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Pedaladas de Dilma na comunicação

Por Vivian Rio Stella (*) | 11/05/2016 13:41

Em cursos e palestras, é comum me perguntarem sobre a forma como a presidente Dilma Rousseff se comunica. Isso de deve aos incontáveis memes e vídeos de discursos em que a presidente profere frases mal formuladas ou incoerentes, especialmente quando retiradas do contexto.

O alerta que faço é que frases mal formuladas em discursos podem arranhar a imagem de quem as profere, mas o grande comprometimento da credibilidade e da liderança decorre de falhas na estratégia de comunicação. Mais do que perder o fio da meada em pronunciamentos em público, Dilma pecou ao adotar estratégias comunicativas não condizentes com o que se espera de uma líder.

Na literatura e nos cases de líderes bem sucedidos, há dois elementos associados ao sucesso no exercício da liderança que nos ajudam a entender o caso de Dilma. O primeiro é a agenda repleta de eventos comunicativos (reuniões, discursos, entrevistas coletivas, vídeos para redes sociais, etc.); o segundo é o diálogo com os mais diferentes públicos (políticos aliados e da oposição; imprensa, movimentos sociais, população em geral, etc).

Por meio de uma infinidade de eventos comunicativos e do diálogo aberto, é possível criar engajamento e nortear as ações dos liderados, negociar e chegar a acordos e, consequentemente, consolidar uma imagem de credibilidade e transparência.

Dilma acabou cometendo três falhas relacionadas à comunicação, com consequências graves para o exercício da liderança, justamente por não utilizar esses elementos como norteadores de suas práticas como chefe de Estado.

1) Em 2015, quando a crise econômica e política ganhava corpo e evidência, nas campanhas publicitárias do governo e nos pronunciamentos da presidente em público, o discurso era bastante controlado, pautado por benfeitorias e por promessas. Essa linha de argumentação não respondia às críticas ao governo e não condizia com problemas que a população já começava a enfrentar.

2) Com o aumento das críticas e o agravamento da crise econômica e política, a presidente passou a negar a existência de problemas em sua gestão, a desqualificar as críticas e os críticos, a dialogar apenas com um núcleo político restrito e com seus eleitores via redes sociais.

3) Ao perceber que não era possível negar a existência da crise e diante da perda de apoio político da base aliada e do avanço do processo de impeachment, Dilma assumiu um tom incisivo (palavras, tom de voz, gestos) em seus discursos. Essa estratégia de confronto atendeu aos apoiadores do governo e só aumentou a polarização que tomou conta das ruas e dos corredores de Brasília.

Essas falhas podem servir de lição para que líderes atentem-se às estratégias comunicativas adotadas em seu cotidiano, seja no campo político ou empresarial. A gestão dos negócios e das pessoas pode ser mais efetiva e as crises podem ser evitadas – ou, ao menos, minimizadas – se o líder for acessível, transparente, aberto ao diálogo com os mais diferentes públicos.

Como se sabe, não há líder por decreto, por imposição ou por direito adquirido. Ser líder requer agenda pautada pela comunicação e abertura ao diálogo com todos.

(*) Vivian Rio Stella é doutora em linguística.

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