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Por uma economia que coloque as pessoas em primeiro lugar

Por Marcus Eduardo de Oliveira (*) | 08/07/2011 06:04

Para aqueles que labutam no desejo em construir uma economia com uma face mais humana, voltada a atender as necessidades das camadas populares mais necessitadas, um primeiro ponto de ruptura, para que isso, de fato, possa se suceder deve acontecer urgentemente.

É imprescindível, para isso, que se rompa com a idéia dominante da estatística voltada unicamente na obtenção cega de elevadas taxas de crescimento econômico. A tradição da teoria econômica, desde a obra seminal de Adam Smith, em 1776, tem sido manifestada largamente nos livros-texto insistindo que o crescimento econômico é a receita infalível para o progresso de cada um.

Em síntese, essa recomendação atesta que basta viver sobre uma economia em franco crescimento que as oportunidades sociais logo serão estendidas a todos, e as necessidades básicas de cada um, por conseqüência, serão plenamente satisfeitas.

Para tanto, a economia tradicional concentra todas as forças na busca desse crescimento, ignorando, conseqüentemente, as ocorrências dos passivos ambientais advindos de um crescimento agressivo em termos de recursos naturais explorados à exaustão.

A matemática do crescimento econômico a qualquer custo tem sido míope em termos de análises dos fatos colaterais. O que importa é crescer, recomenda com veemência a economia tradicional que vê crescimento como sinônimo de progresso, e confunde consumo material com felicidade.

Por outro lado, é importante ressaltar que, definitivamente, o ponto central de uma economia que seja mais humana e menos tecnicista, mais social e menos mecânica, diferente, portanto, dessa economia tradicional que tem dominado o ambiente econômico, está em usar as técnicas e modelos econômicos conhecidos de maneira a atender satisfatoriamente as necessidades dos mais desfavorecidos; dos “excluídos da economia mundial”, para tomarmos emprestadas as palavras do Nobel Amartya Sen.

Nesse sentido, o eixo dessa economia mais solidária consiste em colocar as pessoas em primeiro lugar. O que importa para nós que defendemos essa linha de raciocínio são as pessoas e suas necessidades elementares, e não o mercado e suas mercadorias.

Para nós comprometidos com a ruptura/mudança em favor de uma economia mais justa, crescimento é visto como algo tecnicamente quantitativo, enquanto que desenvolvimento envolve mudar o foco para os termos qualitativos, incluindo, evidentemente, a possibilidade de se atingir bem-estar.

Aceitar essa última premissa como verdade e, antes, fazer disso um ideal a ser buscado, é se colocar ao lado daqueles que tanto necessitam de ajuda: os “excluídos da economia mundial” cujas cifras são, ano após ano, cada vez mais assustadoras em termos mundiais: 1 bilhão de estômagos vazios; 1,5 bilhão de pessoas sem acesso à água potável; dezenove crianças com menos de cinco anos de idade mortas a cada cinco minutos de pneumonia; 500 mil mães morrendo a cada ano na hora do parto devido a assistência médica insuficiente; cinco milhões de crianças que, a cada ano, não chegam a completar cinco anos de vida.

Nesse pormenor, a economia (ciência e atividade produtiva) tem todas as condições de fazer avançar um programa de recuperação social, desde que, é claro, se rompa, abruptamente, com o pragmatismo dominante da tradicional economia que insiste em medir a realidade social pelos números e por valores monetários, como se a “vida econômica” fosse tão somente uma questão matemática.

É urgente, pois, mudar-se o eixo da economia e, definitivamente, firmar políticas públicas que coloquem as pessoas em primeiro lugar; afinal, a economia, enquanto ciência, desde a parte final do século XVIII, nasceu para dar uma resposta positiva à vida de todos nós.

(*) Marcus Eduardo de Oliveira é economista, mestre pela Universidade de São Paulo (USP) e Especialista em Política Internacional.

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