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A Bandai cria o WonderSwan em 1999 com os consagrados conceitos do Game Boy

Edson Godoy | 04/02/2016 12:22
A Bandai cria o WonderSwan em 1999 com os consagrados conceitos do Game Boy

No capítulo anterior de nosso especial História dos Videogames falamos sobre o Neo Geo Pocket e também sua segunda versão, o Neo Geo Pocket Color, dois consoles portáteis fabricados pela mítica SNK, na tentativa de conseguir abocanhar uma fatia considerável desse mercado que historicamente sempre foi dominado com ampla margem pela Nintendo. Como vimos, a SNK falhou em atingir esse objetivo, apesar de ter criado um console muito bom. Eis então que outra empresa japonesa resolve tentar a sorte nesse concorrido mercado: a Bandai.

A Bandai era uma companhia muito forte no Japão, com enorme tradição na produção de brinquedos, animes, séries e claro, videogames, tanto consoles (Playdia e Pippin foram algumas de suas aventuras nesse mundo), como jogos para os mais variados consoles. Por volta do início de 1997, a Bandai se aproxima da empresa Koto Laboratory, criada por Gunpei Yokoi, ninguém menos que o criador do Game Boy original. Ele também foi o criador do Virtual Boy e foi graças ao fracasso desse console que Yokoi decidiu sair da Nintendo para criar a Koto. Pensando no sucesso do primeiro Game Boy, a Bandai se junta à Koto para criar um novo console portátil, para bater de frente com a Nintendo.

O objetivo era criar um console que aproveitasse as mesmas ideias que fizeram o Game Boy se sobressair no mercado: preço, manejo eficiente de energia (mais jogo com menos pilha) e uma biblioteca forte de jogos disponíveis. Para isso, não existia ninguém melhor que Yokoi. E o resultado seria um console extremamente bem construído, que possuía todas essas qualidades ainda muito melhoradas em relação ao principal rival.

Lançado apenas no Japão em março de 1999, o console tinha um custo inferior a 50 dólares. Imagine um console lançamento com um preço desses? Além desse preço bastante convidativo, enquanto o Game Boy Pocket – última versão lançada do Game Boy clássico – rendia em torno de 20 horas de jogo com duas pilhas tipo “AAA”, o WonderSwan conseguia incríveis 40 horas de jogo com apenas uma pilha tipo “AA”. Além disso, o console era ambidestro, podendo ser utilizado tanto por canhotos como por destros sem qualquer desconforto, algo que o Atari Lynx já fazia em 1989, porém com um console extremamente grande e desajeitado para um portátil.

Para coroar todas essas características, o console possuía um moderno processador de 16 bit da NEC. Então o leitor se pergunta: como foi que esse console perdeu a batalha para o Game Boy? As explicações são muitas. A principal delas foi a sagacidade da Nintendo. Ela sabia que seu console apesar de vender muito bem, estava bastante defasado tecnologicamente. Por isso em 1998 ela lança o Game Boy Color, trazendo ao console as “cores” tão sonhadas por seus jogadores. Agora imagine: o console dominante recebe uma nova versão que traz uma característica extremamente aguardada pelos fãs e meses depois é lançado um concorrente que não tem essa mesma característica. O impacto em favor do portátil da Nintendo foi grande.

Ainda assim a Bandai apostava em seu console. Afinal, o Game Boy clássico derrotou aparelhos coloridos na época: o Atari Lynx e o SEGA Game Gear foram derrotados com folga. Além do mais, apesar de colorido e de ter várias modificações e upgrades em relação à sua versão clássica, o Game Boy Color ainda utilizava o processador Z-80, de tecnologia bastante antiga. Então mesmo não sendo colorido, o WonderSwan produziria jogos com melhor qualidade gráfica.

Outro fator preponderante para o fracasso do console: o fenômeno Pokemon, que dava ainda mais força aos consoles da linha Game Boy. No final de 1999 chegava ao mercado a versão do game para o Game Boy Color, fazendo um sucesso estrondoso. Além disso, a Nintendo angariava cada vez mais apoio das desenvolvedoras, que consequentemente produziam cada vez mais jogos para seus consoles.

