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Comportamento

Vendedora se torna amiga de criança autista e tatua o nome de Miguel

Aparecida Cabral tem hoje 23 anos, e uma nova tatuagem: o nome de Miguel escrito com a letrinha dele no braço dela

Paula Maciulevicius Brasil | 18/06/2020 06:12
Cida e Miguel. A cena foi no final de 2019, quando ele teve todos os ônibus da Peppa Pig colocados ao redor dele em loja. (Foto: Arquivo Pessoal)
Cida e Miguel. A cena foi no final de 2019, quando ele teve todos os ônibus da Peppa Pig colocados ao redor dele em loja. (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi Miguel, de 9 anos, quem apresentou o mundo autista para Cida. A criança que dois anos atrás entrou na loja em busca de uma Galinha Pintadinha mudou para sempre a vida da vendedora. Aparecida Cabral tem hoje 23 anos, e uma nova tatuagem: o nome de Miguel escrito com a letrinha dele no braço dela junto do laço símbolo do autismo.

A "amiga da Rihappy" como ele chama Cida já trabalha há quatro anos na loja do Shopping Campo Grande, onde todos os sábados, antes da pandemia, a família costumava ir passear com o filho. E foi assim que eles se conheceram e ficaram amigos.

"Notei que ele mexia com a mão, e segurava de uma forma diferente o franguinho dele. Fui atender, e acabei falando com a mãe dele que me explicou que ele era autista." recorda Cida.

A vendedora não tinha conhecimento sobre o autismo, mas foi pesquisar. "Através do Miguel eu conheci e descobri que eles ensinam cada coisa, um carinho, um jeito diferente, que a gente acaba amando", descreve.

Cida não é mãe ainda, mas fala que foi através do pequeno amigo que conseguiu desenvolver uma habilidade mais humana no trabalho. "Hoje se eu vejo alguma criança chorando o meu olhar por ela já é diferente, porque eu sei que pode não ser um choro normal", diz.

Miguel e a folha onde escreveu o nome, em letrinha de forma, a pedido da "Amiga da Rihappy". (Foto: Arquivo Pessoal)
Miguel e a folha onde escreveu o nome, em letrinha de forma, a pedido da "Amiga da Rihappy". (Foto: Arquivo Pessoal)

Nestes dois anos de conhecimento da vendedora, já vieram outras crianças com autismo na loja, mas nenhum se tornou amigo como Miguel. A amizade entre eles é tamanha que o menino se permite ser abraçado por ela. "A gente se abraça, na verdade, ele não me abraça, porém vai na minha frente e eu abraço ele, é sempre assim, ele para e eu abraço", explica a vendedora.

Até mesmo se ela está fora da loja, ele a reconhece e vai falar com ela, quando por exemplo se encontram na praça de alimentação do shopping. A mãe de Miguel, a bióloga Andressa Piacenti, de 39 anos, já ouviu elogios vindos de Cida para o filho. "Ela falava que era encantada por ele, que ele não pede nada, só quer brincar", conta.

Mais de pertinho, as letrinhas que formam o nome Miguel. (Foto: Arquivo Pessoal)
Mais de pertinho, as letrinhas que formam o nome Miguel. (Foto: Arquivo Pessoal)

No ano passado, o menino pediu para o Papai Noel o ônibus da Peppa Pig, e a vendedora não só mostrou o presente, como sentou com ele no chão e abriu todos os brinquedos num círculo. "Tem uma música que ele gosta, ela sentou e ligou todos eles com toda paciência", descreve a mãe.

A cada ida de Miguel à loja, a intimidade aumentava a ponto de a vendedora levar o menino para brincar enquanto os pais tomavam um café, por exemplo. "Ela pedia, a gente estava perto tomando um sorvete ou café, e dizíamos que sim. Com o autismo é difícil alguém querer ficar com os nossos filhos, nem os parentes querem porque não sabem lidar. E ela não, descobriu o autismo com o Miguel, foi se interessando e eles ficando cada vez mais próximos", fala Andressa.

O que fez com que todas as vezes em que eles fossem ao shopping, a loja de brinquedos se tornasse parada obrigatória, não pelo que ele poderia brincar ou ganhar, mas só para dar um beijo na amiga.

Logo depois de fazer a tatuagem, nome e o símbolo do Autismo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Logo depois de fazer a tatuagem, nome e o símbolo do Autismo. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nesta semana, Andressa recebeu uma mensagem com um pedido da vendedora, para que Miguel escrevesse o próprio nome em uma folha. A mãe pensou que fosse uma surpresa da loja para as crianças que não estão indo ao shopping por conta da pandemia, mas não. Era uma tatuagem que Cida fez no braço para registrar a amizade.

"Eu amo o Miguel, ele é sincero comigo, demonstra um carinho por mim e através dele eu aprendi o que era o autismo e como lidar com a criança", justifica Cida. A ideia em si ela já tinha tido há dois meses. "Eu vou tentar não sair da vida do Miguel, porém eu sou ciente que um dia vamos acabar se afastando, então pedi pra Andressa para o Miguel escrever o nome dele com a letra dele, porque quero deixar registrado o meu carinho por ele. Ele pode estar longe, mas eu sempre vou estar lembrando dele".

Depois de pronta, a vendedora amiga mandou a foto pelo WhatsApp para o Miguel ver.

"Eu não imaginava, a gente não tem palavras. Eu chorei, meu marido chorou, minha mãe chorou. Todo mundo da família ficou emocionado, não dá para explicar como que o Miguel, de alguma forma, mexe com a vida de outras pessoas. Eu tenho um olhar completamente diferente das pessoas e do mundo depois do Miguel, mas saber que ele consegue tocar a vida de outras pessoas é sensacional, principalmente no momento que a gente está vivendo, de ver tanto ódio gratuito, descobrir que ainda existem pessoas boas, com empatia, se colocar no lugar do outro e ter um gesto de carinho, de compreensão é o que a gente mais sonha para os nossos filhos. Ficamos felizes e muito gratos, são anjos como a Cida que Deus coloca nas nossas vidas para nos dizer: 'vocês não estão sozinhos'", acredita a mãe.

O homenageado então, ficou feliz da vida. Por conta da pandemia, não houve o abraço de sempre, e Miguel só viu a tatuagem por foto e vídeo, e por áudio respondeu Cida. A mesma resposta foi mandada para o Lado B. "Eu gostei do que a amiga fez" seguido de um 'smack', o som de um beijo estalando. "Muito obrigado, tô com saudade, tchau".

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