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Os valores dos jovens

Por Luiz Gonzaga Bertelli (*) | 28/08/2011 07:00

Nas décadas de 1960 e 1970, ser jovem significava estar engajado em causas políticas. Idealistas, moças e rapazes se espelhavam em músicos e intelectuais para defender bandeiras como a paz e a democracia.

No entanto, as duas décadas seguintes foram marcadas por uma espécie de apagão ideológico: a juventude ficou sem heróis e sem grandes objetivos na vida, além de vencer a duras penas a grave recessão econômica que se abatia sobre os países.

No Brasil, uma das raras exceções que confirmava a regra foi o lampejo cívico da geração dos Caras Pintadas – estudantes dos ensinos médio e superior que no início da década de 90 foram às ruas para pedir o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.

Os anos 2000 chegam e a internet revoluciona o comportamento da juventude. O impacto dessa tecnologia na construção de valores somente pôde ser medida uma década depois.

Em meados de julho, a WMcCann divulgou a pesquisa A Verdade sobre a juventude global, um estudo realizado com sete mil pessoas entre 16 e 30 anos em sete países (Reino Unido, Estados Unidos, Espanha, China, Índia, Brasil e México).

São três os principais conceitos que motivam pensamentos e atitudes dos jovens, hoje: autenticidade (a necessidade de ver as coisas como elas realmente são), justiça (a necessidade de igualdade social ou pessoal, de fazer o que é certo e ser um ativista) e compartilhamento (a necessidade de conexão, relacionamentos e comunidade).

Se por um lado, é sensível o impacto das redes sociais na forma de pensar, por outro é curioso ver que certos ideais são imutáveis. A justiça, um dos princípios mais básicos da humanidade, não saiu de moda mesmo entre jovens que abririam mão do sentido olfativo, mas não da tecnologia – e isso foi também constatado na pesquisa.

Os políticos devem redobrar a atenção às suas condutas, pois a resposta aos desvios diariamente noticiados pelos jornais deverá vir nas próximas eleições. As informações correm como nunca, a autenticidade dos dados é conferida minuto a minuto, e um deslize, compartilhado a círculos de amigos que novamente compartilham para seus contatos, criando uma onda devastadoramente higienizadora.

A Lei da Ficha Limpa, por exemplo, nasceu desse movimento cidadão possibilitado pela tecnologia da informação. Há até mesmo um site (www.fichalimpa.org.br) com um cadastro voluntário e positivo de candidatos que nunca foram condenados em processos legais e que se comprometem com a transparência de sua campanha eleitoral. A lista, entretanto, ainda está magra, com meros 77 nomes

A falta de heróis e de ídolos ainda é uma constante ao fim da primeira década do século 21, mas como nunca existe nos jovens a disposição de tomar as rédeas da história tornando-se protagonistas das transformações. Meios para isso não faltam: os injustos que se cuidem.

(*) Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Fiesp.

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