Alvos de violência, 80% dos profissionais da Enfermagem não registram ocorrência
Dado preliminar é do Conselho Regional de Mato Grosso do Sul, que recebe relatos para produzir um estudo
Tapas, xingamentos, ameaças e até facada e tentativa de estupro já foram sofridos por profissionais da Enfermagem que trabalham em Campo Grande. Todos os anos, casos surgem e expõem a violência como triste resultado de uma série de problemas que a rede de saúde e a população enfrentam.
RESUMO
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Profissionais de enfermagem em Campo Grande sofrem agressões físicas e verbais, incluindo tapas, xingamentos, ameaças e até tentativa de estupro. Apesar da gravidade, 80% dos casos não são registrados, segundo dados preliminares do Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul (Coren-MS). A subnotificação ocorre devido à burocracia e à falta de apoio, desencorajando os profissionais a formalizarem as denúncias. O Coren-MS realiza levantamento para dimensionar o problema e incentivar registros. A violência é atribuída à sobrecarga de trabalho, falta de segurança e ausência de políticas públicas que garantam recursos adequados. O déficit de profissionais na rede pública de Campo Grande agrava a situação, com 46 enfermeiros e 67 técnicos a menos do que o necessário. Sindicato da categoria cogita criar um "agressômetro" para quantificar os casos e pressionar por melhorias.
Maior força de trabalho na área da saúde, profissionais da Enfermagem somavam 34.608 pessoas em Mato Grosso do Sul, de acordo com dados de 1º de abril deste ano do Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem). A maioria desse total é mulher, o que não pode ser ignorado ao se falar dessas violências.
80% não registram - O Coren-MS ainda não tem números que mostrem o tamanho do problema, mas está fazendo um levantamento a partir de relatos enviados por profissionais. Dado preliminar aponta que 80% no Estado não registram boletim de ocorrência sobre as agressões sofridas.
Presidente do conselho, o enfermeiro Leandro Afonso Rabelo Dias destaca essa subnotificação. "O profissional é desencorajado porque chega numa delegacia e desiste da burocracia para relatar que foi xingado, por exemplo", justifica. "Então, nós estamos encorajando a falar sobre isso e vamos mostrar esses números após concluirmos a pesquisa", completa.
Enfermeiro que trabalha em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Campo Grande e é presidente do Sinte (Sindicato dos Trabalhadores Públicos em Enfermagem), Ângelo Macedo confirma o problema que a subnotificação representa. Ele acredita que atrapalha a categoria a comprovar estar mais refém da violência a cada dia, conforme a população da Capital cresce.
Inspirado no "impostômetro", ele cogita criar o "agressômetro" para que os filiados ou não ao sindicato relatem episódios de violência e ajudem a entidade a estimar a quantidade de casos também.
"De uma forma velada, o profissional é coagido a não registrar o B.O. Por exemplo, se ele sofre uma violência física ou verbal de um paciente ou acompanhante, é até penalizado diante da alta demanda de pessoas ali para atender, que é a prioridade. Outra coisa é ele perder o plantão e não receber o pagamento porque ficou fora um tempão e na delegacia não dão prioridade, tem que esperar como qualquer pessoa", acrescenta Ângelo.
Uma coisa leva à outra - A violência é resultado de diversos fatores. Um deles é a ausência de profissionais, que sobrecarrega equipes e gera estresse emocional, diz também o presidente do conselho.
A gente não está contra a sociedade. Estamos contra a violência porque ela mostra que as pessoas não estão recebendo o atendimento que deveriam receber", afirma.
"Um profissional que deveria atender seis pacientes, atende 15", continua. O Ministério Público de Mato Grosso do Sul está investigando esse déficit em Campo Grande. Segundo os dados do Coren-MS, faltam 46 enfermeiros e 67 técnicos de enfermagem apenas na rede pública do município.
Outros fatores incluem a falta de segurança nos locais de trabalho e a ausência de políticas públicas que garantam medicamentos, leitos e condições adequadas. "Tudo reflete no profissional", finaliza Leandro.
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