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Comportamento

Em bar “Copo Sujo”, até as mesas foram doadas pelos clientes

Ângela Kempfer | 02/07/2012 08:00
Nelson e o bar feito com doações dos clientes. (Fotos: Minamar Júnior)
Nelson e o bar feito com doações dos clientes. (Fotos: Minamar Júnior)

As mesas de madeira larga, feitas na base do encaixe, vieram da fazenda de um cliente há mais de 20 anos, assim como as cadeiras e até os dois fogões do bar de Nelson Hokama, no bairro Sol Nascente, região do Monte Líbano. “Só comprei os copos”, conta o dono, antes de uma gargalhada.

O nome “Copo Sujo” também é batismo dos fregueses advogados, médicos, empresários e políticos, que de segunda a segunda batem ponto, apesar do local não ter nada além de bebida.

Quem quer comer, leva os ingredientes de casa. No domingo, Nelsinho abriu as portas para um macarrão com frango, receita de um dos clientes e feito pelos camaradas, suficiente para servir 30 pessoas.

Antes de sentar para beber e conversar com os amigos, alguns passam no supermercado ao lado e compram os petiscos que vão beliscar no “Copo Sujo”. Sobre as mesas, encontro um prato com molho de soja, acelga e a explicação: “Isso aqui é uma confraria. Brinco que é um bar gay. Só tem homem”, comenta o advogado Adão Ramão Souza, de 58 anos.

Até o telhado recém instalado na varanda foi viabilizado pela “vaquinha” da clientela. “Quando chovia não dava para ficar aqui, então resolvemos o problema”, diz o odontologista Edilberto Reverdito.

Público quase 100% masculino senta também em mesa improvisada na calçada, para uma boa conversa.
Público quase 100% masculino senta também em mesa improvisada na calçada, para uma boa conversa.
O telhado da varanda, assim como a pintura, foram doações dos clientes.
O telhado da varanda, assim como a pintura, foram doações dos clientes.

Essa história começou há 100 anos, em 1908, quando o pai de Nelson Okama chegou de Okinawa para trabalhar na ferrovia, a bordo do navio Kasato Maru.

Em Campo Grande, passou a viver com a família no mesmo local onde está o bar hoje. “Aqui era uma chácara. Até o bairro chama-se Sol Nascente por causa dos japoneses”, lembra o filho.

Nelson trabalhou por muito tempo em vendas do Café Rincão, mas em 86 resolveu abrir uma mercearia. Com a construção de um supermercado ao lado, o antigo K-Fruta, o comércio minguou e o jeito foi transformar o lugar.

“Daí virei bar e os amigos gostaram, passaram a vir todos os dias. Com cada um doando um pouco, continuamos até hoje. A turma coopera”, comemora o proprietário que serve ao público masculino (quase exclusividade) cerveja, cachaça e uísque.

Na frente, uma estrutura revestida de azulejos brancos serve de mesa para quem quer ficar à mostra. Na varanda há uma churrasqueira e um passo depois o prédio é um galpão com os dois fogões na entrada, para quem quiser usar. “É só chegar e fazer a comida”, garante Nelson.

Um grande banner na parede não deixa ninguém esquecer o bicampeonato brasileiro em 2004 do Santos, time do dono do boteco e de 90% dos fregueses. “Mas não tem isso de time não, eu sou corintiano e vivo aqui”, contesta Adão Ramão.

Nelson, um senhor baixinho, de 1,60 metro, só escuta e conversa rindo e explica porque um lugar sem maiores atrativos tem uma clientela tão fiel: “É que aqui é a curva do rio”, brinca o proprietário.

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