Soma-se a isso o fato do WonderSwan ter ficado restrito ao mercado japonês, o que limitou e muito sua capacidade de vendas. É claro que as coisas não são tão simples assim. Para uma empresa conseguir comercializar seus produtos em larga escala em outras regiões do globo é necessário muito mais do que vontade. O próprio fracasso da SNK com a comercialização infrutífera nos Estados Unidos e na Europa do seu portátil Neo Geo Pocket Color pode ter sido uma das razões que afastaram a Bandai de se arriscar fora do Japão.

Percebendo que seu console não conseguiria fazer frente ao Game Boy Color em razão principalmente da falta de cores, a Bandai decide então lançar rapidamente o seu sucessor. Chega então ao mercado em dezembro de 2000 o WonderSwan Color, trazendo as mesmas características positivas da versão monocromática, mas com a grande vedete dos consoles portáteis da época: cores! O console era um pouco mais caro (algo em torno de 68 dólares), mas ainda assim era mais barato que o Game Boy Color.

Outro ponto que ajudava a Bandai eram os títulos de peso de softhouses externas, como a Square, com vários jogos da série Final Fantasy, e também da Capcom, com jogos da série Mega Man, dentre outras (incluindo vários jogos da Namco). Com tudo isso, a Bandai conseguiu assegurar 10% do mercado de portáteis. Uma façanha, considerando a força dos consoles Game Boy, mas ainda assim longe do necessário para que os consoles WonderSwan pudessem ser considerados como um sucesso. Mas em março de 2001, a Nintendo praticamente selou o destino do WonderSwan, com o lançamento do Game Boy Advance, mais moderno e mais potente que o console da Bandai, agora com um processador de 32bit.

Ainda seria feita mais uma tentativa de sobreviver no mercado. Em julho de 2002 chegava ao mercado o SwanCrystal. Apesar do nome diferente, o console utilizava os mesmos jogos da versão color. O que mudava era basicamente a qualidade superior da tela de LCD. Muito pouco para atrair a atenção daqueles que babavam na qualidade e nos jogos do Game Boy Advance.

Então já no começo de 2003 a Bandai resolve jogar a toalha e anuncia o fim da linha WonderSwan. Os três consoles somados venderam aproximadamente 3.5 milhões de unidades. Considerando que tudo isso ocorreu dentro do mercado japonês, um número razoável. Apesar do fracasso, o WonderSwan deixou uma boa impressão no mercado de videogames. Todos percebiam que os consoles da linha possuíam boa qualidade e o mesmo era dito em relação aos seus jogos. Talvez o “timing” do seu lançamento é que não tenha sido o ideal.

Falando em jogos, como o console foi comercializado apenas no Japão, boa parte de sua biblioteca é composta de jogos voltados àquele pública. Ou seja: muito RPG, jogo de estratégia e jogos interativos que necessitam da compreensão do japonês. Além disso, não poderiam faltar “zilhões” de jogos baseados em animes (boa parte de propriedade intelectual da própria Bandai e da Banpresto, uma de suas subsidiárias). Mas ainda assim era possível encontrar jogos que poderiam ser usufruídos pelo público ocidental, tais como Final Lap 2000 e Final Lap Special,Judgement Silversword (um ótimo shmup), Mr. Driller, Gunpey (nome dado em homenagem ao criador do console, falecido em 1997), Klonoa, Ghosts’n Goblins e vários outros. Confira ao final da matéria vídeos de alguns de seus jogos, rodando no hardware original.

No Brasil o WonderSwan passou batido da esmagadora maioria dos gamers. Dificilmente alguém por aqui trocaria a facilidade e popularidade do Game Boy Color e Advance pela novidade vinda do oriente.

Foi assim que a Nintendo solidificou ainda mais seu domínio no mercado de portáteis, que aliás dura até hoje. Terminamos mais um capítulo de nosso especial. No próximo falaremos sobre um dos consoles mais obscuros de todos os tempos: o VM Labs Nuon.

A coluna de games do Lado B tem o apoio da loja Press Start, aqui da nossa capital, localizada no Shopping Bosque dos Ipês.Não deixe também de visitar também o meu site, o Vídeo Game Data Base.




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