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Comportamento

Quanto tempo dura a indignação em Campo Grande

Ângela Kempfer | 04/09/2012 09:14
No domingo, manifestação ocupou as ruas pedindo paz depois do assassinato de dois jovens, assaltados na saída de um bar de Campo Grande.
No domingo, manifestação ocupou as ruas pedindo paz depois do assassinato de dois jovens, assaltados na saída de um bar de Campo Grande.

O Lado B foi criado só para falar só de coisas boas, mas abri uma exceção por conta de uma curiosidade. Depois das últimas manifestações pela revolta com o assassinato de dois jovens em Campo Grande, resolvi investigar quanto tempo dura a indignação após uma tragédia.

No caso da menina Rayane, morta no dia 28 de fevereiro, no bairro Tarsila do Amaral, a revolta na cidade durou uma semana e meia, contabiliza a mãe Lilian Lucia de Amorim. Aos 6 anos, ela foi atropelada de propósito pelo traficante Magno Henrique Martin, quando ele tentava escapar da Polícia.

Logo depois da morte, pessoas procuraram a família para se solidarizar, pensaram em manifestações, falaram sobre a violência urbana e criticaram a Polícia, mas tudo se acalmou quando o assassino foi preso e a imprensa também diminuiu a cobertura sobre o assunto. “As pessoas esqueceram. Só quem é da família não consegue tirar a dor do coração e os pensamentos da cabeça”, lamenta a mãe que ainda espera pelo julgamento de Magno.

É efêmero, vem como um trovão e logo as pessoas voltam à rotina para só lembrar da violência quando um novo caso ocorre. Foi assim em maio, quando mais uma vez a cidade se levantou, mas contra Richard Ildivan Gomide Lima, 21 anos.

Embriagado, ele atropelou e matou Davi Del Vale, 31 anos, na madrugada, quando o segurança deixava o serviço no bar Miça e seguia para casa na avenida Afonso Pena.

“Um mês depois já tinha caído no esquecimento. Só espero que os juízes não tenham esquecido”, diz a viúva, Laís Mariane. O culpado está preso até hoje, o que para a família serve de “anestésico”. Mas a falta de uma mobilização permanente incomoda.

“É assim, acontece, depois passa e logo em seguida vem outro caso. Agora está todo mundo batendo em outra tecla, a dos meninos mortos”, comenta Laís sobre Breno e Leonardo, assassinados na última quinta-feira por assaltantes.

Para ela, a única forma de evitar os dramas é refletir todos os dias sobre o poder que um ato irresponsável tem de transformar a vida de famílias inteiras.

Mas Laís diz entender o motivo da indignação ter vida curta. “As pessoas nunca acham que vai acontecer com elas. Comigo foi assim. Quando deu 5 horas e meu marido não chegava, até pensei que poderia ser um assalto, mas nunca imaginei que ele estivesse morto”.

Em setembro do ano passado, protestos por Justiça no Caso Brunão já eram tarefa para poucos.
Em setembro do ano passado, protestos por Justiça no Caso Brunão já eram tarefa para poucos.

João Márcio Escobar, pai de segurança Jefferson Bruno Escobar, o Brunão, conseguiu manter os protestos depois do assassinato do filho por quase um ano, com manifestações mensais. Depois, a adesão começou a cair, passou a ser cada vez mais difícil mobilizar e agora só a família acompanha o caso.

O crime “durou mais” porque envolvia um rapaz rico da cidade, que chegou a ser preso, mas hoje está livre, a espera de julgamento, diz o pai de Brunão. “Meu filho morreu apanhando. As pessoas até lamentam, mas daí todo mundo volta a rotina e esquece. Não tem solução”.

Mesmo com um recorde em protestos, João reclama que de nada serviram, porque o responsável, Cristiano Luna, continua solto. “Não surtiu efeito no Judiciário. É uma derrota de todo mundo”.

Depois do crime - em março de 2011, ele criou uma fundação, ainda realizou alguns debates sobre a violência e novamente veio a decepção. “Pedi apoio de um parlamentar que vive falando da violência no programa de TV dele, mas ele não ajudou. Mesmo assim, trouxe por conta própria a deputada Keiko Ota, de São Paulo, para discutir a criminalidade aqui”, comenta.

Ele cobra a revisão do Código Penal e chama a atenção do eleitor. "É só nas eleições que a gente tem a chance de escolher pessoas comprometidas com o combate à violência", justifica.

Na sexta-feira, quando soube da morte de Leonardo e Breno, o pai de Brunão resolveu pesquisar no Campo Grande News e descobriu que de janeiro até agora 12 pessoas foram assassinadas em Campo Grande. “Assim, a gente vai desanimando”, conclui.

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