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Consumo

Vinda do Uruguai, árvore de 150 anos é vendida por R$ 35 mil no Vilas Boas

Oliveira está em Campo Grande desde de setembro do ano passado e custa o preço de um carro popular

Lucas Mamédio | 13/06/2020 07:10
Oliveira parece um bonsai, mas tem cerca de dois metros de altura (Foto Marcos Maluf)
Oliveira parece um bonsai, mas tem cerca de dois metros de altura (Foto Marcos Maluf)

Segundo a tabela da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, a famosa Tabela Fipe, existem mais de 100 opões de veículos com valor médio de R$ 35.000,00. Esse é, geralmente, o preço de carros populares no Brasil, em sua maioria seminovos.

Caso tenha esse valor em mãos, mas não precise de um carro, é possível destinar esse dinheiro para compra de uma única árvore em Campo Grande. Isso mesmo, uma árvore. O Lado B descobriu uma olea europaea, nome científico da oliveira, planta que produz azeitonas, que o dono diz ter mais de 150 anos, vendida por esse valor numa loja de paisagismo na Avenida Três Barras.

Segundo o proprietário da Vida Verde Paisagismo, Fernando Hormung, a árvore veio do Uruguai, região próxima ao Rio Grande do Sul, e chegou em setembro de 2019 em sua loja.

“Compramos essa árvore por ser uma coisa diferente de tudo que tem em Campo Grande”, diz o dono que já recebeu algumas sondagens, mas ainda não concretizou negócio.

O exemplar de Campo Grande veio do Urugua, mas as oliveiars não originárias do Oriente Médio (Foto: Marcos Maluf)
O exemplar de Campo Grande veio do Urugua, mas as oliveiars não originárias do Oriente Médio (Foto: Marcos Maluf)

A oliveira à venda tem cerca de dois metros de altura e não está plantada, fica num grande vaso de terra e pedra. Ela teve a copa podada por questões estéticas, e assim ficar parecendo um grande bonsai, um tipo de cultivo de árvores oriental em vasos, que é podada constantemente para manter o tamanho menor.

A oliveira em questão teve de ser transportada de pé sozinha numa carreta, diferente de outras árvores que viajam deitadas para otimizar o espaço. O cuidado na loja também tem que ser especial.

“Ela é uma planta que não aceita muita água, se regarmos demais ou com muita frequência, ela pode morrer. A poda também tem que ser mantida para ficar no formato ideal, então a manutenção é bem delicada também”, explica Fernando.

Segundo o biólogo e professor universitário José Milton Longo, os oliveiras são originárias do Oriente Médio e da Península Ibérica e foram trazidas para alguns países da América do Sul, inclusive Uruguai, por conta do clima ser parecido em algumas regiões.

“Os olivais da Espanha são muito famosos, lá o clima é propício. No geral, o Brasil é muito quente para o cultivo das oliveiras, mas o melhoramento genético tem ajudado nessa questão”.

As oliveiras demandam um cuidado especial, não podendo receber muita água (Foto: Marcos Maluf)
As oliveiras demandam um cuidado especial, não podendo receber muita água (Foto: Marcos Maluf)

O biólogo explica ainda que as oliveiras são árvores muito longevas, podendo passar dos milhares de anos, ela dá azeitonas uma vez por ano, no mês de setembro. “É uma espécie que, mesmo com essa modificação genética, demora 10 anos pra chegar no auge da sua produção, antigamente era quase 30. Os antigos brincavam que os pais plantavam para os filhos colherem”.

Muito mais do que a científica, a oliveira tem um significado religioso, aparecendo em várias passagens da Bíblia. São mais de 200 citações, sendo 150 referentes ao azeite, extrato da azeitona, e pouco mais de 50 das oliveiras diretamente.

Esse cálculo foi feito pelo professor coordenador do curso de teologia da Universidade Católica Dom Bosco, Adriano Stevaneli. Segundo ele, desde os primeiros capítulos da Bíblia é possível encontrar menções à oliveira, inclusive na Sagrada Escritura.

“Já no início no episódio do dilúvio, a pomba que traz um ramo novo de oliveira, é o sinal para Noé de que as águas baixaram e a humanidade pode retornar para à terra, um lugar seguro, ela reencontra um ponto de apoio. Já no Novo Testamento é o azeite que o samaritano derrama sobre as feridas do caído na estrada (Lc 15, 34), o óleo como unção que cura a humanidade ferida. De fato, a Oliveira é uma planta rica em significado teológico para cristãos e para Judeus, pois aparece em episódios muito significativos na Sagrada Escritura”

A oliveiras ou o azeite, produto derivado, aparecem mais de 200 vezes na Bíblia (Foto: Reprodução Bíblis Eletrônica)
A oliveiras ou o azeite, produto derivado, aparecem mais de 200 vezes na Bíblia (Foto: Reprodução Bíblis Eletrônica)

E quem não se recorda do Monte das Oliveiras, lugar onde se desenvolveram alguns dos momentos da vida de Jesus? “No Novo Testamento, o Monte das Oliveiras, preservado até os dias atuais em Jerusalém (em sua parte inferior hoje se encontra um cemitério judeu) era o lugar onde Jesus se retirava para ensinar os discípulos ou para poder rezar mais tranquilamente, longe da correria urbana da época, ali Jesus repousava, e ali viveu o momento da sua "agonia", em oração ao Pai. Também ali foi encontrado e preso após o "beijo de Judas", ensina professor Adriano.

E até hoje a liturgia católica, e cristã como um todo, ainda usa o azeite em algumas cerimônias, principalmente em alguns sacramentos da Igreja Católica. “Abençoado pelo bispo na quinta-feira Santa, ele é usado no Sacramento da Unção dos Enfermos, nas Ordenações (se unge as mãos dos padres e a cabeça dos Bispos, como acontecia com reis, profetas e sacerdotes) e com ele se unge o Cristão em sua fronte no Sacramento da Crisma. No Batismo, se utiliza o óleo da oliveira duas vezes: óleo dos catecúmenos, passado no peito antes de receber o batismo, e do crisma, passando na fronte do recém batizado”.

Para professor Adriano, que também é padre, as oliveiras “têm uma folhagem que quando exposta ao sol, dá a impressão de ser prateada, o que exercia atração nos tempos da Bíblia. Mais uma vez aparece a analogia com a vida do Cristão, refletir a luz divina. Por isso o Salmista afirma: Eu sou como a oliveira verde na Casa de Deus”.

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Os troncos foram cortados propositalmente por questões estéticas (Foto: Marcos Maluf)
Os troncos foram cortados propositalmente por questões estéticas (Foto: Marcos Maluf)
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