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Eleições municipais: o que as empresas podem aprender com a política?

Por Marcos Morita (*) | 27/09/2012 08:40

As eleições municipais se aproximam e com elas as promessas de campanha de última hora, apregoadas por vereadores e prefeitos. Considerando-se uma média de cinco propostas por candidato e três oponentes por vaga, teríamos algo como 82.500 promessas, arredondando o número de prefeituras para 5.500. Caso alguém se dispusesse a catalogá-las, o que acredito seja pouco produtivo e provável, creio que seguiriam a lei de Pareto ou princípio 80-20, ou seja, 80% das propostas representariam 20% de efetividade, considerando-se um cenário bastante otimista.

Como morador da cidade de São Paulo, tenho acompanhado as propagandas dos partidos, as quais se concentram em jingles de mau gosto, parodiando hits musicais duvidosos e colocando em xeque a competência, experiência e promessas dos adversários, as quais, diga-se de passagem, soam ofensivas até para a inteligência dos menos preparados. Ladainhas como terminar com o trânsito, multiplicar as linhas de metrô, construir trens aéreos, diminuir ou extinguir impostos, reduzir o preço das passagens e acabar com as filas nos hospitais, coincidentemente ou não, estão sempre presentes a cada quatro anos.

Como consultor e especialista em estratégias empresariais, trabalho há tempos com o tema fixação de metas e gestão por resultados, introduzido na década de 50, pelo falecido guru Peter Drucker. A teoria, denominada como APO ou administração por objetivos, tem como premissas: identificar os problemas da organização, fixar prazos, definir responsáveis, alocar recursos e prover treinamento, acompanhando através de indicadores de desempenho as metas previamente acordadas entre superiores e subordinados. Em suma, algo bastante distante e bem mais sério que as metralhadoras de promessas que costumam invadir a telinha neste período.

Apesar da descrença e desânimo com o horário eleitoral e seus candidatos, admiro o trabalho realizado pelo MBC, Movimento Brasil Competitivo, fundado por empresários e liderado por Jorge Gerdau, cuja missão é levar as melhores práticas do setor privado para a esfera pública. O trabalho de consultoria, aplicado a estados tão diversos como Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, utilizam a APO como base, definindo metas, promovendo capacitação, alocando recursos e incentivos salariais aos funcionários públicos para que as possam cumpri-las. Os resultados já são visíveis, através de indicadores tais como redução de homicídios, atendimento de emergências em hospitais e qualidade de ensino.

Como em uma empresa privada, o trabalho de consultoria começa por uma análise criteriosa nas contas contábeis, cortando gastos e aumentando a arrecadação por meio de uma fiscalização mais efetiva com menor evasão de impostos, gerando maiores recursos para investimentos. Para serem efetivos, tais programas devem contar com o comprometimento e envolvimento da alta administração, o que na esfera pública se traduz em cargos executivos e de primeiro escalão: governadores, prefeitos e secretários.

Enfim, é difícil imaginar que com o nível eleitoral presente nas campanhas, assim como nas promessas vazias, haja algum comprometimento mais sério em implantar choques de gestão ou indicadores de desempenho. Quem sabe não fosse hora de um monitoramento mais efetivo, pedindo aos candidatos que apresentassem maneiras concretas de financiá-las e implantá-las, deixando o campo do sonho para a realidade. Aos novos ocupantes das cadeiras de prefeito, monitorar e cobrar as promessas de campanha, invertendo a lei de Pareto. Enfim, o Brasil e os ouvidos dos eleitores só teriam a ganhar com isso.

(*)Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

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