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Colômbia em sua encruzilhada desenvolvimentista: eleições presidenciais de 2018

Por Isaías Albertin de Moraes e Paola Jaimes Santamaría | 14/04/2018 13:25

No próximo mês, a Colômbia realiza eleições presidências. Até agora, as pesquisas revelam que são duas visões opostas do desenvolvimento econômico com possibilidades de conquistar o poder executivo. Por um lado, há Iván Duque, senador da república e representante do Uribismo (movimento encabeçado pelo ex-Presidente Álvaro Uribe Vélez que defende um conservadorismo clássico na economia e na política) e por outro, há Gustavo Petro, ex-guerrilheiro do movimento M-19, ex-prefeito de Bogotá e senador.

Iván Duque, candidato pelo Partido Centro Democrático, é mestre em finanças e administração pública e lidera as pesquisas com 45,9% das intenções de votos. Duque foi consultor da Corporação Andina de Fomento (CAF), assessor no Ministério das Finanças durante o governo de Andrés Pastrana e pesquisador do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de 2001 a 2013, onde realizou importante estudo sobre a potencialidade da Economia Criativa para América Latina.

Apesar de ser senador atualmente, Duque nunca disputou uma eleição e nem ocupou um cargo de comando no executivo. Ele conquistou a vaga no senado em 2014 de forma indireta, por ter o nome indicado em uma lista fechada. A subida de Duque nas pesquisas demonstra a influência que Uribe possui no cenário político do país vizinho. Se no Brasil podemos falar de um Lulismo, na Colômbia há o Uribismo. Se o Lulismo aqui é identificado com políticas mais a esquerda, o Uribismo lá é a representação de políticas conservadoras e da ortodoxia convencional.

Caso Duque seja eleito presidente da Colômbia no dia 27 de maio, o modelo econômico adotado será abertamente neoliberal. A cartilha de Duque é apoiar o agronegócio, aumentando o crédito para os grandes produtores rurais e impulsionando o investimento estrangeiro por meio da intensificação das privatizações das empresas públicas e da flexibilização das leis trabalhistas.

Duque indicou, ainda, que pretende cortar impostos sobre os setores industriais. Para o candidato, o excesso de tributação desestimulou demasiadamente a produção industrial e aumentou a informalidade e o desemprego. No entanto, importantes economistas colombianos, como Salomón Kalmanovitz, afirmam que a informalidade e o desemprego nos grandes centros urbanos da Colômbia é fruto do desequilíbrio entre população e acumulação de capital em sua componente de demanda por emprego. Esse é resultado de um êxodo rural em virtude da concentração de terras que o país vem enfrentando.

Além disso, Duque é critico ao acordo de Paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). O acordo colocou fim com meio século de luta armada e rendeu o prêmio Nobel da Paz para o Presidente Juan Manuel Santos em 2016. Em relação à política externa, Duque, assim como Uribe, é defensor de estreitar relação com os EUA em detrimento com os países da América do Sul.

Petro, candidato do Movimento Colômbia Humana, representa, por sua vez, uma visão socialdemocrata e conta com 26,7% de intenção de votos. Petro é economista e possui especialização em meio ambiente e desenvolvimento populacional. Entre 2006 e 2010, Petro ganhou destaque no senado federal quando denunciou a parapolítica (políticos envolvidos com grupos paramilitares e que usavam do terror para se consolidarem no poder). É a segunda eleição para presidente que Petro disputa. Em 2010, alcançou 9,1% dos votos.

Em 2011, Petro elegeu-se como prefeito de Bogotá, maior cidade da Colômbia. Durante seu mandato na prefeitura de Bogotá, Petro adotou medidas ousadas, como a municipalização da coleta de lixo em um sistema que integrou cooperativas de reciclagens e de catadores. Antes a coleta de lixo estava nas mãos da iniciativa privada em um modelo de livre concorrência, porém a população não estava satisfeita com os serviços prestados.

Caso seja eleito presidente no próximo mês, Petro indicou que pretende adotar medidas destinadas a desconcentração de terra na Colômbia. Para o candidato, é necessário haver um aumento de produtividade agrícola no país por meio da redistribuição de terras e da adoção de medidas ambientalmente sustentáveis. Uma das propostas de Petro é aumentar o imposto sobre os latifúndios, forçando, assim, a venda das terras. A transformação da agricultura por meio de uma redistribuição de lotes, para o candidato, possibilitaria combater o desemprego, aumentaria a produção de alimentos, garantindo a segurança alimentar da população e diminuindo a pressão inflacionária, além de fornecer acumulação de capital para um processo de reindustrialização.

Petro, ademais, defende o uso de energia renovável e medidas de regulação urbana para impedir que as cidades cresçam de forma desorganizada. Em relação ao acordo com a FARC, Petro defende a paz e a consolidação da institucionalização do grupo guerrilheiro como partido político. Petro é mais crítico da relação Colômbia-EUA e apregoa maior aproximação do país com seus vizinhos da América do Sul.

Percebe-se que há uma polarização nas eleições colombianas entre um candidato representante da ortodoxia convencional e outro defensor de um modelo neodesenvolvimentista. A Colômbia, assim como o Brasil, vem sofrendo com o aumento do desemprego e da informalidade em virtude de ter enfrentado um processo de desindustrialização e de concentração fundiária. Combater a reprimarização produtiva da economia colombiana, apostando na redistribuição para o desenvolvimento é a meta de Petro. Por outro lado, explorar as vantagens comparativas – mineração, hidrocarbonetos e outras commodities – crendo na especialização produtiva e na força do próprio mercado é o plano de Duque.

O Uribismo vem sendo testado há décadas na Colômbia e tudo indica que tem grandes chances de ser o modelo vitorioso nestas eleições. O sucesso de Duque nas pesquisas se deve muito mais pelo marketing adotado por sua campanha do que pelo mérito das políticas neoliberais. A campanha eleitoral de Duque vem utilizando o medo para convencer a população de que o Uribismo continua sendo o melhor caminho. A principal arma para implementar o temor na população é afirmar que o modelo de Petro levaria a Colômbia ao mesmo destino que a Venezuela. A estratégia vem funcionando.

(*) Isaías Albertin de Moraes   é economista, doutorando em Ciências Sociais - Unesp/Araraquara. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES.

(*)Paola Jaimes Santamaría é economista. Mestre em Economia pela Universidad Nacional Autónoma de México.

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