Riedel elogia Paraguai e Argentina por classificar PCC e CV como terroristas
Governador ainda criticou a "romantização" do crime e defendeu o combate com educação e inclusão
O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PP) elogiou o endurecimento das ações de Paraguai e Argentina contra o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho), após os dois países vizinhos passarem a classificar as facções brasileiras como grupos terroristas.
RESUMO
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O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, manifestou apoio à PEC da Segurança e defendeu o fim da politização do tema durante evento em Campo Grande. Após participar de encontro com governadores no Rio de Janeiro, onde uma operação policial resultou em 121 mortes, Riedel enfatizou a necessidade de integração entre União e estados no combate ao crime. O chefe do Executivo sul-mato-grossense elogiou a decisão do Paraguai e Argentina de classificar facções brasileiras como grupos terroristas, destacando que a medida fortalece o combate ao crime nas fronteiras. Riedel ressaltou que o estado realiza apreensões significativas de drogas e armas através do Departamento de Operações de Fronteira.
As declarações foram dadas durante a assinatura da ordem de serviço para a construção de um restaurante estudantil na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande. Na oportunidade, o governador comentou o encontro de governadores no Rio de Janeiro, realizado após a operação policial nos complexos da Penha e do Alemão, que resultou em 121 mortes, sendo quatro de policiais e 115 de pessoas classificadas como suspeitas.
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Riedel disse ter conversado no Rio com o governador Cláudio Castro (PL), secretário de segurança e o comandante da operação para entender o contexto da ação e refletir sobre os desafios da segurança pública em todo o país.
“Esse episódio da segurança pública é muito triste e lamentável que a gente tenha chegado a esse ponto. Foram mais de 120 pessoas, sendo 4 policiais, pessoas que reagiram à entrada, formaram uma barricada. É impressionante como o Estado está ausente de diversas comunidades. O governador Cláudio Castro decidiu retomar esses territórios, mas isso precisa vir junto com educação e oportunidade. Não basta uma ação isolada”, afirmou.
Ao comentar a situação nacional, Riedel disse que a segurança pública precisa de integração entre estados, União e forças policiais, e que o debate sobre o tema não deve ser politizado.
“A gente não pode politizar essa discussão. Ela virou palanque para 2026, de um lado e de outro. O que precisamos é discutir de forma prática. Temos um problema seríssimo de segurança pública no país. O mais importante é a capacidade das polícias e das inteligências se articularem em conjunto, com apoio da União”, afirmou.
Integração entre estados e União - O governador destacou que o problema da violência não está restrito a grandes capitais, como o Rio de Janeiro, mas se espalha para estados de fronteira como Mato Grosso do Sul.
“Ah, não, está muito distante, está lá no Rio. Não, está aqui dentro do Estado. Aqui está o Comando Vermelho, aqui está o PCC, aqui tem uma fronteira que é rota de ilícitos como drogas e armas. A conexão é direta”, disse.
Riedel afirmou ainda que o Presídio Federal de Campo Grande vem recebendo um número crescente de líderes de facções criminosas, o que aumenta a necessidade de articulação entre os órgãos de segurança pública.
PEC da Segurança - Em relação à PEC da Segurança, que prevê a constitucionalização de um sistema unificado de segurança pública e regras de cooperação entre os entes federativos, Riedel declarou não ver resistência à proposta e defendeu que ela pode fortalecer a articulação institucional.
“A PEC é um arcabouço legal. E o fato de ter integração na PEC é ótimo. Às vezes nem precisa da PEC para que isso ocorra. O que vai fazer com que isso funcione é a prática, o dia a dia. É a capacidade de sentar junto e integrar na prática as operações”, afirmou.
Segundo o governador, a proposta está sendo tratada de forma equivocada por setores políticos, e o debate acabou tomando contornos eleitorais.
