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Carta aberta à ‘Morena’, por Nelson Trad Filho

Por Nelson Trad Filho (*) | 29/08/2012 23:00
Em carta à cidade, prefeito fala da saudade do pai, o ex-deputado federal Nelson Trad.
Em carta à cidade, prefeito fala da saudade do pai, o ex-deputado federal Nelson Trad.

Morena do meu coração,

No último dos oito anos em que, na condição de prefeito, tenho sido ‘chefe de cerimônias’ das merecidas festas que celebram seu aniversário, escrevo-lhe esta carta emocionada – e como toda carta de amor, às vezes meio ridícula. Mas expressão genuína dos meus sentimentos.

Primeiro quero confessar-lhe que, nestes dias festivos, às vezes tento em vão disfarçar uma lágrima – não de tristeza ou nostalgia, mas de alento e alegria. Seja ao ver suas adolescentes ‘meninas morenas’ (de todas as raças, cores e crenças) sorrindo para o futuro na algazarra do pátio da escola, seja ao identificar nos olhos dos que já fizeram muito para que você seja hoje esta ‘Morena’ de tirar o fôlego, a serena certeza de que lhes será sempre grata e acolhedora.

Você bem sabe, Morena do meu coração, que, ao contrário dos homens, com o passar dos anos as cidades ficam cada vez mais jovens e belas. Aos 113 anos, você tem todos os dotes para se envaidecer de sua idade – e de nosso amor incondicional por você.

Conheço-a muito, mas sempre me deslumbro com as curvas ‘mansas’ das modernas avenidas que bordejam seus muitos córregos, acompanhando a sensualidade ondulante de sua geografia. Ou se contorcem, provocantes, na oferta de esporte, lazer e cultura, como a Via Morena,

E como é prazerosa, Morena do meu coração, a certeza de que a exuberante jovialidade de seus 113 anos recusa maquiagens. Bastam-lhe o adorno real dessa mágica fusão de buritizais, avenidas e espaços de lazer de seus parques lineares, e o ajuntamento edênico de araras e de humanos na celebração do verde que a toca e toma, despudoradamente.

Contudo, Morena do meu coração, mais do que nas suas deslumbrantes avenidas ou nas alamedas de bosques de ipês, prestes a explodir em profusão de cores; mais do que no seu estonteante pôr do sol a recortar uma arquitetura de sonhos, eu a vejo, minha Morena, generosa e solidária, no semblante dos milhares de trabalhadores que todos os dias fazem-na uma cidade mais próspera e bela; na alegria esfuziante de suas crianças invadindo as escolas e desbravando o amanhã; no entusiasmo sem-cerimônia de adolescentes e jovens que, nos bancos escolares e nos esportes, moldam o futuro e o seu lugar nele; eu a vejo ainda nos casais enamorados que a fazem mais faceira e linda, e nos passos tranquilos desses idosos que passeiam sua serenidade ao cair da tarde.

Eu a amo em todos e cada um de seus filhos, naturais ou adotivos.

Para finalizar, porém, um lamento e um desabafo – o único – antecipado.

O lamento: Dói muito não mais poder, pela impossibilidade absoluta que só a morte impõe, mostrar a meu pai o quanto você ficou mais jovem e acolhedora neste último ano. Por sete aniversários seguidos eu a exibi, com indisfarçável orgulho, ao olhar severo e sereno de alguém que antes de ser pai do prefeito era seu filho, Morena do meu coração. Ele iria gostar muito de vê-la hoje.

O desabafo: A única mágoa que guardo destes quase oito anos, minha Morena, se deve à persistência com que meus amigos (?) ‘peladeiros’ tentam ofuscar minha condição de craque, com o ‘argumento’ de que, por ser prefeito, só recebo passes açucarados dos companheiros, enquanto os adversários sempre me poupam.

Claro que nunca me passou pela cabeça renunciar para lhes provar o contrário. Eles que me aguardem.

No mais, Morena do meu coração, desculpe o ruim da ‘caligrafia’, como se ‘dizia’ antigamente, e feliz aniversário a você e a todos os campo-grandenses.

(*) Nelson Trad Filho é prefeito de Campo Grande.

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