Pela preservação, pesquisadores querem reconhecimento do nono aquífero em MS
Estudo aponta que o São Gabriel do Oeste tem características próprias e pode atualizar mapa de águas do Estado
Mato Grosso do Sul, que atualmente conta com oito sistemas aquíferos reconhecidos, pode ganhar o nono. Pesquisadores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) identificaram uma nova unidade hidrogeológica na região centro-norte do Estado, batizada de ASGO (Aquífero São Gabriel do Oeste).
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Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul identificaram uma nova unidade hidrogeológica na região centro-norte do Estado, denominada Aquífero São Gabriel do Oeste (ASGO). Com área estimada de 1.400 km², o sistema se estende principalmente pelo município de São Gabriel do Oeste e, em menor escala, por Bandeirantes e Rio Negro. O ASGO possui características distintas dos aquíferos Guarani e Bauru, apresentando água de alta pureza e rápida recarga devido à porosidade do solo. Com capacidade de produção média de 15 m³/h em poços tubulares rurais, o aquífero representa uma importante fonte de abastecimento para a região, embora sua vulnerabilidade à contaminação seja motivo de preocupação para os pesquisadores.
O sistema foi apresentado no XVII Simpósio de Geologia do Centro-Oeste, realizado em Brasília, no fim de setembro, e mostra que a região possui uma camada sedimentar com comportamento hidrogeológico distinto dos sistemas até então mapeados, o Guarani e o Bauru.
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“Os estudos demonstram que o ASGO atende a todos os parâmetros técnicos do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) para ser reconhecido como uma unidade independente”, afirma o geólogo Giancarlo Lastoria, doutor em Geociências e Meio Ambiente e professor titular aposentado da UFMS.

Reconhecimento - Para o pesquisador, o reconhecimento formal permitirá o monitoramento e a gestão mais adequada da água subterrânea da região. Por isso, o estudo será apresentado oficialmente à Frente Parlamentar de Recursos Hídricos, na Assembleia Legislativa, no dia 23 de outubro, às 14h.
A intenção é que o tema seja incluído na pauta do Conselho Estadual de Recursos Hídricos e, futuramente, possa subsidiar a atualização do Plano Estadual de Recursos Hídricos, em vigor desde 2010.
Liderado por Lastoria e pela professora e geóloga Sandra Gabas, o trabalho conta também com estudos do doutor Odirlei Newman e da mestra Juliana Casadei, ambos egressos do Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Ambientais da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia da UFMS.
Recarga rápida e água pura - Com uma área estimada em 1.400 km², o ASGO se estende principalmente pelo município de São Gabriel do Oeste e, em menor proporção, por Bandeirantes e Rio Negro. Trata-se de um aquífero livre, o que facilita a infiltração da água no solo e permite uma recarga rápida.
A análise também mostrou que a água é muito pura, com condutividade elétrica de cerca de 5 μS/cm, valor próximo ao da água da chuva.
Segundo o pesquisador, os poços tubulares rurais perfurados na região produzem, em média, 15 m³/h, tornando o aquífero a principal fonte de abastecimento para famílias, pequenas propriedades e agroindústrias locais. Estima-se que o ASGO represente 36% da área total do município de São Gabriel do Oeste.
Vulnerabilidade - Com tanta porosidade do solo, a preocupação dos pesquisadores é que, em caso de contaminação, o aquífero possa ser facilmente atingido. De acordo com Lastoria, a região tem agricultura intensa, com assentamentos rurais, suinocultura e avicultura.
Pesquisas anteriores realizadas pelo LASAC/UFMS (Laboratório de Águas Subterrâneas e Áreas Contaminadas) já haviam identificado a presença de metais pesados, como arsênio, selênio e chumbo, em amostras de água.
O grupo defende que o reconhecimento oficial do ASGO permitirá a criação de planos de monitoramento e de uso sustentável.
Contribuição - Com base na média de chuvas da região, que é de 1.635 milímetros por ano, estima-se que o Aquífero São Gabriel do Oeste tenha uma reserva renovável de aproximadamente 458 milhões de metros cúbicos de água por ano.
Pelas regras do Imasul, apenas 20% desse volume pode ser autorizado para uso. Atualmente, ele está incluído na reserva do Aquífero Guarani, mas, com o reconhecimento, o Estado poderá contar com mais uma reserva a ser utilizada.
Segundo o pesquisador, a individualização do ASGO não apenas reforça o conhecimento científico sobre os recursos subterrâneos do Estado, como também contribui diretamente para o manejo sustentável da água e para a definição de políticas públicas.
Histórico - Lastoria explica que a conclusão sobre a existência do Aquífero São Gabriel do Oeste vem após mais de dez anos de estudos que incluíram análises de 60 poços e de dados geofísicos da região do Chapadão de São Gabriel do Oeste.
Os levantamentos já resultaram em duas teses de doutorado, quatro dissertações de mestrado e diversos trabalhos de conclusão de curso.
Ao longo dos anos, foram realizados vários estudos do solo, combinando diferentes metodologias, como medições de condutividade da água, testes de infiltração, análises químicas e modelagem geológica, identificando padrões que não se encaixam.
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