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Durante 3 dias, grupos respiram capoeira e mostram algumas lições de união

Do grupo Camuanga de Angola, da Universidade Federal, mestres importantes da capoeira dão oficinas até domingo

Thaís Pimenta | 20/10/2018 08:14
Na roda, Mestre Jogo Dentro e Sinhá, mostrando que diversidade é regra na capoeira e que joga dos mais velhos às crianças .(foto: Kisie Ainoã)
Na roda, Mestre Jogo Dentro e Sinhá, mostrando que diversidade é regra na capoeira e que joga dos mais velhos às crianças .(foto: Kisie Ainoã)

A capoeira de Angola, mãe de todas as outras, ocupou ontem (19) o corredor central da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) com cerca de 30 jogadores. Organizado pelo grupo de extensão Camuanga de Angola, o evento "3 dias respirando capoeira Angola", responsável pela movimentação já está na 17ª edição. Com programação até domingo (21), essa história será festejada na UFMS, na Central de Economia Solidária e no bairro Aero Rancho.

Com o convite, pela primeira vez na história do evento, de uma mulher, a capoeirista de São Paulo, Erika, para ministrar uma oficina, esta edição consegue representar bem o momento atual que o grupo vive: respeito máximo aos que vieram antes e, ao mesmo tempo, sede pela igualdade de gêneros.

Mestre Pequeno no comando do berimbau. (foto: Kisie Ainoã)
Mestre Pequeno no comando do berimbau. (foto: Kisie Ainoã)
Pequeno, Alex e Fernando. (ACervo Pessoal)
Pequeno, Alex e Fernando. (ACervo Pessoal)

Capoeirista desde 1980, mestre Pequeno é José Leandro Leite, homem apaixonado pela força da resistência da capoeira. Até mesmo o nome do grupo dele foi escolhido como homenagem ao grande guerreiro Camuanga. "Ele foi um guerreiro do quilombo dos Palmares que esteve junto de Zumbi e manteve os trabalhos como seu sucessor", explica.

Em um trabalho também na periferia, no  Aero Rancho, com cerca de 42 crianças carentes, o Camuanguinha é um dos anexos ao grupo, que agora conta com a ajuda também dos alunos da UFMS. Inclusive, neste sábado a tarde o evento vai para o bairro, num intercâmbio de saberes e vivências da comunidade com os grandes mestres e convidados. "Nesse trabalho, tiramos crianças das ruas pela capoeira, é lindo de ver".

Os dois filhos, Alex Junior Lino de Araujo, de 22 anos, e Fernando Lino, de 20 anos, o acompanham desde os 4 aninhos. Sem hesitar, fazem questão de deixar claro que "nosso pai nunca nos obrigou a jogar. A gente faz porque gosta mesmo". Juntos, os três tocam o Camuanguinha na periferia e esperam expandir cada vez mais os dois grupos.

Roda contou com angoleiros convidados, angoleiros do grupo e de outros locais. (foto: Kisie Ainoã)
Roda contou com angoleiros convidados, angoleiros do grupo e de outros locais. (foto: Kisie Ainoã)

Sinhá é Sirlene, angoleira que veio direto de Londrina para reforçar o evento. "Conheci a capoeira no calçadão de Londrina, quando eu tinha meus 26 anos. Estudei por algum tempo e por conta da rotina parei de jogar", lembra ela.

Depois de muitos anos, quando o filho teve idade suficiente para jogar, ela voltou a praticar capoeira regional. "Eu influenciei ele, que por conta de mim foi praticar e eu tive um parceiro para me acompanhar. Hoje minha filha também joga comigo, ela está com 18 anos".

Aos 44 anos, o motivo de continuar jogando com a energia da mesma Sinhá de anos atrás, é justamente o incentivo que o jogo dá ao corpo. "Me mantem ativa, em equilíbrio, com força. Acredito que esteja aí, pra mim, a importância".

Eva Vilma faz parte da organização. (foto: Kisie Ainoã)
Eva Vilma faz parte da organização. (foto: Kisie Ainoã)

Eva Vilma Souza Barbosa tem 33 anos e, destes, 6 já são vividos ao lado da capoeira, tempo suficiente para notar que o machismo assola - inclusive - os jogos. "O que faz todo sentido porque, no início, só homens podiam jogar. Pra se ter noção, tinham mulheres que se travestiam de homens para poder entrar na roda", conta. 

"A gente nota esse machismo no tempo de jogo dado para as mulheres, que costuma ser menor que dos homens e temos uma versão à música que fala 'Salomé, Salomé, homem que é homem não bate em mulher', porque a gente ainda ouve ela mesmo quando, no jogo, o casal está equilibrado", pontua ela.

Para tentar reverter essa situação um manifesto foi dito ao fim do primeiro dia do evento, mostrando as mestras da capoeira e entoando "Mulher na roda não é pra enfeitar, mulher na roda é pra ensinar". 

A programação - O evento continua às 10h com oficina e roda de capoeira angola com Erika, na sede da Central Economia Solidária, no Centro. Às 14h com aula capoeira Angola com o mestre Jogo de Dentro na Rua Charlote, 2001. Às 16h é a vez do Mestre Plínio ministrar aula. Às 18h o Teatro Imaginário Maracangalha se apresenta e mais tarde é a vez da roda acontecer mais uma vez, com direito a roda de samba.

No domingo a programação acontece na rua Taumaturgo, 138, no Aero Rancho, com café da manhã às 8h, às 10h roda de Angola, às 11h30 samba de roda, almoço e, às 13h, confraternização. Para informações sobre valores acesse o link.

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