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Esperar pra que? O momento é agora

Por Ogg Ibrahim (*) | 10/01/2019 10:32

O ano velho chegou a fim e o novo já deu as caras. Apesar de já ter decorrido boa parte do mês de janeiro, ainda estou ouvindo as mesmas ladainhas de todo fim e começo de ano. São promessas do tipo “este ano vou emagrecer, parar de fumar, voltar pra academia, ser mais solidário, ser menos egoísta, trabalhar menos, trabalhar mais, me dedicar mais a isso ou aquilo”, blá, blá blá.

Jamais questiono o que as pessoas desejam para si próprias, mas me indigna que elas esperem uma “mudança de era”, uma data específica como a virada do ano, para fazer isso. Parece que basta o badalar da meia noite do dia 31 de dezembro para que suas vidas se transformem. E depois, alguns ainda aguardam o carnaval passar para efetivar estas mudanças. Existe sempre a falsa impressão de que tudo vai mudar, de que um novo tempo chegou. Tudo muito bonito, mas para mim não passa de mística barata.

Vejam só: na época do Natal parece que todo mundo se reveste do mais alto altruísmo e sai por ai distribuindo brinquedos ou cestas com produtos natalinos a quem encontrar na rua em situação de necessidade. E se sente bem com isso. Ótimo! Os mais necessitados realmente precisam dessa ajuda e esse tipo de ação, de uma certa forma, alivia a alma de quem a pratica.

Mas porque esperar o final do ano pra fazer isso? O problema é que muita gente acredita que basta uma simples e isolada atitude solidária para compensar um ano inteiro de boa vida. É a forma de “gratidão passageira” que se adota quando a época exige mais compaixão, mais amor ao próximo. E não deveria ser assim!

Sempre vejo a mudança de um ano para o outro como um dia qualquer festivo, tanto que não já procura mais com tanta vontade participar das grandes comemorações, festas de arromba ou eventos inesquecíveis. Para mim é um dia comum, como dormir hoje e acordar amanhã. Nada muda, a vida segue seu ritmo e não preciso elaborar listas do que fazer a partir de então.

Por isso atitudes de solidariedade, de altruísmo, de amor ao próximo ou a si mesmo não devem exigir uma época específica para serem colocadas em prática. Porque não fazer as mudanças desejadas imediatamente? Será que esperar uma data apropriada para essa prática a torna mais verdadeiras em termos de sentimento? É óbvio que não!

O que preenche o ser humano é a cordialidade do dia-a-dia, não a sazonal. Devemos ser gentis e gratos todos os dias e não apenas em uma data certa. Acho que não devemos esperar a Páscoa para refletir sobre nossa religiosidade ou o dia 07 de setembro para exercer civilidade e cidadania, por exemplo. Não há a necessidade de se esperar pelo Dia da Árvore (21 de setembro) para plantar uma semente, ou o Dia da Criança para presentear um órfão.

Dispensável também é celebrar o amor apenas no Dia dos Namorados, ou abraçar nossos pais e mães na data reservada para eles. Muita gente não percebe, mas muitas dessas datas foram criadas apenas para fazer o comércio vender mais presentes, panetones, flores, ovos de chocolate, joias e, principalmente, ilusões! O real sentimento que elas traduzem, na verdade, se perde em meio à euforia comercial que as cerca.

Por isso tudo, acredito que o exercício de humanidade deva ser diário, permanente e atemporal. Essa sim é a melhor forma de agradecimento por tudo àquilo que recebemos durante o ano todo. Da forma como vemos hoje, a satisfação é efêmera e aí acabamos naquele círculo vicioso da vida que é fazer o bem só quando as coisas vão mal.

Os atos de bondade não devem ser como as idas ao médico, que só as fazemos quando é extremamente necessário. Eles devem ser perenes! Não devemos esperar uma simples virada de ano ou o suposto recomeço de um novo tempo para fazermos aquilo que deveríamos ter feito todos os dias da nossa existência.

É desnecessário esperar uma medida cronológica para tomar decisões e fazermos aquilo que deve ser feito e, muito menos, esperar sentado que essas supostas transformações aconteçam. As mudanças só ocorrem em nossas vidas quando as buscamos, elas não partem de nenhum lugar que não seja de dentro de nós mesmos.

Então não quero esperar a virada para o próximo ano para dizer a vocês “Feliz Ano Novo”. Quero aproveitar essa reflexão para desejar a todos uma “Feliz Vida Longa!”, porque desejar “Feliz Ano Novo” ou “Feliz 2019” é querer que apenas um ano seja bom pra vocês! E eu desejo mais que isso.

Desejo que vocês meçam o passar do tempo registrado em sorrisos, em abraços dados, em olhares apaixonados… Que o relógio de cada um não marque horas, minutos e segundos, mas sim batimentos cardíacos que significam vida quando normais e felicidade quando acelerados.

Que o calendário passe a contar os dias através do número de vezes que ouvimos um “eu te amo” e quando o despertador tocar, uma voz suave nos diga “parabéns, que você tenha mais um dia feliz pela frente!”. Doe aquilo que você sabe que não pode e receberá o que nem imagina que mereça!

(*)  Ogg Ibrahim é jornalista, radialista e mestre de cerimônias.
oggibrahim.jornalista@gmail.com

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