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Guerra civil

Por Onofre Ribeiro (*) | 28/11/2012 08:37

A sensação de guerra civil vem crescendo no Brasil, num viés paralelo entre três segmentos: o Estado através dos seus organismos ligados à segurança pública e à justiça, os comandos organizados pelos “generais” dentro do sistema prisional, e uma crescente construção de fileiras de indivíduos recrutadas aqui fora, a partir dos presídios.

Uma das definições de guerra civil é: “Diz-se guerra civil a um conflito armado entre facções, partidos ou grupos de um mesmo povo, ou ainda a que ocorre entre povos ou etnias habitantes de um mesmo país. (...) A guerra pode ter motivos religiosos, étnicos, ideológicos, econômicos ou territoriais”. No caso brasileiro é mais sério, porque toda a sociedade paga impostos que consomem dos cidadãos quatro meses de trabalho por ano, mas sentem-se inseguros ou desprotegidos por uma guerra civil entre facções do Estado e facções criminosas.

A origem da criminalidade urbana é recente. Começou depois de 1970 com a urbanização brasileira e a marginalização de enormes camadas de pessoas que vieram do meio rural para cidades que não se prepararam para receber os fluxos.

A favelização, a ausência de serviços essenciais de educação, de saneamento, de saúde pública, de transportes, de pavimentação das ruas, de legalização dos terrenos e o tratamento dos moradores como cidadãos de segunda classe.

Sem educação adequada formaram camadas de trabalhadores braçais ou de segunda linha.
Nesse ambiente proliferou a baixa auto-estima e a competição com os cidadãos de primeira classe. Perdedores desde o início, os jovens dos últimos dez anos nessa condição viram no crime a saída imediata para os seus anseios de competição pelo consumo de bens pessoais, com um simples tênis ou roupas de marca. Cooptados pelo chamado crime organizado, tudo o que está acontecendo são jogos de mercado fáceis de serem compreendidos.

Paralítico ou míope, o Estado preferiu lidar com essas situações com o discurso político de ganha-ganha unilateral, não indo além da exploração dos votos dessas imensas camadas urbanas, mediante promessas de soluções futuras. E se desculpando sempre com a falta de recursos públicos, como essas camadas sociais não pagassem impostos e fossem desvalidos sociais mais ou menos descartáveis.

Agora, no momento em que eles se organizaram politicamente e tem comando centralizado dentro dos presídios, protegidos pelo Estado e salvos de sanções legais, as fileiras de soldados cá fora dos presídios se multiplica progressivamente e já confronta o Estado, com suas velhas táticas. Hoje, prender já não significa nada. No lugar do preso surgem novos voluntários, porque os “generais” presos nos presídios estaduais ou nos de segurança máxima garantem às suas famílias, renda, proteção, armas, planos de ação e um status social.
Aí estão as raízes da atual guerra civil. Voltarei ao assunto.

(*)Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@terra.com.br

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