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Comportamento

A comunicação complicada no bairro mais distante de Campo Grande

Ângela Kempfer | 12/04/2012 11:17
Fidelcino de Souza pega correspondência na Caixa Postal dos Correios aberta na conveniência da Cleuza. (Fotos: João Garrigó)
Fidelcino de Souza pega correspondência na Caixa Postal dos Correios aberta na conveniência da Cleuza. (Fotos: João Garrigó)

Kleber tem 15 anos e comemora que “já tem Orkut” em um dos bairros mais distantes do Centro de Campo Grande. Questiono se já não era hora de aderir ao Facebook e o menino explica: “pra senhora ver a rapidez da internet por aqui”.

No “sistema modem”, diz o rapaz, a lentidão impera independente do equipamento. “Para acessar o Google, por exemplo, tenho de colocar lá o endereço e ir passear no vizinho”, brinca.

Uma empresa apenas oferece o serviço via rádio, que além de “caro, um absurdo”, reclama, é “recordista em interferência”.

Em uma Belina antiga, ele e o pai param na principal conveniência da Chácara das Mansões, bairro que tem acesso pela BR-163. Os dois não vão comprar nada, apenas pegar a correspondência.

Como até quem mora na região não conhece os nomes das ruas, o comércio da dona Cleuza virou ponto dos Correios. Os carteiros não aparecem pelo bairro e todos os documentos e cartas são entregues apenas na conveniência.

“Tenho de vir aqui pelo menos uma vez por semana”, diz o pai de Kleber, Fidelcino de Souza, um dos 108 moradores com Caixa Postal dos Correios aberta na conveniência da Cleuza.

Ele diz não entender porque tem de ir até o mercadinho para pegar a correspondência, porque informa ter um endereço, o que parece ser motivo de honra para o senhor de64 anos.

“Olha aqui (mostra uma cobrança da Caixa Econômica), está escrito o endereço; Rua Mascate, número 36”. Para piorar, no bairro também não há qualquer ponto para pagamentos das contas de serviços, como água e luz.

Mesmo assim, quando alguém diz que ele mora longe, a reação é nervosa. “Longe nada, todos os dias vou e volto da cidade. São no máximo 20 minutos de carro na BR”.

Há dois anos a família se mudou de Mundo Novo para Campo Grande e hoje vive em uma “chacrinha”, como a maioria na Chácara das Mansões.

Quando tem de combinar uma festa ou encontro com alguém, Edmar não passa o endereço da casa, porque nem ele mesmo sabe em que rua mora.
Quando tem de combinar uma festa ou encontro com alguém, Edmar não passa o endereço da casa, porque nem ele mesmo sabe em que rua mora.

Celular é outro problema, dizem os moradores. “Aqui só funciona bem a Vivo e a Tim. Os outros, nem com reza brava”, informa Edmar da Conceição.

Com uma lata de cerveja, em uma tarde de folga, o jovem conta que trabalha no Posto Savana, o principal ponto de referência da região. Muitos dos funcionários do posto escolheram o bairro para morar, pela comodidade.

Quando tem de combinar uma festa ou encontro com alguém, não passa o endereço da casa, porque nem ele mesmo sabe em que rua mora.

“Não sei se tem nome não. Sempre que preciso combinar, digo para vir pela BR, virar no Posto Savana e me encontrar aqui, na lanchonete da dona Cleuza”.

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