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Após 15 internações, João entendeu que não se vence depressão sozinho

Estudante conta que preconceito e vergonha fizeram com que buscar ajuda se tornasse mais difícil

Aletheya Alves | 19/05/2022 07:34
Relatório de internações e tatuagem são lembranças de trajetória. (Foto: Aletheya Alves)
Relatório de internações e tatuagem são lembranças de trajetória. (Foto: Aletheya Alves)

Entre setembro de 2019 e outubro de 2021, João Victor Paz Munhoz, de 23 anos, foi internado em uma clínica psiquiátrica por 15 vezes até entender que não conseguiria vencer a depressão sozinho. Hoje, seguindo com acompanhamento médico e com uma tatuagem para lembrar das superações, conta que finalmente está voltando a viver desde que entendeu as dificuldades e aceitou ajuda qualificada.

“Quando conto que já fui internado em clínica psiquiátrica, as pessoas ficam assustadas. É também por isso que acho que as pessoas não devem saber como esses locais funcionam.”

Introduzindo a conversa e o motivo por querer falar sobre suas experiências, o estudante de Direito narra que demorou a entender sobre como seguir seu próprio caminho. Isso porque, de acordo com ele, o preconceito e a vergonha formaram a base que o impediu de pedir por ajuda precocemente.

Hoje, para lembrar a si mesmo de tudo o que passou, tatuou uma cruz no braço esquerdo. Conforme ele explica, a fé em algo maior e em si mesmo são etapas que fizeram com que conseguisse continuar insistindo em sua melhora.

Antes de ser internado, João nem mesmo havia sido diagnosticado e só após uma crise depressiva é que o acompanhamento médico surgiu. Conforme ele explica, aceitar que sua tristeza poderia ser algo maior parecia não ser possível até por ouvir diversas vezes que aquilo era “frescura”.

Detalhando sobre sua trajetória até hoje, o estudante conta que apenas depois de insistir no tratamento, percebeu que traumas de toda a vida haviam o levado para os momentos mais difíceis.

“Em 2019, quando fui internado pela primeira vez no Nosso Lar, eu tentei suicídio. Fui levado para o hospital, recebi atendimento e lá começou a minha primeira batalha. Até esse momento, eu não sabia que tinha depressão.”

João relembra que, na época, havia terminado um relacionamento e perdido uma tia. Foi em meio a esse cenário que os hospitais começaram a fazer parte de sua rotina.

Pasta é cheia de declarações, laudos e atestados sobre período passado em hospitais. (Foto: Aletheya Alves)
Pasta é cheia de declarações, laudos e atestados sobre período passado em hospitais. (Foto: Aletheya Alves)

Após ser atendido no hospital por um médico, o jovem recebeu um encaminhamento para internação em clínica psiquiátrica e conta que naqueles dias, não conseguia aceitar que precisava desse tipo de ajuda. “Quando eu cheguei lá, eu chorava muito, porque não queria estar naquele lugar. Lembro de ver as pessoas e também pensar que todo mundo era doido, que eu não deveria estar lá”, relembra.

No primeiro mês, ele ficou internado por 20 dias e, sendo liberado pelos médicos, retornou para casa. Assim como a experiência inicial, as internações seguintes mantiveram períodos parecidos ou ainda menores.

Conforme o estudante explica, a alta quantidade de internações se justifica tanto pela dificuldade em seguir com o tratamento quanto pela vontade de estar em casa. “Chegou uma hora que vi que meu quadro não era apenas depressivo. Eu saía, voltava, vinha para casa e não conseguia ficar. Falava para minha mãe que não estava bem e retornava para a clínica”, diz.

Até estes momentos, seu diagnóstico não estava completo e, conforme ele detalha, apenas com tempo, paciência e ajuda médica é que as coisas começaram a fazer mais sentido. “Eu sofri um abuso na infância, mas não conseguia me abrir”, explica.

Após um tempo internado e tendo passado por médicos diferentes, o jovem conta que apenas dentro da clínica é que teve coragem de contar sobre sua história. Tendo relatado o que lembrava do abuso ao médico e, após passar por novas avaliações, foi diagnosticado com borderline, um transtorno mental caracterizado por comportamentos instáveis.

Desde então, uma nova rotina de acompanhamento psicológico e psiquiátrico foi instaurada em sua vida. Mais internações foram realizadas até que, em outubro de 2021, ele deu entrada em sua última estadia.

“Os remédios começaram a fazer um efeito melhor e eu entendi que poderia voltar a ter minha vida. Espero que aquela tenha sido minha última internação, mas sei que se precisar, vou retornar, porque lá é o local adequado.”

Atualmente, João segue retomando aos poucos alguns hábitos antigos e criando novos. Para ele, esse recomeço após as várias crises depressivas só foram possíveis devido à busca por ajuda. “Pensando na minha própria história, eu acredito que se as pessoas procurassem terapia, a vida seria melhor.”

Busca por ajuda - João foi internado em uma clínica psiquiátrica particular, mas a busca por ajuda pode ser feita através do SUS (Sistema Único de Saúde), em unidades de urgência e emergência. Além disso, os pacientes também podem procurar diretamente os Caps (Centro de Atendimento Psicossocial) - confira os endereços e contatos ao fim da matéria. 

Caso a pessoa não queira ir diretamente até uma unidade, o GAV (Grupo Amor Vida) possui um número 0800 com atendentes qualificados.

Através do 0800-750-5554, não é necessário se identificar e todas as informações são mantidas em sigilo. Isso porque o objetivo da instituição é ouvir pessoas que precisam desabafar, amenizando o sofrimento e buscando evitar que essas pessoas tirem suas vidas.

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