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Decisão

Por Francisco Habermann (*) | 29/01/2018 07:09

Fiquei impressionado com declaração de ilustre Procuradora de Justiça aposentada que confessou: “cansei de enxugar gelo”. Referia-se ela à interminável tarefa de conferir as legalidades e, invariavelmente, encontrar irregularidades, falcatruas, desvios, marcas de desonestidades e outras mazelas do procedimento humano diante das instituições governamentais. Não raro de complicadas consequências à sociedade. Na defesa do Estado, cumpriu suas tarefas honradamente, foi homenageada pelo trabalho brilhante realizado sob sua atuação profissional ilibada, mas não quis permanecer na ativa. Pediu sua merecida aposentadoria.

De volta à sua cidade natal, ocupou-se com atribuições voluntárias – como faz até hoje – dirigindo instituições de amplo alcance social e caritativo. Granjeia enorme prestigio social e significativo apoio da comunidade em seus projetos. Um exemplo de pessoa.

Por felicidade, conhecia-a desde sua juventude quando, já diplomada no curso chamado Normal, frequentava dois cursos simultâneos da época, o Clássico e o Científico. Aluna brilhante que sempre fora, atuou como professora enquanto se preparava para o ingresso em curso superior. Foi admitida na Faculdade de Direito da USP ( São Francisco ), na capital. Formou-se e fez brilhante carreira na Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo Estadual.

Um dia, resolvi convida-la para fazer uma palestra-homenagem aos formandos de um curso superior na área biológica. Fiquei entusiasmado quando aceitou o convite. Criou-se uma expectativa.

Salão ornamentado, Congregação da Instituição acadêmica presente, seus diretores à frente, professores e os formandos, todos engalanados. Após as formalidades cerimoniais, o dirigente máximo da solenidade convida-a para o pronunciamento tão esperado. Nestas ocasiões solenes, o expositor se dirige aos formandos. Trata-se de formal cumprimento pela conquista realizada e também a oportunidade de uma última recomendação, uma derradeira aula. Foi o que se seguiu. Do auditório, ouvia-se apenas o ruído da respiração quase suspensa do grupo de formandos. Todos de olhar fixo na oradora, mulher imponente, respeitada e muito simpática.

“Meus queridos e amados discípulos desta Instituição renomada”. Um sorriso se abriu no semblante dos formandos, delas e deles. Fui testemunha desta belíssima cena. E também da seguinte.

“Vocês, agora, têm um desafio na vida profissional. Deverão reavaliar o significado de seus títulos, diplomas, medalhas, atestados...” Ficaram todos muito sérios perante a surpresa do anúncio. Estava só começando.

E continuou: “Na vida, o que vale é o que produzimos com o coração, com os sentimentos, com amor, com a compaixão sincera, respeitada sempre a ética. Nada disso é representado com papeis, diplomas, metais, placas, riquezas acumuladas ou outras marcas materiais...” Disse muito mais, mas sua recomendação final marcou-me:

“A cor destas ações éticas que emanam do coração é a da honestidade. Jamais desbota”.

Seria bom que todo o Brasil assim entendesse, especialmente nesta semana decisória.

Obrigado, Doutora (ops... desculpa citar o título! ).

(*) Francisco Habermann é professor da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu. Contato: fhaber@uol.com.br. 

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