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Salve o Paraguai

Por Heitor Freire (*) | 12/05/2014 10:01

Estamos vivendo novos tempos que se multiplicam rapidamente num moto contínuo e, às vezes, fica difícil acompanhar para entendermos e participarmos desses acontecimentos.

Dentro dessas novidades, não há como desconsiderar a importância das redes sociais. Elas chegaram para ficar, para influir e modificar comportamentos, permitindo também a uma parcela significativa da população a oportunidade de manifestar os seus pensamentos, de interagir com os amigos e com uma plateia invisível que acompanha essa nova de atividade.

Dentro desse contexto observamos uma manifestação que está adquirindo um vulto cada vez maior, crescendo a olhos vistos, e que registra a insatisfação da população com o dito “padrão Fifa”, que foi aplicado na construção de estádios de futebol e demais atividades inerentes como aeroportos, turismo, etc. E é também uma continuidade das manifestações do mês de junho do ano passado. Por que o governo que aprendeu o tal “padrão” não o aplica em todas as suas obras?

Em função da deturpação dessas manifestações por ação de grupos radicais que aproveitaram esse momento para agredir e violentar as cidades, houve um recuo, mas que não significa uma retirada ou derrota. Pelo contrário, a população está observando e vai agir com toda força. As evidências estão claras nas redes sociais. E a qualquer momento vai explodir, levando o governo e os políticos a uma profunda reflexão: Se não houver mudanças, eles serão defenestrados.

Agora mesmo no Paraguai, segundo informações veiculadas pela internet, os paraguaios estão dando uma lição de cidadania, civismo, ética e abrindo guerra à impunidade de políticos corruptos. Uma frente de esperança e uma ideia brilhante! Embalados pelas redes sociais, a sociedade civil paraguaia decidiu iniciar um inédito protesto.

Aconteceu o seguinte: 23 congressistas votaram contra a perda de imunidade do senador Victor Borgado, que foi denunciado pela Justiça por contratar com dinheiro público, a babá dos seus filhos.

Até aí nada de diferente do que estamos acostumados por aqui. Já pagamos coisa muito pior, como: pensão para filho de amante de senador, mesada para parlamentares votarem com o governo - o mensalão, despesas ilimitadas com cartão de crédito para família de presidente, gasolina de helicóptero que traficava cocaína, tapioca para ministro, passagens aéreas para congressistas viajarem de férias, caronas para sogra de governador, para amiga de presidente "y otras cositas mas".

Aqui em nossa cidade tivemos o vexame do calote da Câmara de Vereadores que foi objeto de uma ação de despejo que não foi consumada, mas o vexame ficou. Por anos e anos, desde a legislatura passada, os nossos vereadores, com a conivência de todos eles, deixaram de pagar o aluguel do imóvel ocupado pela Câmara, conspurcando, assim, a imagem da Casa que já foi de Vespasiano Barbosa Martins, de Oliva Encisco, de Plínio Barbosa Martins e de tantos outros que dignificaram o voto recebido dos campo-grandenses. Imaginem se um de nós agisse da mesma maneira. De imediato seríamos despejados. Vejam bem a extensão do fato: o Poder Legislativo de Campo Grande é caloteiro. E os vereadores não estão nem aí. Daqui a pouco estarão novamente sorridentes, batendo em nossas costas e pedindo nossos votos. Vamos concordar?

Mas diferente mesmo foi o desfecho do caso da "babá de ouro", como ficou conhecido o episódio do senador Borgado, no Paraguai. Pelas redes sociais os paraguaios começaram uma onda de protestos bem humorada. Através do Facebook e de um aplicativo de celular chamado "Quem eu escracho?" com fotos e detalhes dos lugares frequentados pelos 23 congressistas, que ajudava a identificá-los, começou a perseguição.

O movimento, segundo consta, atingiu o auge com a irada expulsão de uma senadora do salão de beleza frequentado pelas moças e senhoras da alta sociedade de Assunção. Aos berros, ela teria sido enxotada do local, com o cabelo ainda coberto de tintura e o rosto lambrecado de creme.

O movimento chamado de "escraches"- ou seja, xingamentos e gritaria diante dos políticos, se ampliou. Mais de 200 estabelecimentos comerciais aderiram, e proibiram a entrada dos congressistas que protegeram o coleguinha. Lojas, bares, restaurantes, supermercados, cinemas, frentistas, taxistas, médicos e até hospitais resolveram não oferecer mais seus serviços aos políticos, que votaram contra a perda de imunidade do senador corrupto.

A vida desses nobres parlamentares virou um inferno. Execrados quando estavam fora de casa ou do Congresso, eles tiveram que ceder. Voltaram atrás e acabaram com a imunidade parlamentar do senador da babá de ouro.

Bingo! Políticos corruptos 0 x 10 povo paraguaio. O ovo de Colombo já estava de pé! “A partir desse episódio, temos meios para combater a corrupção”, disse Derlis Peralta, um dos organizadores do movimento via Facebook. “A vida deles jamais será a mesma". Si non é vero é bene trovato.

Acabou, pelo menos no Paraguai, aquela sensação de impotência de se sentir roubado, enganado, e ainda ver nossos algozes rindo por baixo dos bigodes e cabelos implantados e pintados, no maior cinismo.

Sugiro nós contrabandearmos a ideia original de lá, sem falsificá-la. A ideia é fantástica.

Viva o Paraguai. Meus compatriotas deram um grande exemplo de cidadania, e, neste mês de maio em que no dia 14, o Paraguai completa 203 anos de sua independência, orgulhosamente proclamo: Salve o Paraguai.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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