“Você é de oposição, é contra a PEC. Você é de situação, é a favor da PEC. Não existe isso. A PEC é um instrumento elaborado no âmbito da segurança pública. Eu não tenho problema nenhum com ela. Se aprovar, não muda a nossa vida. Ela apenas constitucionaliza uma política pública que já pode ser feita com ou sem PEC”, declarou.
Riedel também mencionou que, além da PEC, há oito leis infraconstitucionais tramitando no Congresso Nacional que são “fundamentais para a ação conjunta de estados e União”.
Cerco internacional nas fronteiras - O governador ressaltou que o reforço das ações de segurança de Paraguai e Argentina, após a classificação do PCC e do Comando Vermelho como organizações terroristas, fortalece o combate ao crime organizado na fronteira sul-mato-grossense, uma das mais extensas e vulneráveis do país.
“Se eles decretaram, eles vão ter uma pressão maior sobre esses grupos. Então, eu acho que aumenta o cerco no Paraguai e na Argentina, sobre esses grupos. E isso é extremamente positivo para nós”, avaliou.
Riedel lembrou que o DOF (Departamento de Operações de Fronteira) realiza ações permanentes nos mais de 1.600 quilômetros de fronteira de Mato Grosso do Sul, por terra, rio e ar, com grandes resultados em apreensões.
“O DOF faz uma das maiores apreensões anuais de drogas do país, mais de 500 toneladas por ano, além de armas. E cerca de 34% da nossa população carcerária é composta por presos que não são do Mato Grosso do Sul. É o reflexo direto do trabalho intenso nas fronteiras”, disse.
Romantização do crime - Riedel também criticou o que classificou como “romantização” ou “politização” do crime organizado, ressaltando que o enfrentamento deve ser firme, mas aliado a políticas públicas. Segundo o governador, a atuação das facções assume diferentes formas conforme o Estado, em alguns casos ligada a milícias e tráfico de drogas, como no Rio de Janeiro, e em outros a atividades econômicas aparentemente legais, como em São Paulo, envolvendo combustíveis, apostas e comércio de veículos de luxo.
“O Rio de Janeiro talvez seja o caso mais extremo porque você tem território dentro da cidade onde o Estado não se faz presente, onde a concessão do serviço público é feita pela facção ou pelo terrorista. É o gás, transporte, internet, televisão, acesso a saúde, a locação da moradia. Quem comanda isso? É o crime organizado. Para onde vai esse recurso? Para o crime organizado. Alimentar droga, alimentar arma, oprimir muitas vezes uma comunidade”, apontou.
“Em São Paulo já é diferente, é negócio que está no combustível, que está na bet, que está na loja de carro de luxo, está em paralelo numa série de atividades legais, lavando dinheiro de droga, de contrabando, de jogo”, pontuou.
Segundo ele, combater as facções exige um conjunto de políticas públicas integradas, com educação, inclusão e geração de renda.
“Não tem como você apertar o cerco e não ter educação, não ter inclusão, não ter oportunidade de emprego e renda. É um conjunto de ações que leva à transformação. O enfrentamento tem que ser feito, mas sem perder de vista essas políticas”, acrescentou.
Cooperação - O governador citou o Consórcio Brasil Verde, do qual Mato Grosso do Sul participa junto com outros 13 estados, e o SUMASP (Consórcio de Segurança Pública do Sul e Sudeste), que reúne Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, como exemplos de cooperação interestadual que podem inspirar a atuação no setor de segurança.
“O consórcio serve para exercitar o que a legislação já permite. A PEC é o arcabouço legal; o consórcio é o exercício da prática. É isso que precisamos fazer: integrar, trocar informações e permitir que as polícias atuem juntas”, explicou.
Ao final, o governador reafirmou que segurança pública deve ser tratada como política de Estado, e não como disputa política ou partidária.
“Se a gente ficar romantizando ou politizando essa história, a gente perde o foco. Eu não entro nesse debate político, eu acho que a gente tem que sentar a mesa, governo federal e estados, e poder fazer um plano de integração”, concluiu.


