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Cidades

Agricultora, dona Luzia foi a 33ª vítima de feminicídio em MS este ano

Luzia foi morta a golpes de facão no sítio onde vivia; Polícia conta que casal vivia em harmonia

Paula Maciulevicius Brasil | 14/12/2020 13:10
"Cães são pacotinhos de amor embrulhados em pelos", escreveu Luzia na legenda desta foto em rede social. (Foto: Reprodução/Facebook)
"Cães são pacotinhos de amor embrulhados em pelos", escreveu Luzia na legenda desta foto em rede social. (Foto: Reprodução/Facebook)

"Não faço tudo que amo, mas amo tudo que faço". Assim se descrevia Luzia Rodrigues Bittecourt, de 68 anos, morta a golpes de facão pelo marido nesse domingo, no sítio onde a família morava, no Distrito de Casa Verde, em Nova Andradina, a 300 quilômetros da Capital.

Agricultura de vocação e esteticista como vocação, dona Luzia declarava o amor aos animais em seu perfil no Facebook. Em uma das fotos com os bichinhos, a legenda era "cães são pacotinhos de amor embrulhados em pelos".

O caso choca pela idade. Dona Luzia tinha 68 anos e estava casada há cerca de 50 anos com o marido, de 77. Ele foi preso em flagrante e encaminhado ao presídio de Nova Andradina, porque a Justiça decretou a prisão preventiva dele.

O delegado que atendeu o caso, Caio Leonardo Bicalho Martins, relata que o já levantado até então revela que o casal vivia em bastante harmonia, sem nunca ter tido nenhum episódio de violência.

"Algumas testemunhas chegaram a dizer que ele teve um surto de ciúmes e teria desferido golpes, mas não foi comprado nenhuma causa específica que pudesse gerar este sentimento. Ao que parece, teria sido algo criado por ele", afirma o delegado.

Em seu depoimento na delegacia, o idoso permaneceu em silêncio, mas testemunhas disseram à Polícia que ele teve uma crise de ciúmes porque a mulher estaria conversando com homens pelo celular. "O que não foi comprovado por parte da polícia, parece algo que foi imaginado por ele", completa o delegado.

Luzia tinha 68 anos e morreu depois de levar golpes de facão do marido. (Foto: Reprodução/Facebook)
Luzia tinha 68 anos e morreu depois de levar golpes de facão do marido. (Foto: Reprodução/Facebook)

Segundo a Polícia, quando um dos filhos do casal chegou, já tinha acontecido o crime e ele então levou a mãe até o Hospital Regional de Nova Andradina.

O delegado fala que não foi apresentado nenhum laudo que questione a atitude do marido. "Ele é um senhor de idade, às vezes fala algumas coisas contraditórias, mas nada que não demonstrasse a lucidez do mesmo, por isso foi autuado em flagrante", justifica o delegado.

Na delegacia, o idoso recebeu a notícia de que Luzia não havia resistido. Sobre a família, o delegado conta que todo mundo ficou arrasado. "É uma tragédia na família de qualquer pessoa", sustenta. O caso foi encaminhado para a Delegacia de Atendimento à Mulher de Nova Andradina por se tratar de feminicídio.

O corpo de Luzia foi levado ainda na noite de ontem para a cidade de Guaíra, no Paraná, onde será sepultado.

Feminicídio não tem perfil - De 1º de janeiro até ontem, dia 13 de dezembro, foram registrados 33 casos de feminicídio no Estado. Três a mais do que no ano passado inteiro, e ainda faltam 15 dias para acabar o ano, com o período de festas.

"Crime de gênero é um crime de ódio muito pautado no machismo, que está arraigado na sociedade. As mulheres continuam sendo vítimas", comenta a delegada Barbara Camargo Alves.

As estatísticas mostram que a maior parte das vítimas têm entre 20 e 39 anos, no entanto, o crime de feminicídio não tem um perfil. "Não conseguimos traçar nem de autor nem de vítima um perfil, ele acontece em todas as faixas etárias e classes sociais, porque é fruto de uma sociedade machista, e acontece independentemente da idade ou questão financeira", sustenta a delegada.

Subsecretária de Políticas Públicas para as Mulheres, Luciana Azambuja elenca que as vítimas de feminicídio de 2020 têm entre 17 e 80 anos. "São urbanas, rurais, brancas, indígenas e negras. A violência contra mulheres é muito democrática e precisamos juntar forças e esforços para mudar comportamentos e culturas machistas de que agridem e matam mulheres e meninas".

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