Rick Thibau mostrou que show de mágica também é feito para cegos
Espetáculo surpreendeu os alunos do Ismac e mostrou que o ilusionismo é para todos
Mágica para cegos? Quem achou que o ilusionismo era possível apenas para pessoas que enxergam normalmente se enganou. Com cartas em braille, mentalismo e telepatia, pessoas com deficiência visual ou baixa visão puderam, enfim, ter acesso a algo que parecia distante. Foi pensando justamente na acessibilidade de algo lúdico que o mágico Ricardo Gonçalves Thibau, conhecido como Rick Thibau, surpreendeu os alunos do Ismac (Instituto sul-mato-grossense para cegos).
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O mágico Rick Thibau apresentou o projeto "Mágica pra Cego Ver" no Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos (Ismac). O espetáculo, adaptado para pessoas com deficiência visual, utilizou cartas em braille, mentalismo e telepatia, proporcionando uma experiência inclusiva e inovadora. A iniciativa contou com a consultoria do ator e dramaturgo Nivaldo Oliveira dos Santos, que é cego e auxiliou na adaptação dos números, focando em elementos sensoriais como tato e audição. Thibau, conhecido por seu trabalho com mentalismo, explorou a intuição aguçada do público, realizando adivinhações de músicas e truques com baralhos adaptados. A apresentação foi elogiada pela plateia, que destacou a interação e a acessibilidade do espetáculo. Margarete Marques de Arruda, frequentadora com baixa visão, ressaltou a importância da iniciativa, permitindo que ela vivenciasse a mágica de forma inédita e significativa.
Ali, o truque não estava no que se vê, e sim no que se sente. O projeto "Mágica pra Cego Ver" desafiou o mentalista a criar um espetáculo que, apesar de ser focado na leitura de pensamentos, usasse outros caminhos para chegar até o público. A resposta veio com a ajuda do ator e dramaturgo cego Nivaldo Oliveira dos Santos.
“Tem poucas pessoas fazendo coisas parecidas no mundo. Foi bem mais desafiador do que eu tinha imaginado no início. Eu tive uma consultoria de um ator e dramaturgo que tem experiência em mágica e é cego. Ele foi me dando indicações do que seria mais interessantes”.
A ideia não é completamente nova para Rick. Em 2013, ele se apresentou no espetáculo chamado "Experimento Tirésias", onde atuava vendado. A peça foi inspirada em Tirésias, personagem da mitologia grega que, ao perder a visão, passou a "enxergar mais com os olhos de dentro". Essa mesma filosofia é o que guia "Mágica pra Cego Ver", segundo Rick.
O espetáculo, que aconteceu de terça a quinta-feira, contou com adivinhações de músicas, sugestões de números aleatórios que, no final, formaram o dia 11 de setembro de 2025 e truques com baralho.

“A pessoa cega aflora outros sentidos, inclusive a intuição. A recepção foi melhor do que eu imaginei. Presto muita atenção nas reações e estava ciente de que o ritmo da apresentação seria mais lento porque teria que dar um tempo para eles. O que eles mais gostaram, pelo que eu senti, foi a adivinhação das músicas que eu acho que a pessoa vai escolher. Na hora, ela dá play e confere. Dá pra ver o contágio da alegria neles”.
Apesar de ter usado o baralho para o projeto, o mágico não gosta de ser associado apenas ao ilusionismo com eles. Ele conta que, desde pequeno, se apaixonou pela mágica, que foi em vários programas de televisão e trabalha focando no mentalismo. Para quem não sabe o que é, se trata de uma forma de arte cênica focado em fenômenos paranormais, telepatia e cognição.
Na plateia, Nivaldo explica que, depois que perdeu a visão, nunca mais foi em shows de mágica, justamente por não serem acessíveis. Ele conta que foram dias de estudo para apresentar opções que fossem de fato compreendidas e aceitas pelos alunos. "O material do Rick é riquíssimo, mas nem tudo é possível para o deficiente visual acompanhar".
Ele atuou como consultor, ajudando Rick a selecionar os números que melhor se adaptariam. A mágica foi feita com baralhos em braille e truques que dependiam apenas da audição e da intuição.
“Perdi a visão há 20 anos, mas fiquei cego totalmente há 23. Quando era criança, eu estourei uma bombinha no rosto, extraí um olho e o outro ficou bastante problemático e, com o tempo, fui perdendo toda a visão. Eu nunca tinha visto isso. Eu lembro da mágica de quando eu enxergava ainda”.
Para o público, a experiência é única e reveladora. Margarete Marques de Arruda, de 54 anos, que tem baixa visão desde o nascimento, conta que nunca tinha visto um show de mágica ao vivo.
“Gostei do espetáculo porque foi realmente pensado na pessoa com deficiência visual, ele fez um trabalho muito bom. Para mim foi realmente um espetáculo, porque eu ouvia falar, eu ouvia mágica na televisão, mas eu não tinha noção. Aqui a gente tinha o poder de tocar nas cartas e nos objetos que ele usa para fazer a mágica. A interação foi muito boa”.
A iniciativa cultural inclusiva foi contemplada com investimentos da Lei Paulo Gustavo, do Governo Federal e MinC (Ministério da Cultura), por meio de edital da Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania) e FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul).
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