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O que me faz querer ter “aquele copo” ou “aquele relógio”

Por Cristiane Lang (*) | 05/11/2024 07:54

Você já se viu diante de um objeto e, sem motivo aparente, sentiu um desejo quase irresistível de tê-lo? Pode ser aquele copo com design elegante, um relógio minimalista ou um par de tênis com um toque diferente. Esse desejo de possuir algo específico transcende a simples funcionalidade do objeto. O que nos leva a querer coisas que, muitas vezes, não precisamos? Por que alguns itens parecem ter um valor simbólico maior do que outros?

A Influência do significado e da identidade

Os objetos carregam significados e, por vezes, se tornam extensões da nossa identidade. Aqueles produtos que escolhemos dizem algo sobre quem somos, sobre nossos valores, gostos e aspirações. Quando nos interessamos por um determinado copo ou relógio, há uma conexão que vai além do material. Podemos nos ver naquele objeto, ou podemos projetar nele uma ideia de quem gostaríamos de ser.

Isso é amplamente utilizado pelas marcas e pela publicidade, que frequentemente não vendem apenas produtos, mas estilos de vida e sentimentos. A compra de um objeto pode nos aproximar de um ideal, de uma imagem de sucesso, conforto, autenticidade ou sofisticação que desejamos incorporar.

A nostalgia e o valor emocional

Outro motivo que nos leva a querer objetos específicos é o valor emocional que atribuímos a eles. Talvez “aquele copo” remeta à infância, a um momento de descontração ou a uma lembrança de uma pessoa querida. Da mesma forma, um relógio pode simbolizar um rito de passagem, uma conquista ou uma marca do tempo.

Os objetos têm o poder de capturar e cristalizar memórias, tornando-se âncoras de momentos e sentimentos. Por isso, muitas vezes, desejamos possuir não apenas o objeto em si, mas aquilo que ele representa emocionalmente para nós.

Exclusividade e o poder da raridade

A exclusividade também é um fator poderoso. Desejamos o que é raro ou único porque, em um mundo de consumo em massa, o que se destaca se torna valioso. Isso não significa que os objetos mais caros sejam sempre os mais desejados, mas sim aqueles que possuem algo que os diferencia, seja pelo design, pela história ou pela narrativa construída em torno deles.

Esse desejo é muitas vezes reforçado pelo marketing de escassez, onde produtos são lançados em edições limitadas ou com designs exclusivos. A ideia de que “não é para todos” cria uma sensação de privilégio ao possuir o item, alimentando o desejo por sua singularidade.

Status e reconhecimento social

Em muitos casos, o desejo por um objeto é motivado por um senso de pertencimento ou por um desejo de reconhecimento social. A posse de certos objetos pode sinalizar sucesso, bom gosto ou uma conexão com um grupo específico. Um relógio clássico, por exemplo, pode ser visto como um sinal de sofisticação, enquanto um copo de uma marca icônica pode indicar uma apreciação pelo design e pelo estilo.

Esse tipo de desejo está intrinsecamente ligado à nossa necessidade de aceitação e validação dentro de círculos sociais. Mesmo que o objeto em si não tenha grande valor para nós individualmente, seu significado dentro de um contexto maior pode ser extremamente poderoso.

O design e a estética atraente

Além dos fatores emocionais e sociais, há também uma atração puramente estética. Certos objetos nos cativam pelo design, pela harmonia das formas, pelas cores ou pela textura. A beleza pode ser um motivo forte o suficiente para querer um item, especialmente em uma sociedade onde somos constantemente estimulados visualmente.

Quando algo desperta uma sensação de prazer visual, somos instintivamente atraídos por ele, mesmo que não haja uma necessidade prática associada.

O desejo por “aquele copo” ou “aquele relógio” não é apenas uma busca por um objeto físico, mas sim uma tentativa de preencher necessidades emocionais, sociais e estéticas. Esses itens carregam histórias, memórias, identidades e status, e, de certo modo, representam partes de quem somos ou de quem queremos ser.

Queremos o que nos conecta, o que nos diferencia, o que nos faz sentir algo ou nos permite expressar algo ao mundo. No fim, não é sobre o copo ou o relógio em si, mas sobre o que eles representam para nós.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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