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Comportamento

Um adeus no Facebook e o coração de Eduardo parou, para o desespero dos amigos

Paula Maciulevicius | 14/09/2016 06:04
Despedida estava privada e a pedido dele, irmã a tornou pública na madrugada da morte.
Despedida estava privada e a pedido dele, irmã a tornou pública na madrugada da morte.

Na madrugada, antes de morrer, Eduardo publicou no Facebook o pedido para que os amigos não ficassem chateados. Pela manhã, as notícias foram correndo. Ele havia escolhido deixar de viver e cometeu suicídio em casa, no Jardim Itália, região da Vila Popular, em Campo Grande. Nessa hora, é ao palavrão que se recorre para tentar traduzir o que o coração e nem a razão conseguem expressar. "Porr... Eduardo", resumiu um dos amigos ao saber do fim do jovem de 19 anos.

Foram eles, os amigos, ainda atordoados com a notícia, que pediram ao Lado B para falar sobre Eduardo e continuar discutindo um assunto que é tabu, mas que mata tantos, principalmente, pela dor da depressão sem tratamento.

A morte desta vez ocorreu cinco ruas acima da casa de Lucas dos Santos. Mas a dor não se mede pela proximidade dos passos. Os dois eram amigos desde a época de colégio, em 2010. "O Eduardo veio do interior de São Paulo, com a mãe e uma irmã, e estudaram na escola Municipal Frederico Soares, lá criaram um laço de amizade comigo e com meu primo, além de estudarmos juntos todos na mesma série, eles moravam em uma casa na rua de baixo da minha, então a gente se via sempre", conta Lucas, de 18 anos.

Quando ainda não existiam os grupos de Whatsapp, Lucas lembra que a comunicação dos dois era por pequenos bilhetes. Na escola, o Eduardo ainda menino já demonstrava ser de um alto astral contagiante. "Sempre alegre, sempre rindo, muito companheiro. A minha amizade com ele era tipo daqueles filmes de cinema, a gente era muito unido, tínhamos nossos códigos, olhares e gestos", descreve o amigo. 

Eduardo em uma das últimas fotos na balada.
Eduardo em uma das últimas fotos na balada.

O Eduardo de agora, nas redes sociais, se identificava como "Cristopher Eduardo", curtia baladas, música eletrônica, rock e estudava o 1º ano do Ensino Médio na Escola Estadual José Mamede de Aquino, no Jardim Aeroporto. "A gente para e pensa, o que leva um ser humano a se enforcar? Quais eram suas dores? Por que ele não compartilhava?", se pergunta Lucas.

O jovem sempre foi considerado "muito aberto", de falar de tudo, não ter filtro, o que torna a partida dele ainda mais perplexa. "Era um menino que se tivesse problemas desabafava até com um estranho no ponto de ônibus", estranha o amigo.

Entre as mensagens de pesar de amigos, a surpresa chama atenção. Ninguém imaginava o suicídio vindo do garoto sorridente, mas um ponto que serve de alerta nessa luta contra a radical decisão de se matar, muitas vezes uma briga solitária, interna.

Diego Barbosa, de 17 anos, foi outro amigo que se chocou. Os dois se conheceram há cinco anos através de uma amiga em comum, na porta de casa. "Ele vivia dando risada e brincando, mas por dentro, pode ser que estivesse muito arrasado com alguma coisa", arrisca.

Até hoje Diego se recorda do primeiro contato. "Ele chegou, cumprimentou e do jeito extrovertido e brincalhão dele, começou a puxar assunto e daí para frente cresceu uma amizade forte", detalha. Quando a notícia chegou, ele, como vários ficaram sem chão. "Na verdade ninguém nunca pensou que ele ia fazer uma coisa dessas, porque sempre foi uma pessoa brincalhona, que procurava fazer a gente dar risada. Uma pessoa divertida, o melhor amigo que a gente podia ter".

Foto postada em junho em frente ao cartaz do filme.
Foto postada em junho em frente ao cartaz do filme.

Em Goiás, Estado onde hoje mora a amiga Nathalia Salomão, de 18 anos, o telefone tocou às 8h da manhã. Do outro lado da linha, um resumo do que ela ainda não consegue acreditar. "Foi desesperador, pois eu estava dormindo e até achei que era uma brincadeira comigo", conta.

Na memória, a jovem tenta resgatar, procurar qualquer cena que revelasse, ainda que nas entrelinhas que isso podia um dia acontecer. "Poucas vezes o vi triste, era uma pessoa muito alegre, animada. Nossa amizade começou através da irmã dele e foi crescendo", conta. O sentimento é o de choque. "Por mais que eu tente, não consigo imaginar motivo para ele ter chegado ao ponto de se suicidar".

Pela conta de Eduardo, a irmã Jéssica Antunes, postou na noite dessa terça-feira, alguns esclarecimentos. O irmão era abertamente homossexual e segundo ela, isso nunca interferiu em suas relações familiares. "Muito pelo contrário, nossa mãe sempre aceitou e apoiou em suas ações e escolhas".

Sobre o que poderia ter motivado o ato, Jéssica, em nome da família, afirma que o irmão sempre conviveu bem em casa e com os amigos e que eles ainda não sabem, ao certo, o que o levou ao suicídio.

"A última pessoa com quem ele se comunicou ainda em vida, fui eu mesma, que em logo em seguida corri a pé, de madrugada, ao seu encontro, infelizmente não pude evitar o que aconteceu", lamenta.

O texto de despedida estava, segundo ela, privado somente para a visualização de Eduardo, no Facebook. "O mesmo me mandou mensagens, para que após o ocorrido colocasse a despedida em público. Em momento algum o Eduardo fez apologia ao suicídio", frisa.

"Ele não era uma pessoa fraca, nem corajosa por ter feito tal coisa, mas sim uma pessoa desesperada, por favor não romantizem isso e não julguem tal ato de desespero", pede a irmã. 

Abaixo, a despedida de Eduardo:

"Gente amo todos meus amigos... quero que sempre lembre de lembranças positivas! Pq no momento estou preste a fazer algo ruim, não fiquem chateado comigo, mas logo as notícias chegaram, e provavelmente estarei morto quando lerem isso!

Essa é a única forma de todos saberem que minha existência não existe mais !!
Estou feliz por ter feito isso e espero que vocês não fiquem tristes, pois amo todos meus amigos + próximos!!!
Bjs"

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