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Política

Professores de MS lotam Assembleia para defender liberdade de ensinar

Entidades defenderam professoras expostas em vídeos e atacadas por deputado

Cassia Modena e Jackeline Oliveira | 27/06/2023 13:00
Educadores levaram cartazes pedindo respeito (Foto: Marcos Maluf)
Educadores levaram cartazes pedindo respeito (Foto: Marcos Maluf)

O plenário da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul ficou lotado de professores na manhã desta terça-feira (27). Os educadores ocuparam o espaço para pedir respeito à liberdade profissional do ensino em sala de aula, assegurados pela Constituição Federal e pela LDB (Lei de Diretrizes Básicas da Educação).

Além de reforçarem aos deputados que a Carta Magna garante a chamada Liberdade de Cátedra – que garante ser livre ensinar, aprender, pesquisar e pensar nos ambientes acadêmicos  –, os professores e entidades sindicais presentes enfrentaram o deputado Rafael Tavares (PRTB) por ataques feitos contra a classe nos últimos dias.

É que o parlamentar divulgou vídeos feitos dentro de salas de aulas, onde uma professora explicava diferenças entre as definições de gênero biológico, e outra falava da extrema-direita brasileira.

Presidente da Fetems (Federação dos Trabalhadores da Educação de Mato Grosso do Sul), Jaime Teixeira afirma que são imagens encomendadas para "desvirtuar o papel do magistério" e transformadas em fake news por Tavares.

Presidente da Fetems, Jaime Teixeira (Foto: Marcos Maluf)
Presidente da Fetems, Jaime Teixeira (Foto: Marcos Maluf)

"O professor está exercendo o seu trabalho conforme a Liberdade de Cátedra e a LDB permitem, e o parlamentar fica nas redes sociais os atacando moralmente", afirma Teixeira. Ele cita que o deputado fez o mesmo com professores de Porto Murtinho e Aquidauana, antes de ser eleito ao cargo político.

Ainda na avaliação do presidente da Fetems, a publicação dos vídeos demonstra ignorância quanto às leis que respaldam o ensino e tem por trás tentativa de requentar o Projeto Escola sem Partido da extrema-direita, renomeado pelos professores como Lei da Mordaça.

"Foi arquivado em todas as Casas de Lei e ele tenta requentar. Isso chega num limite que tem preocupado o professor em sala de aula, que acaba intimidado de atuar conforme as leis permitem, com liberdade de ensinar. Queremos 'dar um chega'", pontua Teixeira.

Confusão - Uma das professoras que virou alvo do parlamentar do PRTB, Luciana Zambilo, foi à manifestação.

O que foi dito confunde opinião com ensino, começa a educadora. "Primeiro, eu gostaria de dizer que o deputado é muito equivocado quando ataca os professores, porque confunde opinião com aquilo que está disposto na legislação, que é função do professor dentro da sala de aula".

Luciana, uma das professoras expostas em vídeo (Foto: Marcos Maluf)
Luciana, uma das professoras expostas em vídeo (Foto: Marcos Maluf)

Como professora, ela explica que constantemente se depara com assuntos que criam embates com o grupo político do qual Tavares faz parte. "Quando nós fazemos emissão de opinião, nós deixamos claro aos alunos que é opinião. Ocorre que nós temos que tratar muitos assuntos, e alguns, infelizmente, acabam confrontando com as ideologias dessa bolha".

Ela questionou: "Nós vamos ter educação nesse País ou nós vamos ter que nos curvar a uma minoria que vive na bolha?", finaliza.

Papel principal - O presidente da ACP (Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação Pública), Gilvano Kunzler Bronzoni, também estava presente. Ele ressaltou que diante de cenário de estrutura insuficiente na educação pública, o professor acaba tendo papel principal.

Pediu que, em vez de ser tratado "com discurso pejorativo", seja mais valorizado e tenha reconhecido o direito de ensinar conforme a legislação, inclusive quando precisa tratar de temas transversais aos definidos pela LDB. "O professor é o culpado por tudo? Não, não, não. O professor é quem está assegurando e formando a população: criança, adolescente e até os adulto do EJA (Ensino para Jovens e Adultos), mesmo com toda falta de estrutura que tem a educação", sustenta.

Quanto à professora que aparece no outro vídeo citado pelo deputado, ele detalha que "simplesmente estava explicando alguns pontos do que estava num edital da Fundação de Esportes do Governo do Estado, sobre o que é ser cis ou trans", conforme o documento. Por fim, Gilvano defende que essas questões fazem parte de uma nova realidade social e precisam ser tratadas para a formação da sociedade.

Desinformação - Representante da classe na Assembleia, o deputado Pedro Kemp (PT) afirmou que os professores estão com medo de "desenvolver certos conteúdos porque têm alunos sendo orientados para gravar e denunciar os professores".

O deputado Pedro Kemp (Foto: Marcos Maluf)
O deputado Pedro Kemp (Foto: Marcos Maluf)

Além disso, afirma que há uma desinformação muito grande sobre o trabalho do professor. "O professor de História tem que desenvolver o conteúdo e é interpretado como se estivesse fazendo política. Mas a disciplina dele exige que fale de política, história, sociologia, da sociedade", exemplifica.

Outro lado - O deputado Rafael Tavares chamou os manifestantes de militantes políticos. "Eu não classifico nem como professores", afirmou. No vídeo abaixo, eles se manifestam contra o parlamentar.

Ele diz ser contrário à tentativa de alguns colocarem "posicionamento político que eles acreditam na cabeça dos filhos dos outros". Em sua defesa, afirmou que os pais dos estudantes "colocam seus filhos na escola não para aprender o que é ideologia de gênero, não para aprender o que é trans, o que é gênero, enfim, mas para aprender português, matemática, geografia, enfim", concluiu.

O deputado Rafael Tavares durante a manifestação (Foto: Marcos Maluf)
O deputado Rafael Tavares durante a manifestação (Foto: Marcos Maluf)


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