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Juizes em Berlim

Por Heitor Freire (*) | 17/09/2012 08:58

Há poucos dias recebi um e-mail da professora Maria Angela Mirault que retrata um episódio acontecido no século XVIII, imortalizado pelo escritor francês François Andriex, no conto “O Moleiro de Sans-Souci”:

“Frederico II, “O Grande”, rei da Prússia, um dos maiores exemplos de “déspota esclarecido”, exímio estrategista militar e ao mesmo tempo amante das artes, amigo de Voltaire, resolveu construir um palácio de verão em Potsdam, próximo a Berlim. O rei escolheu a encosta de uma colina, onde já se elevava um moinho de vento, o Moinho de Sans-Souci, e decidiu chamar seu palácio do mesmo modo (Sans-Souci significa “sem preocupação”).

Alguns anos depois, porém, o rei resolveu expandir seu castelo e, um dia, incomodado pelo moinho que o impedia de ampliar uma ala, decidiu comprá-lo, ao que o moleiro recusou, argumentando que não poderia vender sua casa, onde seu pai havia falecido e seus filhos haveriam de nascer. O rei insistiu, dizendo que, se quisesse, poderia simplesmente lhe tomar a propriedade. Nesse momento o moleiro teria dito a célebre frase: “Como se não houvesse juízes em Berlim!”

Pasmo com a ousada e certamente ingênua resposta, que indicaria a disposição do moleiro em litigar com o próprio rei na Justiça, Frederico II decidiu alterar seus planos, deixando o sujeito (e seu moinho) em paz”.

Belo exemplo de autoridade suprema como a de um rei que se submete à constatação do simples ato de respeitar a vontade de um súdito seu.

Hoje, aqui no Brasil, nós estamos também constatando que existem juízes em Brasília. A alegria que as decisões da Suprema Corte estão dando aos brasileiros ao apreciar os malfeitos do mensalão se irradiam por todo o país. Há um clima de euforia e de alívio que se sente em todos os lugares. As primeiras decisões já assinalam uma continuidade que, certamente, irá prosseguir por todo o julgamento. Que bom!

Vejo nessas sábias e justas decisões muito dos ensinamentos que emanam da natureza do bambu: a primeira verdade que o bambu nos ensina, e a mais importante, é a humildade diante dos problemas, das dificuldades. E aqui ressalto a humildade e a coragem do juiz relator Joaquim Barbosa que, em nenhum momento se deixou intimidar pela prepotência e pela pressão dos poderosos.

Segunda verdade: o bambu cria raízes profundas. É muito difícil arrancar um bambu, pois o que ele tem para cima ele tem para baixo também. Então ele verga, mas não quebra.

Terceira verdade: Você já viu um pé de bambu sozinho? Apenas quando é novo, mas antes de crescer ele permite que nasçam outros a seu lado. É o que se vê na constituição coletiva do Supremo.

A quarta verdade que o bambu nos ensina é não criar galhos. Como tem a meta no alto o bambu não se permite criar galhos.

A quinta verdade é que o bambu é cheio de “nós” (e não de eu’s). Como ele é oco, sabe que se crescesse sem nós seria muito fraco. Os nós são os problemas e as dificuldades que superamos. Os nós são as pessoas que nos ajudam, aqueles que estão próximos e acabam sendo força nos momentos difíceis.

A sexta verdade é que o bambu é oco, vazio de si mesmo. Enquanto não nos esvaziarmos de tudo aquilo que nos preenche, que rouba nosso tempo, que tira nossa paz, não seremos felizes. Ser oco significa estar pronto para ser cheio do Espírito Santo.

Por fim, a sétima lição que o bambu nos dá é exatamente a sua forma de ser: ele só cresce para o alto. Ele busca as coisas do Alto. Essa é a sua meta.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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