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Fim do mundo

Rubem Penz (*) | 07/04/2012 14:56

Uma das maiores curiosidades nessa história de o mundo terminar em 2012 é o friozinho na barriga. Algo parecido com os instantes que antecedem o sorteio de um grande prêmio lotérico: as chances de dar tudo certo (ou, no caso da humanidade, tudo errado) são remotíssimas. Porém, lá estão os maias e mais outros profetas com seus trágicos bilhetes comprados. E bilhetes de profecias de caráter religiosas ou astronômicas sempre ganham a estatura de aposta alta. Mesmo no caso em que nada se tem a ganhar (e tudo a perder), ficamos com uma pulga atrás da orelha: um dia, alguém vai acertar. E se for agora?

O fato é que Nostradamus, astrônomos maias, celtas, hopis, egípcios e outros adivinhadores do destino da humanidade foram muito espertos: atiraram o fim dos tempos para bem longe (deles). Começa que, em muitos milhares de anos, 2012, 2092, 2112 ou 2812 se tornam aproximações plausíveis – errar por pouco é quase acertar. Por outro lado, ao marcar com precisão o dia, afirmando que o juízo final será em 21 de dezembro (nosso caso atual), tempera-se o palpite com verossimilhança imbatível. Ensinam os grandes mentirosos: capriche nos detalhes que tudo parecerá verdade! Burrice, burrice mesmo é dizer hoje que o mundo terminará amanhã – bastam 48 horas para você dever explicações.

Nas teorias conspiratórias que li em sites diversos, o que mais me instiga são os dados grandiloquentes: o que estaria por ocorrer agora, seja lá o que for, repete-se apenas de trinta em trinta milhões de anos, ou coisa assim. Vai ter uma visão macro assim lá na Cochinchina! Alinhamentos de planetas, explosões solares, corpos errantes, tudo concorrendo para o imponderável fenômeno que se repetirá em cataclismos.

A favor dos fatalistas está o caso dos dinossauros. Quem nos garante que, lá entre eles, não havia os maiassaurus pessimistae ou nostradamus estragaprazerorum avisando o fim dos tempos? Será que num futuro incerto (daqui a mais ou menos vinte e sete milhões de anos) um ser pensante de poucos centímetros encontrará meu esqueleto para fazer projeções de como seria esse nosso monstruoso reinando sobre a terra? Aí, espero que a computação gráfica me ajude para ficar com a cara do Brad Pitt...

Mas, entre prever o fim do mundo e prever que a previsão estará errada, ainda fico com a segunda opção. Primeiro, porque em meus parcos anos de vida já presenciei muitos enganos, sendo os mais espetaculares a recente virada do milênio e aquele período durante a passagem do cometa Halley – fenômeno astronômico mais mixuruca que já vi. Não que estivéssemos torcendo para que o cometa batesse em nosso solo, ou tirasse um fininho: só não precisava passar tão longe. Segundo, porque não adianta nada corroborar a tese do fim do mundo. Acertando, não se terá ninguém para compartilhar a vitória: “Viu, eu disse, viu, viu!”. Qual será a graça?

(*) Rubem Penz é escritor, publicitário e graduado em Educação Física pela ESEF/UFRGS

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