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Comportamento

Há 70 anos no São Julião, "Gavião" comemora 107 anos de histórias

Luciana Brazil | 19/04/2012 20:40
José, o Gavião, conta as histórias e relembra cada fato com detalhes (Foto: Simão Nogueira)
José, o Gavião, conta as histórias e relembra cada fato com detalhes (Foto: Simão Nogueira)

No dia em que comemorou 107 anos, José Garcia continua sendo um exemplo de alegria e bom humor. Há 70 anos morando no Hospital São Julião, em Campo Grande, ele contou que é feliz e bem tratado. O idoso foi morar no hospital após descobrir que estava com hanseníase em 1941 e, desde então, ele continua no hospital. “Não tem ruindade aqui e todo mundo me trata bem”, afirmou com entusiasmo.

Conhecido como Gavião, pelo passado cheio de namoradas, José nasceu em Miranda, a 201 km de Campo Grande. Sem familiares que quisessem acolhê-lo, José preferiu continuar no hospital após descobrir a doença. Ele chegou a ser despejado pela família. A hanseníase deixou tristeza, além das mãos atrofiadas. “Nem no meu dinheiro queriam pegar com medo de contaminação”, contou.

Na época, a doença não tinha cura, como ressaltou o diretor administrativo do hospital, Amilton Alvarenga. “A cura e o tratamento só chegaram em 1986. Então todo mundo tinha preconceito”, lembrou.

“Eu estava engraxando o sapato de um médico quando ele reparou que minhas mãos estavam inchadas”, disse José, lembrando como descobriu a doença. “Eu não queria que minha patroa (chefe) soubesse da doença e pedi para ir até Miranda fazer o exame”. Depois de confirmada a hanseníase, José voltou para Capital para ser internado no São Julião.

Jóse mostra os ovos que come todos os dias de manhã. Segundo ele, essa é a fórmula para viver mais (Foto: Simão Nogueira)
Jóse mostra os ovos que come todos os dias de manhã. Segundo ele, essa é a fórmula para viver mais (Foto: Simão Nogueira)

Gavião foi o 6° paciente a ser cadastrado no hospital, e segundo os funcionários, a alegria e as piadas sempre foram constantes.

As histórias antigas, todas relembradas pela boa memória, foram traduzidas para equipe do Campo Grande News pelo auxiliar de enfermagem Mauro Sérgio Santos, já que José tem dificuldade de fala.

Dando risada, Gavião relembrou casos e animado contava todos eles, com riqueza de detalhes. “Eu fiz um boneco com lençol e coloquei embaixo do cobertor, na cama, e enganei a minha namorada e fui andar”.

Segundo José, a fórmula para uma longa vida são os dois ovos, crus, que ele toma toda manhã, além do café. “Ele é ótimo, está sempre de bom humor, além de muito lúcido”, frisou o diretor Amilton.

Na manhã de hoje, a ala em que José mora recebeu decoração especial para comemorar o aniversário de 107 anos de vida e história. O quarto foi decorado com faixas e, na entrada da ala, um arco cheio de balões lembrava que ali havia motivo para uma grande festa.

“Ele não aborrece ninguém. Tristeza não tem vez com ele”, contou Raimundo Lopes da Silva, 75 anos, que também mora no São Julião.

No fim da entrevista, José levantou da cadeira, e com ar de menino levado, demonstrou como ganhava a vida. Gesticulando, ele indicou que nos velhos tempos a roça e a lavoura eram o seu lugar. “Obrigado pela visita”, disse sorridente, depois de mostrar os ovos na geladeira.

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