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Duas derrotas em casa e uma vitória da democracia

Por Levi Ceregato (*) | 18/08/2014 15:03

Em 1950, quando a Seleção Brasileira perdeu a final histórica da Copa do Mundo para o Uruguai, na tarde de 16 de julho, no Maracanã, realizaram-se, em 3 de outubro, eleições presidenciais, as segundas diretas e democráticas depois do regime de exceção do Estado Novo. Foi eleito Getúlio Vargas, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), com 48% dos votos válidos, seguido pelo brigadeiro Eduardo Gomes (União Democrática Nacional - UDN), com 29%, e o político mineiro Cristiano Machado (Partido Social Democrata - PSD), com 20%.

Sessenta e quatro anos depois, voltamos a realizar uma Copa do Mundo em nosso país. Pela segunda vez, perdemos em casa, naqueles doloridos sete a um contra a Alemanha, na tarde do silencioso Mineirão de 8 de julho. E, novamente, em outubro, elegeremos o presidente da República, na sétima eleição direta para o cargo depois do regime de exceção do governo militar.

As duas coincidências factuais não significam que os brasileiros sejam repetitivos nos equívocos de sua história e letárgicos no seu avanço socioeconômico. Em 1950, nossa população era de 52 milhões de habitantes. O PIB era de aproximadamente 93 bilhões de dólares e não figurávamos entre as economias protagonistas do Planeta. O voto era permitido apenas aos maiores de 18 anos. Mais grave: os analfabetos — que representavam metade dos habitantes à época — não tinham direito a votar.

Nesses 64 anos, o Brasil deixou de ser um país predominantemente rural e se tornou urbano. Desenvolvemos nossa indústria, transformamos nosso agronegócio em um dos mais avançados, assim como o setor de serviços e instituições financeiras. Hoje, outra coincidência de dados reflete a trajetória do País na segunda metade do Século 20 e primeiras duas décadas do 21: somos 200 milhões de habitantes, temos 200 milhões de cabeças de gado (segundo maior rebanho bovino do mundo) e safra de grãos em torno de 200 milhões de toneladas (uma das maiores). Nosso PIB, desde o maracanazo, saltou de 93 bilhões para 4,5 trilhões de dólares.

Refiro-me a todos esses dados comparativos para que, didaticamente, entendamos ser preciso não se intimidar ante as derrotas, manter e aprimorar o que está certo, sem nos acomodar jamais aos progressos obtidos, e ter a humildade e a grandeza de corrigir o que está errado. Para isto, nada melhor do uma eleição geral como que teremos este ano. É o momento de colocar os problemas na mesa de discussão, comprometer os candidatos com as reivindicações da sociedade e, ao longo dos mandatos, cobrar civicamente o cumprimento das propostas de campanha.

Em paralelo aos equívocos no futebol, que nos levaram a perder duas vezes a Copa do Mundo em casa, deixamos de fazer muitas lições importantes. Não soubemos, por exemplo, manter a democracia ressurgida em 1945, com as primeiras eleições presidenciais diretas depois do Estado Novo, nas quais foi eleito o presidente Eurico Gaspar Dutra. Se a tivéssemos conservado, estaríamos já há 69 anos num regime de liberdade política, cuja maturidade e perenidade são elementos importantes para o desenvolvimento.

Reconquistamos a democracia de modo pacífico, a partir das “Diretas Já”, em 1984, e a ratificamos na Constituição de 1988. Desde então, realizamos alguns feitos importantes na área dos direitos individuais e coletivos, na política e na economia. Nesta, dois marcos são a derrubada da inflação e o processo de desestatização e, depois, a inclusão socioeconômica de mais de 40 milhões de brasileiros. Tornamo-nos a sétima maior economia. E nossa principal virtude tem sido manter a democracia.

No entanto, seguimos cometendo alguns erros: não realizamos as reformas estruturais (tributária, previdenciária, trabalhista e política); não reduzimos a burocracia; não eliminamos a insegurança jurídica; não diminuímos a carga tributária e os juros; e não atendemos de modo adequado às prioridades da educação, saúde e segurança pública.
Eis aí a pauta programática para os deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente da República a serem eleitos em outubro. Concluídas as eleições, a grande vitória será a de democracia, na qual não há perdedores. Todos ganham quando votam com liberdade! Do resultado das urnas deve sair uma corrente nacional em favor dos desafios a serem vencidos, com o acompanhamento sério e atento da sociedade e a devida cobrança daqueles aos quais o povo outorgou o poder político.

(*) Levi Ceregato, empresário, bacharel em Direito e Administração, é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional).

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