 29/11/2015 20:51
O Encontro de Crespos e Cachos MS 2015, teve um publico estimado em mais de 200 pessoas. (Foto:Fernando Antunes)
O Encontro de Crespos e Cachos MS 2015, teve um publico estimado em mais de 200 pessoas. (Foto:Fernando Antunes)

Na tarde deste domingo a Concha Acústica do Parque das Nações Indígenas foi tomada por uma multidão de crespas. Convocadas pelas redes sociais, as meninas responderam com o melhor penteado no Encontro de Crespos e Cachos MS 2015. O evento reuniu garotas que optaram por abandonar a chapinha e adotar a beleza natural das madeixas. Muito mais do que estética, é uma forma de militância contra o preconceito e de mostrar que a beleza afro, depende antes de tudo da auto-aceitação.

A ilusão de um padrão de beleza, fez com a psicóloga Cristina Xavier, de 31 anos, se submeter por anos as técnicas radicais de alisamento. A mudança de comportamento surgiu ainda na faculdade, muito antes do assunto virar moda. “Eu notei que na minha sala de aula eramos em três negras sendo que as outras duas já haviam obtido o aspecto liso que eu queria, mas eu não alcançava. Foi quando decidi deixá-lo natural”, conta.

Cristina decidiu aderir ao penteado dando vida aos fios crespos, bem antes de virar moda.(Foto: Fernando Antunes)
Cristina decidiu aderir ao penteado dando vida aos fios crespos, bem antes de virar moda.(Foto: Fernando Antunes)

Desde então, o que antes era tido como frustração se tornou o diferencial da moça. Para ela, a naturalidade com que mais meninas tem aderido ao visual vem transformando o preconceito em curiosidade.

“Estamos batendo na porta da sociedade pra mostrar que isso também é belo, é natural, assim como a beleza do branco, do indio. Não é nada imposto, mas quanto mais meninas aderirem ao movimento, mais a população vai tendo esse choque de realidade”, avalia.

Para a professora Angela Batista, deixar de “agredir” os cabelos em busca de um ideal de beleza, foi difícil. “Eu nunca imaginei que um dia eu iria assumir meu cabelo natural. O uso excessivo de chapinha me fez queimar o couro cabeludo, tive queda, chorei muito quando parei de alisar e o cortei”, lembra.

A chapinha ela aposentou e hoje em dia o cabelo, mais que volume, tem vida. O preconceito ainda existe, mas Angela tenta levar na esportiva. “A menina que adere a este estilo tem que estar consciente de que alguém ainda vai rir dela na rua, vão fazer piadas, ofender, porque a sociedade ainda é muito preconceituosa. Mas as pessoas também tem curiosidade, querem pegar, acham lindo, querem saber como cuido”.

Os turbantes e lenços são adereços obrigatórios no gurda-roupas de Larissa.(Foto:Fernando Antunes)
Os turbantes e lenços são adereços obrigatórios no gurda-roupas de Larissa.(Foto:Fernando Antunes)

E o evento foi também, um verdadeiro desfile de gente estilosa. Os cabelos crespos ao vento tinham tons do vermelho ao loiro. Os lenços e turbantes foram itens quase que obrigatórios dentre os adereços. Se não para todas, pelo menos para a estudante Laisa Peres de 18 anos.

“São itens que eu amo e que vario de acordo com a ocasião. Antes, se eu usava meu cabelo solto, era molhado, e hoje em dia não só assumi o volume, como amo usar turbantes”, garante.

O acessório deixou ainda mais linda a pequena Marcela, de 4 anos. Ao lado da mãe, que desde já está preocupada com a formação social da filha, ela não parava um segundo.

Marinete foi com a filha Marcela, acompanhar o encontro de Crespos e Cachos. (Foto: Fernando Antunes)
Marinete foi com a filha Marcela, acompanhar o encontro de Crespos e Cachos. (Foto: Fernando Antunes)
A pequena Marcela de 4 anos, ficou ainda mais estilosa com o turbante.(Foto: Fernando Antunes)
A pequena Marcela de 4 anos, ficou ainda mais estilosa com o turbante.(Foto: Fernando Antunes)

“Me chamou a atenção quando ela olhou pra mim, e disse que queria ter um cabelo liso..Isso aos 3 anos de idade”, conta a mãe. O motivo, na avaliação dela, é uma cultura que prega que o belo é predominantemente branco e escorrido.

“Minha filha aos 4 anos de idade não aceita o cabelinho cacheado dela, porque a sociedade, as animações e até histórias infantis, estabelecem que o que é bonito é o loiro, liso, da pele clara e do olho azul”, conclui.

O evento ainda teve shows de samba, rap e até workshop de turbante. No palco, além das palestras, discussões sobre a necessidade do empoderamento feminino, poesias e relatos pessoais de meninas que já sofreram com o racismo.

Para quem chegava para conferir o encontro, de longe logo se via um varal com retratos e as letras de músicas de cantores como Emicida e Chico César. Astros que por meio da música, também exaltam o orgulho da cultura afro-brasileira.

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A letra da música "A Carne" de Elza Soares é umas das mais representativas de como o negro ainda é visto na sociedade.(Foto:Fernandes Antunes)
A letra da música "A Carne" de Elza Soares é umas das mais representativas de como o negro ainda é visto na sociedade.(Foto:Fernandes Antunes)
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