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Cidades

Após viagem de 13h, “hacker” contratado por milícia será ouvido na Garras

Peça-chave nas investigações de execução e da Omertà, ele chegou na noite de ontem e deve ser ouvido ainda nesta sexta-feira

Anahi Zurutuza e Marta Ferreira | 22/11/2019 08:38
Eurico dos Santos Mota, de 28 anos, quando foi abordado por policiais do Batalhão de Choque em abril; a equipe o levou para depor na DEH (Foto: Reprodução)
Eurico dos Santos Mota, de 28 anos, quando foi abordado por policiais do Batalhão de Choque em abril; a equipe o levou para depor na DEH (Foto: Reprodução)

Depois de 1,1 mil km na estrada e cerca de 13 horas de viagem escoltado por equipe da Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros), o técnico em informática Eurico dos Santos Mota, de 28 anos, já está em Campo Grande. Ele chegou na noite de ontem (21), por volta das 21h, e deve ser ouvido ainda hoje.

Eurico foi preso no fim da tarde de quarta-feira (20) em Joinville (SC) e segundo a polícia, é peça-chave na investigação do assassinato de Matheus Coutinho Xavier, de 20 anos, morto por engano no dia 9 de abril deste ano.

Foi ele quem identificou Juanil Miranda Lima, 43 anos, para a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, um dos executores do estudante de Direito. O técnico em informática havia sido contratado para rastrear a localização, em tempo real, de Paulo Roberto Teixeira Xavier, capitão da Polícia Militar e pai de Matheus, para quem seriam destinados os tiros de fuzil que mataram o jovem.

Desaparecido – Eurico estava sumido desde abril, quando prestou depoimento na DEH (Delegacia Especializada de Homicídios) depois de ter sido localizado em casa nas Moreninhas por equipe do Batalhão de Choque da Polícia Militar.

No vídeo, ele responde a pergunta dos policiais e informa dados pessoais*:

A descoberta do paradeiro do técnico pelo Choque e o depoimento delegacia foram no dia 23 de abril, 14 dias depois da execução de Matheus.

Ainda não há detalhes do porquê Eurico sumiu e por onde ele passou nestes últimos oito meses. Em Joinville, apurou o Campo Grande News, ele vivia em uma casa alugada. Ficou registrado no depoimento do técnico, em abril, que ele tinha medo de morrer. O depoente foi liberado porque se comprometeu a colaborar com as investigações. 

Ele disponibilizou acesso integral às suas conversas do WhatsApp, Facebook, Instagram, Menssenger, e-mail e deixou para a polícia seu celular desbloqueado. O técnico em informática também não pediu para depor acompanhado de advogado e nunca respondeu a processo criminal.

No camburão, Eurico quando foi preso em Santa Catarina (Foto: Direto das Ruas)
No camburão, Eurico quando foi preso em Santa Catarina (Foto: Direto das Ruas)

O primeiro depoimento – Para a equipe da DEH, Eurico contou que um mês antes da execução de Matheus havia sido procurado por Juanil para formatar um computador. O cliente, disse, apareceu logo depois de anúncio sobre serviços que prestava em informática e como detetive. O depoente contou à polícia ainda que havia feito curso EAD (Ensino à Distância) para ser investigador particular.

Narrou também que quando Juanil foi buscar o notebook perguntou se ele era capaz de rastrear a localização de uma pessoa em tempo real. “Não sei, mas posso ver”, afirmou ter respondido Eurico, segundo ele, vendo a oportunidade de ganhar dinheiro extra.

O depoente relatou ter ido atrás de ajuda de hackers e que terceirizaria o serviço, mas antes disso, por causa de um cartaz afixado no portão da casa dele oferecendo consultas ao SPC e Serasa a R$ 15, Juanil teria entregado a ele um número de CPF anotado em papel. Ele disse que se lembrava de ver o nome Paulo.

Para a polícia, trata-se do capitão Paulo Xavier, o verdadeiro alvo da milícia investigada na Operação Omertà.

Print de conversa entre Eurico e o hacker para quem ele terceirizou o serviço (Foto: Reprodução)
Print de conversa entre Eurico e o hacker para quem ele terceirizou o serviço (Foto: Reprodução)

O serviço - Eurico contou que então Juanil passou o número de telefone a ser rastreado, mas os dois não combinaram valor pelo trabalho. O técnico disse que conseguiu contatar um hacker que cobraria R$ 2 mil para fazer o monitoramento em tempo real e teve a ideia de contratá-lo, mas não contou sobre a terceirização para o cliente. Ele disse que não concluiu o trabalho, porque suspeitou “de algo errado” e parou de atender as ligações de Juanil.

A polícia apurou, porém, que o hacker contratado por Eurico chegou a se passar por mulher e tentar marcar encontro com Xavier para coletar o maior número possível de informações. O capitão, no entanto, não apareceu e acabou descobrindo a verdade sobre o contato e a tentativa de emboscada. Caso tivesse aparecido, morreria cerca de um mês antes da execução do filho, desconfia a investigação.

O depoente contou que no dia 21 de abril foi última vez que teve contato com o cliente. Por telefone, Juanil perguntou se podia levar outro computador para formatação e o técnico respondeu que sim. 

A milícia alvo da Omertà, conforme evidenciou o trabalho investigatório, tinha dois pistoleiros responsáveis por cumprir as ordens de execução, Juanil e José Moreira Freires, o Zezinho. Ambos são ex-guardas civis municipais de Campo Grande e estão desaparecidos.

O Campo Grande News apurou que o hacker com quem Eurico fez contato também sumiu, mas sem deixar rastro. O número de celular usado por ele era do Amapá e o chip foi comprado por pessoa com RG do Rio Grande do Sul.

A prisão de Eurico é resultado do inquérito sobre a execução do estudante de Direito, mas o depoimento do técnico em informática é um elo importante entre as investigações do assassinato e sobre a atuação de milícia sob o comando de Jamil Name e Jamil Name Filho em Mato Grosso do Sul.

Fotos divulgadas pela força-tarefa; dupla desapareceu, segundo a investigação, em abril deste ano (Foto: Divulgação)
Fotos divulgadas pela força-tarefa; dupla desapareceu, segundo a investigação, em abril deste ano (Foto: Divulgação)

*O áudio do vídeo foi omitido porque Eurico dá dados pessoais.

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