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Cuidar da política para defender a democracia - este é o ponto!

Por Fábio Trad (*) | 30/12/2013 08:45

Desejo valorizar esta época propícia a balanços e prospecções para me atrever a breve e superficial avaliação sobre algumas questões cruciais que desafiam a sociedade contemporânea, como a flagrante precariedade dos estados nacionais.

Hoje, os vertiginosos fluxos contínuos de informação nas redes conectadas anulam não só distâncias e fronteiras, mas também o conceito de identidade individual e o senso de pertencimento comunitário – e, com isso, põem em questão o próprio futuro da democracia, tal como a conhecemos hoje.

Como observa, com notável propriedade, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, a feérica velocidade das transformações, a bordo de uma pós-modernidade legitimada pelo precário e o transitório, torna difícil falar em projeto de vida quando ela, a vida, se dá em episódios, e em uma sociedade cada vez mais individualizada. E individualista.

Dessa perspectiva, tem cada vez menos significado saber a que comunidade, a que movimento político ou mesmo a que nação se pertence, pois a questão da identidade, do pertencimento, se subordina cada vez mais aos “estilos de vida”, ao que é mais satisfatório para o indivíduo, o que lhe é mais atraente e tentador.

Não se trata aqui de uma divagação sociológica, que de resto seria deslocada a presunçosa.

Desejo, isto sim, apontar, sempre ancorado na lucidez de Bauman, que a fluidez dos estados nacionais e as referências cada vez mais flácidas de identidade, de individualidade, impõem a todos, especialmente a nós, políticos, vislumbrar novas formas, ainda que apenas nuançadas, pelas quais a democracia se manifestará em futuro breve.

Quando as conexões torrenciais e instantâneas, pela primeira vez na História, no dizer de Bauman, transformam “o mundo em um país”; quando cresce a distância entre poder e política; quando os estados nacionais não têm meios para honrar todas as promessas feitas a seus cidadãos e, por isso, subcontrata, delega atribuições que seriam suas, como ocorre hoje – então estamos, senão diante de um impasse iminente da democracia, pelo menos diante de grandes e inadiáveis questionamentos.

A democracia dispõe de seus próprios instrumentos e estratégias para se reinventar, para se transformar sem perder a sua essência.

E este parece ser o momento histórico em que a democracia deve empreender uma grande inflexão para responder às novas e exponenciais demandas de uma sociedade de fato planetária.

Portanto, não se pode qualificar de especulação extravagante o debate, ainda restrito aos círculos acadêmicos, sobre a chamada Democracia Global, que possa transcender aos estados-nação.

Chamar a atenção para a pertinência do debate em torno do futuro da democracia constitui o único objetivo dessa modesta reflexão.

(*) Fábio Trad é deputado federal pelo PMDB de Mato Grosso do Sul.

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