Brasil vive oportunidade de amadurecer combate à pobreza
A Gerando Falcões nasceu há 14 anos com o objetivo de acabar com a pobreza das favelas e periferias do país antes de o ser humano colonizar Marte.
Se o mundo é capaz de juntar recursos para empreender uma jornada espacial, me parecia óbvio que o Brasil, com seus mais de 200 milhões de habitantes criativos e batalhadores, tinha a obrigação moral de resolver um problema bem menos complexo: garantir que toda família possa viver com dignidade.
O sonho continua em aberto. Elon Musk ainda não colocou seus foguetes em Marte, e a pobreza continua firme e forte. O Brasil tem quase 60 milhões de pessoas vivendo na pobreza e 9 milhões em extrema pobreza. Nossas 12 mil favelas abrigam mais de 16 milhões de pessoas, quase 10% da população.
Ao longo dos anos, vi surgirem coisas que jamais poderia ter imaginado. Porém, o grau de ousadia e investimento necessários para criar maravilhas tecnológicas não parece ter sido aplicado à resolução dos problemas que afetam a base da pirâmide social.
Por isso a Gerando Falcões faz questão de aprender com as melhores experiências internacionais, mas também desenvolver e aprimorar tecnologias sociais próprias, capazes de enfrentar a pobreza no contexto brasileiro.
Programas bem-sucedidos como o Favela 3D – Digna, Digital e Desenvolvida nasceram a partir desse ímpeto inovador. Mais do que reurbanizar o território ou oferecer soluções emergenciais, pensamos em abrir trilhas de superação permanente da pobreza.
No programa Decolagem, famílias recebem mentorias individuais e trilhas personalizadas para que quebrem esse ciclo e atinjam a dignidade em até dois anos.
O acompanhamento é feito por uma metodologia própria que atua na geração de renda, moradia digna, acesso à saúde, educação, autonomia da mulher, primeira infância, cidadania e cultura de paz, cultura, esporte e lazer.
Essas ações, em sintonia com o poder público e também com a iniciativa privada, têm permitido quase erradicar a pobreza de um território.
Não se trata de projeção, mas de algo testado e comprovado. Na Favela Marte, em São José do Rio Preto (SP), palco do Favela 3D e do Decolagem, a renda das famílias cresceu, doenças ligadas à pobreza foram erradicadas, e 100% das crianças estão matriculadas nas creches. Passamos de uma taxa de desemprego superior a 70% para 95% das pessoas adultas ocupadas.
Esses resultados mostram o quanto podemos avançar com ousadia, criatividade e cooperação entre todos os atores sociais. Felizmente, os gestores públicos parecem estar finalmente entendendo o recado.
Há iniciativas em curso em todo o país que abordam a pobreza de um ponto de vista abrangente, encarando-a como problema multifatorial. O estado de Goiás, em parceria com a prefeitura de Goiânia, quer replicar o modelo do Favela 3D em suas comunidades.
O Programa Nossa Gente, do governo do Paraná, propõe articular as áreas de habitação, educação, saúde, empregabilidade e assistência social para oferecer às famílias alternativas mais sólidas de melhoria de vida.
Em São Paulo, o recém-anunciado programa estadual SuperAção SP também acerta ao apostar em trilhas personalizadas, com mentorias e bonificação para as famílias que melhorarem seus indicadores socioeconômicos. O modelo de gestão também é promissor, com um comitê que centraliza o comando das ações.
A sabedoria popular ensina que "na prática, a teoria é outra". O sucesso de todos esses programas dependerá da sua implementação. O que dá já para dizer é que avançamos na direção certa.
Nesses 14 anos, vi inúmeras políticas públicas produzirem resultados pífios porque abordaram a pobreza exclusivamente pelo ponto de vista da renda. A área social precisa de inovação, coragem e de uma visão mais holística do problema.
Uma década e meia depois daquele sonho que me levou a fundar uma ONG, mantenho o otimismo intacto porque vejo uma oportunidade promissora de enfim amadurecermos o jeito como se combate a pobreza em larga escala no Brasil.
(*) Edu Lyra, fundador e CEO da ONG Gerando Falcões
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