Capivaras avançam sobre áreas urbanas e acendem alerta de saúde em Campo Grande
Especialistas orientam manter distância e afirmam que animais atacam para se defender de ameaças
O ataque sofrido por uma psicóloga, mordida por uma capivara em uma praia de Florianópolis (SC), trouxe à tona o debate sobre a convivência com esses animais, presentes no cotidiano dos campo-grandenses em diversas regiões da Capital. O maior roedor do mundo vive em parques urbanos, margens de córregos, lagoas, canteiros centrais, áreas residenciais, universidades e até dentro de quintais.
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A presença de capivaras em áreas urbanas de Campo Grande tem gerado discussões sobre a convivência entre humanos e estes animais. Especialistas afirmam que, apesar da reprodução facilitada pela ausência de predadores naturais e abundância de recursos, não há superpopulação na cidade, exceto em áreas confinadas como a Base Aérea. Os principais riscos associados às capivaras são atropelamentos e a possível transmissão de doenças como a febre maculosa e leptospirose. Embora os animais sejam considerados dóceis, podem atacar quando se sentem ameaçados. Especialistas recomendam manter distância e evitar alimentá-los, ressaltando que a gestão pública adequada é fundamental para a coexistência harmoniosa.
Sem predadores naturais e com abundância de alimento e água, a espécie se reproduz com facilidade. Ainda assim, especialistas descartam a existência de superpopulação de capivaras em Campo Grande. O biólogo e doutor em ecologia e conservação José Milton Longo afirma que os animais estão dentro da capacidade de suporte do ambiente.
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“Uma superpopulação a gente pode encontrar na Base Aérea, mas lá elas estão confinadas. É uma área grande, com bastante oferta de alimento, e elas vão se reproduzindo. Inclusive, recebemos algumas solicitações de manejo das capivaras de lá para fazer translocação”, explica.
O médico-veterinário Lucas Azuaga compartilha do mesmo entendimento e destaca que o principal risco que as capivaras representam para a população está relacionado a atropelamentos. Segundo ele, trata-se de um animal dócil, que reage apenas quando se sente ameaçado ou tenta defender os filhotes.

“Se eu chegar perto dela, tentar me aproximar demais, pode ser que ela ataque. É uma reação de defesa. A recomendação é não se aproximar, observar de longe, tirar foto de longe e nunca tentar chegar perto”, orienta.
Longo avalia que o ataque registrado em Florianópolis ocorreu justamente pela proximidade da banhista com o animal, já que ambos nadavam no mesmo local. Ele alerta que as capivaras podem provocar ferimentos profundos devido aos dentes afiados. “São como navalhas e podem causar lesões severas, mas o ataque ocorre apenas em situação de defesa”, afirma.
A convivência cotidiana entre capivaras e moradores da Capital reforça a percepção de que os animais não representam riscos imediatos. A empresária Luciane Garcia, de 47 anos, costuma ver capivaras durante caminhadas no Parque das Nações Indígenas e no Parque dos Poderes. Segundo ela, os cuidados aumentam quando há crianças por perto. “Elas só atacam se a pessoa mexer. Com criança a gente tem mais receio, porque elas são curiosas e querem ver de perto”, relata.
A aposentada Vilma Aparecida Oliveira, de 74 anos, compartilha da mesma opinião. Ao caminhar com as netas de 9 e 7 anos no Parque das Nações Indígenas, ela afirma que a convivência sempre foi pacífica. “A não ser que elas sintam medo. Mesmo assim, nunca vi casos de ataque de capivara aqui em Campo Grande”, conta. Vilma diz que costuma observar os animais à distância e, por isso, não se preocupa com doenças.

O principal alerta envolve a febre maculosa brasileira, doença grave transmitida pelo carrapato-estrela. A capivara é considerada o principal hospedeiro e amplificador do ciclo da doença em áreas urbanas. Ao circular por parques e margens de lagoas, o animal pode espalhar carrapatos infectados, que atingem pessoas mesmo sem contato direto.
Outra preocupação é a leptospirose, transmitida pela urina em locais alagados, além de infecções bacterianas decorrentes de mordidas ou do contato com água contaminada.
Segundo Longo, a população de capivaras em Campo Grande é considerada saudável e não há registro de febre maculosa brasileira no município. Ainda assim, ele reforça que a melhor forma de prevenção é manter distância dos animais, já que são “reservatórios do carrapato que transmite a doença”.
“A gente tem muito a ganhar ao agregar valor cênico, biológico e turístico à cidade com a preservação de uma espécie tão importante como a capivara. No ambiente natural, ela é presa de grandes felinos e se autorregula. Aqui, o que vai regular o tamanho da população é a área disponível e a oferta de recursos”, explica.

O cozinheiro José Luiz dos Santos, de 61 anos, lembra que as capivaras já se espalharam por vários pontos da cidade. Ele diz vê-las com frequência próximo ao Córrego Lagoa, na Avenida Prefeito Lúdio Martins Coelho, quando retorna do trabalho.
“Tem muitas capivaras na cidade, também no Lago do Amor e perto dos córregos. Nunca tive medo. Sou da roça, acostumado a ver bicho”, comenta.
Na Capital, outro fator que influencia a presença das capivaras é a legislação ambiental, que limita ações emergenciais e exige planos técnicos específicos para remoção ou controle reprodutivo.
Biólogos e veterinários reforçam que alimentar capivaras, tentar tocá-las ou permitir cães soltos em áreas frequentadas pelos animais aumenta o risco de ataques e a disseminação de doenças. Mesmo assim, ainda é comum ver moradores se aproximando para fotos ou tratando os animais como atração turística urbana.
O caso de Santa Catarina serve como alerta: o problema não é a capivara, mas a ausência de gestão pública para lidar com a presença dela nas cidades.
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