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Política

Cinco deputados receberam doações de empresas autuadas pelo Ibama

Levantamento relaciona que 249 parlamentares do Brasil tiveram campanhas custeadas por empresas ou pessoas físicas autuadas por infrações ambientais ou prática de trabalho escravo

Humberto Marques | 30/01/2018 18:47
Dagoberto recebeu R$ 300 mil, via doações indiretas, de empresas autuadas pelo Ibama. (Foto: Divulgação)
Dagoberto recebeu R$ 300 mil, via doações indiretas, de empresas autuadas pelo Ibama. (Foto: Divulgação)

Pelo menos cinco dos oito deputados federais de Mato Grosso do Sul receberam recursos para sua campanha de empresas condenadas por práticas de trabalho escravo ou multadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis). Juntas, as doações perfizeram R$ 750 mil repassados de forma direta ou indireta –por meio, por exemplo, do partido político ou comitê eleitoral– nas campanhas eleitorais de 2014.

Os dados constam em levantamento realizado a partir de informações prestadas pelos parlamentares na última campanha eleitoral para o Congresso, tabulados pela agência Repórter Brasil no seu “Ruralômetro” –que também indica a postura do deputado em projetos de impacto socioambiental, avaliados por organizações que defendem causas ligadas ao meio ambiente, comunidades tradicionais e trabalhadores rurais.

A pesquisa foi divulgada nesta terça-feira (30) pela Repórter Brasil, sendo que os dados sobre os congressistas sul-mato-grossenses foram consultados no Ruralômetro pelo Campo Grande News. A agência destacou que, dos 513 deputados federais brasileiros, 249 receberam juntos R$ 58,9 milhões em doações oficiais de 92 empresas e 40 pessoas físicas que cometeram crimes ambientais (como desmatamento e queimadas) e acabaram multados pelo Ibama.

Tereza Cristina recebeu R$ 100 mil via doação direta de siderúrgica acusada de crime ambiental. (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)
Tereza Cristina recebeu R$ 100 mil via doação direta de siderúrgica acusada de crime ambiental. (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)

Doações – Na bancada federal de Mato Grosso do Sul, o maior número de doações vindas de autuados pelo Ibama foi destinado a Dagoberto Nogueira Filho (PDT): foram R$ 300 mil, sendo R$ 200 mil da Construtora Andrade Gutierrez S/A e R$ 100 mil da Construtora Queiroz Galvão. Nos dois casos, tratam-se de doações indiretas de grandes conglomerados nacionais que, somadas, corresponderam a 19% das receitas de campanha de Dagoberto.

A Andrade Gutierrez também figura entre doadora para as campanhas dos petistas Vander Loubet e Zeca do PT. O primeiro foi o parlamentar a obter mais recursos da construtora: R$ 201.075. Zeca, por sua vez, recebeu R$ 116.050. Os dois casos também envolveram doações indiretas aos então candidatos.

Tereza Cristina (DEM), que no Ruralômetro é a parlamentar com maior pontuação em relação a projetos contestados por entidades ligadas ao setor socioambiental, figura em quarto lugar nos valores recebidos para a campanha de doadores multados pelo Ibama. A parlamentar recebeu R$ 100 mil da Vetorial Siderurgia por meio de doação direta –uma das poucas registradas pelos candidatos eleitos.

Mandetta (DEM) declarou a menor doação direta vinda de uma pessoa nessas circunstâncias: foram R$ 5 mil recebidos do produtor rural Magno Martins Coelho –que faleceu em julho de 2016.

Vander recebeu doação direta de R$ 30 mil de construtora acusada de praticar trabalho escravo. (Foto: Divulgação)
Vander recebeu doação direta de R$ 30 mil de construtora acusada de praticar trabalho escravo. (Foto: Divulgação)

Trabalho escravo – Dentre os parlamentares sul-mato-grossenses, apenas um foi relacionado como recebedor de recursos de um condenado por trabalho escravo. Vander Loubet recebeu R$ 30 mil, via doação direta, da Tiisa Infraestrutura e Investimentos S/A, construtora com larga atuação em projetos ferroviários (atuando na construção da Norte-Sul, Transnordestina e linhas de trem e metrô na Grande São Paulo).

Conforme o Ruralômetro, Carlos Marun (MDB, licenciado do mandato para responder pela Secretaria de Governo da Presidência da República) e Geraldo Resende (PSDB) não receberam doações de multados pelo Ibama ou autuados por trabalho escravo.

Não há informações sobre Elizeu Dionizio (PSDB), que se tornou titular do mandato em 2017 após a renúncia de Márcio Monteiro (atual conselheiro do Tribunal de Contas), ou de Fábio Trad (PSD, suplente de Marun).

À reportagem, Dagoberto Nogueira disse não precisar a origem das doações –se do próprio PDT ou do PT, com quem o partido se coligou em 2014 em torno da campanha de Delcídio do Amaral. Segundo ele, a origem das doações indiretas só era divulgada após o processo eleitoral ser finalizado. “Só ficamos sabendo na prestação de contas, não havia nenhuma possibilidade de controlar isso”, afirmou o deputado.

A reportagem não conseguiu contatar os demais parlamentares para comentarem os dados da Repórter Brasil.

Cinco deputados receberam doações de empresas autuadas pelo Ibama
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