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No lugar certo, na hora certa

Por Roberto Hollanda (*) | 06/04/2012 08:21

Logo depois de sua criação, Mato Grosso do Sul enfrentava dificuldades para crescer e se solidificar como estado pujante. A dificuldade de acesso e também a falta de culturas agrícolas para o desenvolvimento da região foram impeditivas para seu crescimento. Nesse meio tempo, a pecuária era sua grande razão de existência. O investimento em pesquisa para culturas adaptadas ao clima quente e ao inverno seco estimulou a diversificação da produção. A agricultura foi ocupando parte das pastagens e por um longo período o binômio boi-soja dominou a economia de MS.

Diversos fatores, como a necessidade de uma pecuária mais competitiva e as oscilações dos preços das commodities agrícolas, fizeram com que esse binômio diminuísse sua força. Por consequência, os investimentos, principalmente na cria de gado e as exigências sanitárias para o comércio internacional, fizeram com que o produtor tivesse que investir na renovação de suas pastagens. Sem capital, uma parcela dos pecuaristas não injetou novos recursos. Os resultados foram áreas degradadas e baixa rentabilidade na produção.

Foi exatamente nesse cenário, somado a um plano de incentivo por parte do governo estadual, que a vinda das indústrias para o Estado ganhou fôlego. Em paralelo, no restante do Brasil, o renascimento do etanol e investimentos na fabricação de carros flex, transformaram o fôlego inicial em novos negócios, situação que contribuiu diretamente para a melhoria econômica e social para Mato Grosso do Sul.

Resultado disso é que cidades como Sonora, no norte do Estado, foram criadas a partir da chegada da indústria. Inclusive o nome do empreendimento foi adotado pelo município. A população da região, de uma maneira ou outra, tem envolvimento direto com a usina instalada, uma das primeiras a chegar a MS.

Depois disso, a chegada de novos empreendimentos do setor sucroenergético nos municípios como Rio Brilhante, Angélica e Nova Alvorada do Sul geraram mais que novos postos de trabalho; em quatro anos, estas cidades tiveram sua arrecadação aumentada em quase 2.000%. Algumas dessas localidades, com indústrias do setor, já contabilizam desemprego zero, e os novos investimentos, interiorizaram o desenvolvimento, antes restrito à Capital do MS, Campo Grande. O melhor disso tudo é que as indústrias e sua área de plantio não ameaçam a produção de alimentos e nem o meio ambiente. Ao contrário, o setor já aponta para mais um produto “verde”: a bioeletricidade.

A bioeletricidade se consolidou em 2011 como mais um produto das indústrias em MS. O estado entregou para o sistema interligado nacional 1.100 Giga Watts Hora. Essa quantidade equivale a duas vezes o consumo industrial e cerca de 80% do consumo residencial de MS. Em 2010, a eletricidade exportada foi de 660 GWh e em 2009, de 220 GWh. A capacidade instalada em Mato Grosso do Sul é de 830 MW, sendo 590 MW para consumo da própria usina e 240 MW excedente.

O Estado é hoje um exemplo de potencial de viabilidade e resultados, que passou de 14 milhões de toneladas moídas de cana para 34 mi t, com capacidade para quase 74 mi t. Ou seja, ainda há possibilidade de expansão para o setor, mas são necessários investimentos tanto públicos quanto privados.

O setor, como qualquer outro que depende do clima, é influenciado pelo temperamento de São Pedro. Estocar em época de maior produção é imprescindível, principalmente para períodos como passamos na última safra. Choveu quando não era para chover, fez seca em períodos úmidos e para finalizar, geada. Mas não é só isso. É difícil competir com um produto como a gasolina que tem subsídios e isenções por parte do governo. Não defendo que esses benefícios sejam retirados do produto. Afinal, quem sofrerá com essas sanções certamente é o consumidor. Defendo um tratamento igualitário para um produto que é brasileiro e faz do País um especialista em produção sustentável de energia.

Um desafio ainda que é inerente no País é encurtar as distâncias. O problema logístico é entrave para todos os setores, não só para o sucroenergético. O tamanho continental talvez seja uma das principais dificuldades. Mas deixar passar a chance de nos tornarmos uma potência no setor energético é uma estupidez sem precedentes e justificativas.

Depender das rodovias, no caso da cana, é impor custos adicionais a um produto que poderia ser mais barato ao consumidor. Nem é preciso citar a questão tributária, que traria benefícios não só econômicos, como já citei anteriormente ambientais e sociais.

Minimizar esses problemas não é difícil para o Poder Público. Como garantia, o compromisso do setor sucroenergético com a solução desses entraves é continuar produzindo tanto para o Brasil quanto para o resto do planeta um combustível limpo, compromissado com a redução de carbono e suficiente para todos o brasileiros e para o mercado externo.

A vantagem é que ainda podemos crescer. Mato Grosso do Sul, por exemplo, ainda tem 84% de suas pastagens degradadas. São áreas improdutivas, onde é possível diversificar. Trazer cana, florestas e cultivo de outros alimentos. Fora isso, a solução é que cada um faça a sua parte. O governo que vista a camisa canarinho e invista, e o setor sucroenergético, que continue fazendo sua parte, trabalhando e produzindo.

(*)Roberto Hollanda é presidente da Biosul – Associação de Produtores de Bioenergia de MS

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