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Atropelamento ameaça o futuro de espécies icônicas da América Latina

Medrano-Vizcaíno, Clara Grilo e Manuela González-Suárez (*) | 22/03/2023 09:02

O futuro de preguiças, tamanduás e outros animais selvagens está em risco devido à construção de novas estradas em regiões importantes da América Latina. Nossa equipe de pesquisa, formada por especialistas em Ecologia da University of Reading (Reino Unido) e da Universidade Federal de Lavras (UFLA) mapeou como as colisões com veículos nas estradas da América Central e do Sul estão ameaçando a sobrevivência de espécies de aves e mamíferos. Em particular, descobrimos que a construção de novas estradas em regiões da Amazônia seria catastrófica para a biodiversidade.

Analisamos as taxas de atropelamento, características de vida, preferências de habitat e estado de conservação de 346 espécies de aves e 159 espécies de mamíferos na América Latina. Com base nesses dados, descobrimos que preguiças, tamanduás e uma variedade de pássaros são particularmente vulneráveis a riscos nas estradas em áreas tropicais da Amazônia, como oeste do Brasil, Peru e Colômbia. Nessas regiões, atualmente existem poucas estradas e nelas habitam muitas espécies vulneráveis.

Preguiças e tamanduás, pertencentes ao grupo de mamíferos Pilosa, são particularmente vulneráveis a atropelamentos nas estradas, com 80% de suas espécies relatadas como vítimas do tráfego de veículos, em comparação a apenas 8,5% para todos os mamíferos. Entre as aves, cucos, noitibós, urubus e pelicanos foram identificados como espécies com maior probabilidade de sofrer altas taxas de mortalidade nas rodovias. Sugerimos que essas aves e mamíferos recebam proteção especial para neutralizar esse impacto.

A expansão de estradas na América Latina continua em grande velocidade, mas isso pode ter um impacto desastroso para muitas espécies nesta parte do mundo. É sabido que o desmatamento na Amazônia tem impactos enormes sobre a biodiversidade, com novas estradas. Ele desempenha um papel importante no acesso a madeireiros legais e ilegais. Nossa pesquisa mostra que o tráfego rodoviário causa danos significativos a muitas espécies de aves e mamíferos, sendo as preguiças e tamanduás particularmente vulneráveis.

Com mais de 12.000 quilômetros de novas estradas planejadas para os próximos anos nesta região, precisamos pensar cuidadosamente sobre o impacto na vida selvagem, para que possamos tomar medidas de conservação para proteger espécies vulneráveis.

Milhões de aves e mamíferos já são mortos nas estradas da América Latina a cada ano, e mais morrerão à medida que mais estradas forem construídas. É importante entender o impacto cumulativo desse dano ecológico, para que esforços possam ser feitos para planejar futuras redes de estradas e esforços de conservação com antecedência. Caso contrário, nossas estradas podem se tornar cemitérios para espécies icônicas.

(*) Medrano-Vizcaíno é estudante de doutorado que liderou o estudo na Universidade de Reading.

(*) Clara Grilo é voautora da pesquisa e professora da Universidade Federal de Lavras (Brasil) e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Lisboa (Portugal).

(*) Manuela González-Suárez é coautora do estudo e Professora Associada de modelagem ecológica na Universidade de Reading (Reino Unido).

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