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Comportamento

Todo dia é tempo de desafio para família que há 8 meses vê Pedro em coma

Pais descrevem o sentimento durante esse tempo e como o amor é capaz de transformar os dias ao lado do filho

Thailla Torres | 19/11/2018 07:47
Pedro está em coma há 8 meses, após um atropelamento. Família descreve como o amor e esperança é capaz de transformar os dias ao lado do lado. (Foto: Henrique Kawaminami)
Pedro está em coma há 8 meses, após um atropelamento. Família descreve como o amor e esperança é capaz de transformar os dias ao lado do lado. (Foto: Henrique Kawaminami)

Às 23h30 do dia 10 de março de 2018, a vida do casal Maria Cláudia e José Roberto mudou completamente. O filho mais velho foi atropelado por um carro na frente deles, enquanto atravessava  a rua para ir a um bar na Avenida Mato Grosso. Pedro Maia Braga, de 25 anos, teve poli traumatismo craniano e está em coma desde então. Até quando os médicos disseram que o caso do filho era irreversível, não houve Medicina capaz de superar a fé dos pais que reaprenderam a cuidar do filho e encaram diariamente a esperança de vê-lo acordar.

Nos primeiros dias, na Santa Casa de Campo Grande, Pedro correu risco de morte e a equipe médica chegou a dizer à família que abriria o protocolo de morte encefálica, três dias depois do acidente. Mas evoluções pequenas e uma tomografia que constatou atividades cerebrais reforçou a esperança da família.

Pedro continuou em coma e foi para a casa 59 dias depois do acidente. Para evoluir no grau do coma, ele precisa abrir os olhos, esboçar algum som ou conversar, por exemplo. Segundo os médicos, ele tem os sinais vitais saudáveis e com o tratamento intenso que envolve diversas especialidades, tudo que a família não perde é a esperança. “Ficamos no aguardo do cérebro dele se regenerar, evoluir e só assim quais são os reais comprometimentos ou sequelas que ficarão. Tudo o que a gente espera é que ele possa se comunicar e voltar a viver da forma que ele merece viver”, explica a mãe Maria Cláudia Maia Braga, de 48 anos, psicóloga e pedagoga.

Maria Claúdia não perde a esperança de ver o filho acordar. (Foto: Henrique Kawaminami)
Maria Claúdia não perde a esperança de ver o filho acordar. (Foto: Henrique Kawaminami)

O acidente aconteceu na noite de um sábado, logo após o jantar na casa da madrinha. Pedro pediu aos pais que os deixassem em um bar, na Avenida Mato Grosso, para que pudesse ver as cantarem. Maria lembra que estacionou do outro lado da avenida e o semáforo estava vermelho, um ônibus parou e o filho atravessou na faixa de pedestre, mas foi atingido por outro carro em alta velocidade.

A cena já passou milhares de vezes na cabeça dos pais. “Pedro bateu com a cabeça no para-brisa que ficou estilhaçado e ele foi lançado a metros do veículo, onde bateu a cabeça de novo”.

Médicos que passavam pelo local pararam para prestar socorro até a chegada da ambulância, amigos tentaram tranquilizar a família que entrou em choque, especialmente, Maria. “Eu gritava porque vi o sangue do meu filho escorrendo. Naquele momento lembro-me de uma moça que se aproximou e me abraçou muito forte, parece que foi um oxigênio para que eu voltasse a respirar naquele instante”.

Foram 15 dias no CTI (Centro de Terapia Intensiva), sem que Maria arredasse o pé o hospital, mesmo sem poder ficar ao lado do filho. Depois, passou a acompanhá-lo na enfermaria até receber a notícia, no dia 59° dia de internação, que Pedro estava liberado para ir embora, mesmo em coma.

“Esse acho que foi um momento muito mais angustiante, porque você fica cheia de medos caso ele passe mal, tenha uma parada cardíaca, por exemplo. A equipe do hospital orienta sobre todos os procedimentos, mas isso nos deu uma insegurança muito grande, porque você pensa que está sozinha com um filho em coma e precisa dar conta de tudo”.

