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Meio Ambiente

Mato some com o avanço da agricultura e junto vão as guaviras de MS

Estoque da fruta reduz ano a ano e impacta na renda extra de quem colhe e vende durante temporada

Tainá Jara | 23/11/2020 15:48
Lucas Almada (de azul) colhe e vende a guavira no canteiro central de Sidrolândia (Foto: Lucimar Couto)
Lucas Almada (de azul) colhe e vende a guavira no canteiro central de Sidrolândia (Foto: Lucimar Couto)

Lucas Almada cresceu comendo guavira e hoje a fruta do  Cerrado é ganha pão em temporada de colheita. Aos 25, anos, ele e um grupo de amigos colhem a guavira em Bela Vista e depois vendem nas estradas da região de Sidrolândia, em Mato Grosso do Sul.

Mas o estoque em 2020 não é o mesmo de 2019 e nem perto do que foi em 2018. “A cada ano que passa, quando a gente volta para colher, tem menos pés. O dono da fazenda, que autoriza a gente entrar para catar, este ano passou máquina e derrubou a maioria para criar gado”, explica.

Da última viagem, eles voltaram com 22 caixas, depois de 2 dias de colheita, acampados no meio do mato. Em 2018 foram quase 40.  Agora, ele vende o litro da fruta a R$ 10,00. “Vendo 3 caixas e ganho R$ 320 por dia. A gente passa a maioria na Ceasa de Campo Grande e o que sobra vendemos na estrada”, diz.

Com a queda da área nativa de guavira no Estado, o medo é que os bicos como servente de pedreiro sejam a única alternativa de renda no futuro. “É muito decepcionante, porque faz parte da nossa vida a guavira e tá acabando”, reclama.

Caixa cheia de guavira, que serve de renda extra entre os meses de setembro e dezembro (Foto: Lucimar Couto)
Caixa cheia de guavira, que serve de renda extra entre os meses de setembro e dezembro (Foto: Lucimar Couto)

Dá no mato - De exploração extrativista, ou seja, coletada nas áreas onde surge espontaneamente, a guavira acaba sem chances de disputar espaço com a agricultura, embora seja encontrada de Norte e Sul do Estado.

De acordo com a pesquisadora da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), Ana Cristina Araújo Ajalla, apesar de não haver levantamento nesse sentido, as condições em que a fruta se desenvolve não é favorável nem mesmo entre os meses de setembro e dezembro, período específico de produção.

“Sendo a exploração de maneira extrativista a tendência é de que estas áreas sejam ocupadas com atividades agropecuárias típicas da região, levando a diminuição das áreas nativas de guavira”, explica a pesquisadora.

Ameaçado, o cultivo da guavira precisa ser estimulado para fazer sentido o título de fruta símbolo do Estado. Conforme a pesquisadora, além de ser uma opção de renda, a produção é alternativa para própria sobrevivência das espécies.

Em parceria com outras instituições, a Agraer desenvolve pesquisas sobre o cultivo da espécie. A pesquisa teve início em 2008 com a produção de mudas e hoje já estão disponíveis informações para o cultivo da fruta.

Em Campo Grande, fruta é comercializada também pela feira indígena, em frente ao Mercadão Municipal (Foto: Silas Lima)
Em Campo Grande, fruta é comercializada também pela feira indígena, em frente ao Mercadão Municipal (Foto: Silas Lima)

Agricultura familiar – Principal matéria-prima do Festival Cata Guavira, realizado há seis anos em Bonito, distante 265 quilômetros, a fruta precisa ter origem acertada para não faltar nos pratos oferecidos no evento.

De acordo com o chefe de cozinha, João Canto, o evento é focado em valorizar o produto, o produtor e o meio, o que, com os anos de festival, levou a organização a desenvolver parcerias para saber exatamente onde encontrar a fruta durante a temporada e, assim, mostrar todo potencial gastronômico da guavira.

“O canal é o pequeno produtor. Então, na verdade, a dificuldade das pessoas tem sido é ir atrás das fontes, porque estão acostumadas em fazer compras no Ceasa, no mercado e não dão acesso ao pequeno produtor”, explica.

Segundo ele, apoiando o extrativismo não violento é possível ter acesso a guavira e aos vários produtos oriundo dela.

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