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Após escolas ficarem sem aula, mães se unem para ajudar "o tio da pipoca"

“Ninguém nunca tinha feito nada parecido por mim”, agradeceu Ailes, pipoqueiro há 25 anos

Danielle Errobidarte | 20/03/2020 06:47
Durante período em que aulas estão suspensas, carrinho de pipoca de Ailes perde a "alegria" da criançada. (Foto: Kísie Ainoã)
Durante período em que aulas estão suspensas, carrinho de pipoca de Ailes perde a "alegria" da criançada. (Foto: Kísie Ainoã)

Ailes Alves Ferreira tem 73 anos e há 25 vende pipoca na saída dos alunos de três colégios da Campo Grande. Em época de quarentena, quando a melhor prevenção contra o novo coronavírus é ficar em casa, parte do sustento da família de quatro filhos mais a esposa, com leucemia, veio das próprias mães dos alunos, clientes fiéis do pipoqueiro.

Ele era conhecido apenas como “o tio da pipoca”. Foi através de uma amiga, que o contratou para aniversário do filho, que Jocélia Ferreira da Silva, 44 anos, conseguiu o número do telefone de Ailes, que não possui WhatsApp. Ela, então, ligou para pedir a conta bancária, contando sobre a campanha realizada pelo grupo de cerca de 20 pais e mães de alunos. “Ele ficou meio desconfiado quando liguei, mas hoje pela manhã retornou, após algumas já terem contribuído, e nos agradeceu muito. Estava chorando e emocionado, disse que nunca ninguém tinha feito nada parecido por ele”.

Michella Corrêa, de 36 anos, é mãe do Arthur, de 5, que começou em 2020 o Ensino Fundamental I. Apesar de apenas três meses de contato, ela afirma que, no momento de precaução vivido pela chegada do vírus, conhecer ou não a pessoa ajudada é indiferente. “A crise vai ser para todo mundo. Se estivermos em casa mês que vem ainda e ele precisar, a gente ajuda de novo. Todas as crianças o conhecem, 10 para as 17h ele já está lá na frente, quatro dias por semana, estourando pipoca para nossos filhos comerem quentinha”.

Apesar de não saberem o nome do pipoqueiro até então, a confiança é a moeda de troca entre Ailes e os alunos, ainda que recém-chegados à escola. Aline Mendes, de 42 anos, tem dois filhos matriculados, do primeiro e sexto anos. Ela estima que gaste em torno de R$30 por semana no carrinho. “Cada pipoca custa R$5 e eu sempre compro duas. Quando algumas mães não têm o valor trocado, já vi diversas vezes ele vender fiado e falar para levar o dinheiro no outro dia. É um senhor, idoso, muito gentil e querido”.

O pipoqueiro se preocupa com a higienização das mãos e do carrinho em época de coronavírus, ainda mais por sua esposa ter leucemia. (Foto: Kísie Ainoã)
O pipoqueiro se preocupa com a higienização das mãos e do carrinho em época de coronavírus, ainda mais por sua esposa ter leucemia. (Foto: Kísie Ainoã)

História - Ailes começou a vender pipoca em frente aos colégios após sair da metalúrgica onde trabalhava, em São Paulo. Ao chegar na cidade morena, não encontrou emprego na profissão, e tentou vender espetinho e cachorro quente, mas foi na pipoca que conseguiu o complemento da renda vinda da aposentadoria.

“A melhor coisa que achei para vender foi a pipoca. É mais higiênico e também dá mais dinheiro. Vou para as escolas só depois das 16h e também só fico na saída. Já tentei no período da manhã, mas os pais não gostam de dar porque dizem que tira o almoço das crianças”.

A aposentadoria também consegue “segurar as pontas”, segundo ele, nos períodos de férias dos alunos, quando o carrinho fica parado. Com a ajuda de uma amiga, ele guarda o fiel companheiro na garagem da casa dela, que fica próxima aos três colégios, e segue todos os dias para esperar os alunos e estourar a pipoca.

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