A mãe recebeu treinamentos com uma equipe médica onde aprendeu primeiros socorros e a observar alguns sinais diferentes no filho. “É como ser mãe e pai novamente, com um novo bebê dentro de casa. A gente precisa trocá-lo, dar banho no leito, seguir a dieta corretamente, saber como movimentá-lo e tentar, ao máximo, a rotina dele antes do acidente, para o dia a dia”.

Família lê poesias ao filho diariamente. (Foto: Henrique Kawaminami)
Família lê poesias ao filho diariamente. (Foto: Henrique Kawaminami)

Pedro recebe em casa atendimento com fisioterapeuta, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. Apesar do plano de saúde, se a família precisar de um enfermeiro, os custos com profissionais, acessórios e alimentação ficam por conta da família. “Isso não é um investimento barato, por isso, a gente faz algumas campanhas que nos dão segurança financeira para dar continuidade ao tratamento do Pedro”.

A rotina de trabalho também mudou na família. “Apesar de ser psicóloga e professora, reduzi minha carga horária de trabalho para me dedicar ao Pedro. O pai também se dedica nas horas vagas a fazer tudo o que o Pedro precisa, então tivemos uma mudança de rotina significativa, para dar total atenção ao nosso filho”.

Desde que Pedro chegou a casa, a família criou o hábito de anotar tudo o que acontece no dia a dia. Pequenos avanços, dores, movimentos e esperanças, são anotados em um relatório que com muita sutileza e sensibilidade são compartilhados em um blog, para que todos acompanhem a luta do filho e da família. “Colocamos filme, música e, arrumando as coisas dele, encontramos uma pasta com poesias que ele escrevia e que hoje são lidas para ele todos os dias. Fazemos tudo dentro da rotina que ele tinha, com intuito que ele acorde a qualquer momento”.

Com sorriso e lágrimas a mãe descreve qual a real situação de quem há oito meses vê o filho em coma. “Ora a gente fica mais forte, ora dá umas recaídas. À noite sou eu que fico com ele, então o cansaço da espera gera uma ansiedade e uma angústia. Então quando eu vejo uma foto nossa antiga, bate uma saudade dele. Porque eu vejo meu filho aqui, mas continuo querendo vê-lo vivo, andando, falando, porque tenho esperança que ele possa dar continuidade à vida dele de alguma forma. Mas essa espera é muito angustiante”.

O afeto e a companhia nunca faltam. (Foto: Henrique Kawaminami)
O afeto e a companhia nunca faltam. (Foto: Henrique Kawaminami)

A esperança dela e do marido engenheiro civil, José Roberto Araújo Braga, de 55 anos, nunca vai embora. “Há momentos que a gente pensa que ele vai acordar, principalmente porque observo muito a expressão dos médicos. No início era como se ele só saísse dessa a partir de um milagre, mas no dia que o Pedro começou a se movimentar, 49 dias após o acidente, foi a primeira vez que o médico olhou pra mim e disse que um dia ele poderia acordar. Então a gente nunca perde a esperança, por mais que ela balance às vezes”.

Durante entrevista, quase impossível não se emocionar ao ver nos olhos da mãe e do pai um amor incondicional, capaz de vencer todos os obstáculos e se fortalecer diariamente para um novo dia. Apesar de todas as dores e angústias, não há nada que encha mais o coração dos pais de esperança do que o amor. “Porque se você não tiver amor, você não se dedica para o outro e não se debruça, e é isso que temos feito, tentando dar maior qualidade de vida possível ao Pedro. Porque se ele sobreviveu, também está lutando pela vida dele, então a gente vai lutar junto para sempre”.

Quem quiser saber mais sobre Pedro e lutar junto com esta família, pode acompanhar tudo pelo blog Celebrando com Pedro que é alimentado quase semanalmente. No blog, também há informações sobre como você pode contribuir para que Pedro continue lutando nessa jornada e possa voltar a sorrir.

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