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Comportamento

Miss que nasceu menino e virou menina nunca perdeu o apoio da família

Ângela Kempfer | 26/03/2012 11:21
Dani e a avó Olga.
Dani e a avó Olga.

É escancarado o amor que Danielle sente pela avó. A retribuição vem em dobro e sempre ao lado de um sorriso da dona Olga, de 82 anos. “Ela é linda, é minha neta linda”, repete a senhora de 26 netos, criada em Bela Vista, cidadezinha na fronteira com o Paraguai, de 23 mil habitantes.

Dani, de 31 anos, nasceu Daniel, mas a vontade a transformou em menina e, principalmente, artista. O tom de voz é baixo, a postura ereta, o sorriso sempre discreto, mas as roupas. “Adoro brilho, não tem como”, declara. É uma mulher na delicadeza, no apego as jóias e na vaidade.

Na casa da tia, em Campo Grande, Danielle aproveita férias curtas, depois de um tempo de realizações. Há quatro anos vive na Alemanha e desde 2009 vem recebendo coroas de Miss, como uma das transex mais bonitas do mundo. Em 2010 foi eleita a Miss Universo Transex, na França.

A vida não é diferente do que normalmente se sabe de uma transexual. Faz shows em boates, sempre com pouca roupa. Mas as apresentações são em Paris, Suíça, Hamburgo, Lisboa, Madri, Ibiza... pela Europa.

Na lista de amizades exibidas e comprovadas nas mídias sociais está a celebridade Lea T, modelo transex famosa pelos contratos com grifes internacionais. É um mundo bem distante do conhecido na infância, em Jardim, no interior de Mato Grosso do Sul.

Para chegar lá, teve sempre a força de dona Olga e dos parentes, apesar de algumas confusões. "um dia entrei em uma loja e a dona começou a elogiar a Dani e dizer que queria apresentar o neto dela, mas na saída eu, ao invés de chamar a Danielle disse: vamos Daniel. A mulher achou estranho", lembra a vó Olga.

“Eles nunca me reprovaram, nunca me condenaram. Minha avó sempre disse que era para eu fazer o que fosse preciso para ser feliz”, lembra a artista que também costuma chamar dona Olga de mãe. “Ela me criou, devo tudo que tenho hoje à ela”.

Dani também levou o 3º lugar no principal concurso Transex do mundo, na Indonésia.
Dani também levou o 3º lugar no principal concurso Transex do mundo, na Indonésia.
Miss que nasceu menino e virou menina nunca perdeu o apoio da família

Conheci Dani quando ainda era Daniel. Um rapaz magro, alto, que não deixava dúvidas sobre a homossexualidade, mas exibia uma delicadeza nos traços que as vezes levantava a dúvida: “É homem ou é mulher?”

Como maquiador da TV Educativa, hoje TV Brasil Pantanal, tirava risos de quem passava pelo camarim. Como colegas de empresa, acompanhamos parte da transformação de Dani. Primeiro colocou bumbum e por dias foi a sensação do almoço porque não sentava, tinha de almoçar ajoelhado. “Era muito engraçado, né?”, concorda Danielle sorrindo ao lembrar da infinidade de amigos que fez naquela época.

O maquiador queria mais e foi embora para Santa Catarina, depois para a Argentina e a Europa. “Ralei bastante, até me convidarem para ir para a Espanha. Só que era para eu receber 600 euros em um salão, mas chegando lá descobri que não era nada disso”, conta.

O salário caiu pela metade e no primeiro convite para Ibiza, lá se foi Dani. Nessa altura do campeonato já tinha seios, havia “resolvido” o gogó, afinado o nariz e feito uma raspagem na testa, para ganhar feições mais femininas.

“Foi uma loucura que fiz. Queria um cirurgião que eu deitasse e acordasse pronta. Ele fez isso, mas deixou uma cicatriz na minha testa que até hoje não posso ficar sem franja. Agora vou ter de fazer outra cirurgia”.

Na Alemanha, tem uma carreira consolidada em um dos cabarés de Hamburgo. Faz shows, casou, se separou e agora vai conhecer a mãe do novo namorado. “Casei de véu e grinalda, do jeito que eu sempre sonhei, mas não deu certo”, justifica.

No dia do casamento.
No dia do casamento.

Caseira, Dani pula alto quando falo sobre prostituição. “Porque sempre ligam o transexual à prostituição? Quem me conhece sabe da minha índole. Nunca tive de me prostituir para conseguir nada”, desabafa.

Na casa de evangélicos, religião da família, sobrinhos, primos e tios demonstram a fé até no estilo de roupa que vestem e no comprimento dos cabelos. Mas têm a admiração ao que Dani se transformou indicada pela forma como se comportam diante de Danielle, sempre muito sorridentes e atenciosos. “É uma lutadora”, diz a avó.

Hoje a única dúvida que ainda perturba a Miss Universo Transex (que no dia 25 passa a faixa para a sucessora em Paris) é a operação para acabar de vez com o órgão masculino. “Tenho muito receio porque acredito muito em Deus e na bíblia diz que é mutilação. Mas a minha avó falou comigo e me acalmou. Disse que Deus quer a minha felicidade, só isso. Mesmo assim, acho que pode ser um fardo que ele me deu e ainda não decidi se vou me libertar disso”, conclui.

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