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Virgínia se perdeu, mas encarou 1,6 mil km até MS para viver aventura

Comportamento

Virgínia se perdeu, mas encarou 1,6 mil km até MS para viver aventura

Nos mais de 1.600 km que percorreu desde Belo Horizonte, 1ª vez da mineira em MS tem história pra contar

Raul Delvizio | 07/04/2021 07:51
Virgínia é a motoclista que percorreu mais de 1.600 km de BH até MS (Foto: Arquivo Pessoal)
Virgínia é a motoclista que percorreu mais de 1.600 km de BH até MS (Foto: Arquivo Pessoal)

A primeira vez da engenheira de software Virgínia Barbosa, 37 anos, em Mato Grosso do Sul foi uma experiência que jamais vai esquecer. Não somente por causa das belezas naturais do estado que inclusive a emocionaram no caminho, mas devido a aventura de ter viajado em cima da moto os mais de 1.600 quilômetros que separam Belo Horizonte de MS.

Mas tem alguns detalhes aí: mesmo com tudo planejado, ela acabou se perdendo da rota original, teve pane seca no veículo e, ao cruzar a "linha de chegada", teve a PRF (Polícia Rodoviária Federal) em sua cola.

"Quando fiz os 1.600 km de prova, minha emoção foi a mil. Eu gritava dentro do capacete, buzinava e piscava o farol que nem uma louca, isso no meio da estrada! Tomada pela emoção, não vi um agente policial fazendo sinal para eu parar. Simplesmente continuei meu caminho, acelerando para chegar logo no posto e tirar uma foto da nota de abastecimento final junto do hodômetro indicando a quilometragem oficial. Só bate aquela luz ofuscante atrás de mim com o barulho de sirene e o giroflex da viatura da PRF ligado. Encostei a moto e ouvi um "mão na cabeça!". Não nego que bateu um desespero danado…", admite a motociclista.

Primeira vez em MS foi uma aventura que teve até PRF na sua cola (Foto: Arquivo Pessoal)
Primeira vez em MS foi uma aventura que teve até PRF na sua cola (Foto: Arquivo Pessoal)

A história de Virgínia é a seguinte: mineira natural de Janaúba, há três anos ela entrou para o mundo sobre duas rodas. Meses antes, até participou do desafio da Harley Davidson e já tinha uma nova viagem marcada para julho. Porém, uma amiga sugeriu de juntas fazerem o Iron Butt, o desafio de longa duração em motocicletas.

Ao invés de optarem pelas rotas no Sul ou Nordeste do país, as duas toparam conhecer o Centro-Oeste brasileiro já que ninguém da disputa havia feito esse percurso antes. No itinerário, o município sul-mato-grossense de Porto Murtinho foi escolhido como destino final – com saída de Belo Horizonte, onde Virgínia e a amiga moram. Mas faltando 4 dias para o desafio, a colega teve problemas pessoais e foi obrigada a desistir.

"Fiquei naquele impasse: "vou ou não vou?". Mas no final decidi por realizar o desafio, afinal já estava tudo organizado. Consegui uma folga no trabalho, fiz revisão na moto e até paguei por um seguro adicional, pois o meu só cobria parte da quilometragem. Fora a consulta com médico e nutricionista, pois sou diabética – um dos motivos que optei pela prova foi mostrar que tudo é possível. Nunca pensei em viajar tão longe!", revela.

Na viagem, pane seca e GPS sem bateria deixaram perdida no meio da estrada (Foto: Arquivo Pessoal)
Na viagem, pane seca e GPS sem bateria deixaram perdida no meio da estrada (Foto: Arquivo Pessoal)

Tudo seguia certo até chegar em MS. Depois de passar pela ponte sobre o rio Paraná – "até chorei passando sobre ela, sou canceriana confessa", admite – um quebra molas fez com que o cabo do GPS soltasse. Na hora Virgínia não percebeu, mas em pouco tempo a bateria se esgotou.

"Quando era uns 100 km para chegar em Inocência, ele apagou de vez. Não tinha o 4G do celular para conferir onde eu estava no mapa. Foi aí que, ao invés de pegar a rotatória sentido Campo Grande, virei para o município vizinho. O tempo estava um pouco nublado e quando o sol saiu percebi que ele deveria estar na minha frente e não atrás de mim. Consegui ligar para meu marido em BH e ele traçou pelo telefonema uma rota para que eu voltasse à original", esclarece.

No planejamento antes da viagem, Virgínia havia marcado um posto de gasolina entre Inocência e Água Clara. Quando chegou por lá, descobriu que ele havia sido desativado. "Decidi seguir viagem, o que foi um grande erro, pois tive pane seca no meio da estrada. Mantive a tranquilidade e graças a Deus achei um reboque para me resgatar. Mas nisso tudo já havia perdido mais de 2h de prova", confirma.

Quando tudo parecia certo e a motociclista já havia terminado o desafio, a PRF correu na sua cola. "Os policiais pediram para eu descer da moto e verificaram minha documentação, que estava tudo em ordem. Eles perguntaram se eu estava sozinha e o que fazia naquela madrugada, no meio do nada, de moto. Mesmo assustada, fiquei mais tranquila ao expliquei o desafio que participava. No final, eles foram simpáticos e acabei fazendo amizade ali com os oficiais".

Virgínia posa em frente a moto em posto de combustível na região de Anastácio (Foto: Arquivo Pessoal)
Virgínia posa em frente a moto em posto de combustível na região de Anastácio (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando cheguei no posto de combustível, fez o abastecimento final e pegou a notinha na mão, ela não se conteve. "Chorei, pulei, coloquei até a música do Ayrton Senna para tocar no celular. Aquilo que meu coração sentia não cabia dentro de mim. Foi aí que vi que não era só eu que estava nesse frisson danado. Como compartilhei o link do meu trajeto com meus parentes e amigos, o pessoal estava todo lá na torcida virtual, parecendo final de Copa do Mundo. A galera do Iron Butt também, todo mundo foi ao delírio a cada quilômetro superado", diz.

Foram exatos 1.689 quilômetros rodados em 21h48min, com 10 paradas totais, isso em cima de uma Ducati Monster 797. "Minha primeira vez no MS, além de ter me tornado a única mulher no mundo a executar o Iron Butt montada nesse modelo de moto". Com os erros no trajeto, Virgínia descansou em Aquidauana antes de seguir viagem para Bonito e dar uma "turistada".

"Cheguei em Bonito ontem (6), e já tinha até um espumante me esperando no hotel. Ainda não curti muita coisa, apenas o ofurô e a piscina. Nesta quarta-feira vou fazer o passeio na Gruta do Lago Azul e ficarei aqui até o fim da semana, quando na sequência volto para casa. Essa jornada valeu muito a pena, pois com ela levantei três bandeiras pessoais: a primeira é que eu consigo; a segunda que uma mulher pode ir aonde quiser e como bem entender: e, por fim, é que ser diabético não me define, não é um impedimento para realizar sonhos e ser independente", finaliza.

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