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Política

No comando do PRB, Banco Cidadão virou "instituição fantasma"

Banco para empreendedores não tem dinheiro para emprestar desde o fim de 2017

Aline dos Santos | 13/08/2018 09:59
Banco Cidadão está sem dinheiro para emprestar desde o fim de 2017. (Foto: Leomar Rosa – Sedhast)
Banco Cidadão está sem dinheiro para emprestar desde o fim de 2017. (Foto: Leomar Rosa – Sedhast)

O Banco Cidadão, instituição criada para emprestar dinheiro a juros baixos, é uma tema delicado na Funtrab/MS (Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul), que também guardava um emaranhado de relações familiares e com o PRB, partido do pastor Wilton Acosta, que saiu do comando do órgão público em abril para disputar as eleições.

No balcão de atendimento na sede da fundação, localizada na rua 13 de Maio, Centro de Campo Grande, a informação é de que o banco não funciona lá, mas na rua 15 de Novembro, em algum ponto da quadra entre as rua Pedro Celestino e Padre João Crippa.

Ao pedido de um contato, surge um telefone que só dá ocupado. Na sequência, são fornecidos à reportagem mais dois números de telefones fixos. Quando vem o alô do outro lado da linha, a primeira surpresa: a atendente assegura que o banco funciona no primeiro andar da Funtrab, na rua 13 de Maio.

Num dos cantos, do primeiro andar – acessado por escada porque o elevador não funciona -, sem nenhuma identificação visual do Banco Cidadão, a segunda surpresa: o banco não tem dinheiro para emprestar desde o fim de 2017. Já o endereço da rua 15 de Novembro é a sede da MIQ Quali Cred, que mantém uma estranha simetria com o serviço de microcrédito até então ofertado pelo banco público.

Enquanto que até às 11h da manhã de quinta-feira (dia 9), a reportagem não localizou na Funtrab nem o diretor-presidente nem o coordenador do Banco Cidadão, o destino foi o endereço da rua 15 de Novembro.

Apesar de ninguém saber informar, Banco Cidadão tem receptivo na sede da Funtrab.(Foto: Paulo Francis)
Apesar de ninguém saber informar, Banco Cidadão tem receptivo na sede da Funtrab.(Foto: Paulo Francis)

Na fachada do sobrado não há nenhum informativo do nome da empresa e nem da atividade ofertada. Já dentro do imóvel, a informação é de que ali funciona a Credi Quali, apresentada como uma Oscip (organização da sociedade civil de interesse público), mas sem relação com o Banco Cidadão.

Por e-mail, a direção informou ao Campo Grande News que “conforme registro histórico há mais de dez anos não existe parceria firmada com o poder publico nem Federal, Estadual e Municipal e não há registro de transferências de recursos públicos para essa Instituição”.

Contradição - No entanto, a informação se contradiz com o que é repassado pelo coordenador do Banco Cidadão, João José Sales Filho, em entrevista ao Campo Grande News, às 11h15, horário que chegou ao local de trabalho na quinta-feira. Segundo ele, a Credi Quali é a parceira no projeto e poderia informar a movimentação financeira e o total da inadimplência. Inclusive, indicou o endereço na 15 de Novembro.

O coordenador confirma que desde o fim de 2017 o banco não tem dinheiro para emprestar e afirma que essa situação acontece por falta de aporte de recurso pelo governo do Estado. “Foi suspenso por falta de fundo, está sem capital de giro. Vocês da imprensa, mais do que ninguém, sabem. A retração do comércio, tudo fechando, fez com que ocorresse a inadimplência, um caos econômico”, afirma.

A linha de crédito, quando funcionava, ofertava empréstimos de R$ 1 mil a R$ 10 mil. Segundo Sales, o valor mais requisitado era de R$ 3 mil, que atendia diversos empreendedores, como dono de lava jato, vendedor de frutas, costureira, revendedor de confecções.

Sales, que assumiu a coordenação do Banco Cidadão em abril de 2017, é servidor comissionado, ou seja ocupa cargo de confiança. Sobre o fato de não estar no local de trabalho quando a reportagem foi à Funtrab, ele disse que era uma agenda particular. Ele também é tesoureiro do PRB, mas não quis comentar a ligação com o partido.

Wultom comandou Funtrab com parentes e presença do seu partido, o PRB. (Foto: Helio de Freitas)
Wultom comandou Funtrab com parentes e presença do seu partido, o PRB. (Foto: Helio de Freitas)

Família e partido - Conforme consulta ao Portal da Transparência do governo de MS, Sales recebe pela SED (Secretaria Estadual de Educação) e Funtrab. Pela fundação, a remuneração é de R$ 2.505,38 por cargo de coordenador.

Antes de Sales, a coordenação do Banco Cidadão coube a Arlei Coleone, irmã de Wilton Acosta. Em 2017, nos meses de janeiro, fevereiro e março, Arlei Melo Acosta Coleone recebeu remuneração fixa entre R$ 3.595 e R$ 4.175 pelo cargo de coordenação na Funtrab. Em 2016, entre setembro e dezembro, a remuneração mensal foi de R$ 4.175,63.

A nomeação de Arlei na Funtrab data de 19 de agosto de 2016, com exoneração publicada em 10 de março de 2017. A reportagem entrou em contato com Arlei, que solicitou que as perguntas fossem enviadas por WhatsApp, mas não houve resposta.

A lista de funcionários da Funtrab também tem Valkiria Gomes Xavier, nora de Wilton Acosta. Ela aparece na lista de pagamento da Fundação do Trabalho entre 2015 e 2017, o cargo era gestor de processo, com remuneração de R$ 2.274 e vinculo de comissionado.

Na sexta-feira (dia 10), Anivaldo João da Silva Cardozo deixou o cargo de diretor-presidente da Funtrab. O PRB saiu do comando do órgão depois de decidir apoiar a candidatura do juiz aposentado Odilon de Oliveira (PDT) ao governo do Estado, um dos adversários do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que busca a reeleição. A reportagem não conseguiu contato com Wilton e Valkiria.

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