Delegada assume papel além da polícia ao orientar jovens sobre cursos gratuitos
Sem mapeamento de projetos, prevenção acaba dependendo de iniciativas individuais
Na rotina da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude), a delegada Daniela Kades vai além do atendimento a adolescentes infratores e acaba assumindo uma função pedagógica para tentar afastar jovens da violência. A delegada ensina adolescentes a usar o celular para procurar cursos gratuitos, um papel que, na avaliação dela própria, não deveria ser da polícia.
RESUMO
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A delegada Daniela Kades, da Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude (DEAIJ), tem assumido um papel além de suas atribuições policiais ao orientar jovens infratores sobre oportunidades gratuitas de estudo e esporte. A iniciativa busca afastar adolescentes da violência, oferecendo alternativas para mudança de vida. Apesar da existência de diversos projetos gratuitos em Campo Grande, a falta de organização das informações e dificuldades de acesso são obstáculos. A delegada auxilia pessoalmente os jovens a encontrarem oportunidades próximas de suas residências, ensinando-os a utilizar ferramentas de busca em seus celulares.
Segundo a delegada, faltam parcerias que possam oferecer novas perspectivas aos jovens e sempre que identifica que um adolescente está aberto à mudança, ela se dispõe a ajudar e indica a prática esportiva como alternativa. Para Daniela, o esporte tem potencial para mudar trajetórias e oferecer um caminho diferente daquele já imposto pela realidade de muitos desses jovens. No entanto, esse esforço individual esbarra em falhas do sistema, na falta de apoiadores e, principalmente, na ausência de um mapeamento claro das atividades públicas e de organizações sociais que existem na Capital.
Mesmo existindo dezenas de projetos gratuitos de esporte, cultura e qualificação em Campo Grande, essas oportunidades não chegam aos adolescentes mais vulneráveis. O problema, afirma a delegada, não é a falta de iniciativas, mas a desorganização das informações. “Tem muita coisa gratuita, mas não adianta mandar o menino atravessar a cidade. Ele não vai”, resume.
A dificuldade começa pela distância. Muitos jovens não têm dinheiro para transporte nem autonomia para se deslocar até bairros distantes. Por isso, a proximidade do local onde a atividade é oferecida é determinante. Quando os projetos ficam restritos a comunidades escolares específicas, adolescentes de outras regiões acabam automaticamente excluídos.
Ensina a buscar - O acesso à informação é outro entrave. Grande parte dos programas é divulgada apenas pela internet, exigindo que o jovem saiba da existência do serviço e tenha iniciativa para procurar. “Eles usam o celular para rede social, não para buscar projeto”, relata. Diante disso, Daniela Kades conta que senta com os adolescentes, pega o celular deles e mostra, passo a passo, como acessar sites oficiais e encontrar cursos e atividades gratuitas.
Quando conseguem enxergar uma oportunidade concreta, o interesse aparece. Ao descobrir aulas gratuitas de artes marciais, música, capoeira ou esportes coletivos, muitos se animam. Ainda assim, surgem obstáculos simples, como a falta de documentos ou a ideia de que precisam da presença dos pais para se matricular. Segundo a delegada, essas barreiras muitas vezes são resolvidas com orientações básicas, como buscar cópia dos documentos na escola.
Apesar das dificuldades, a maioria dos adolescentes atendidos pela DEAIJ não reincide. Há, no entanto, um grupo menor que retorna com frequência, geralmente marcado pela ausência de apoio familiar e, em alguns casos, pelo uso precoce de drogas. “Manter esse menor apreendido não resolve. Ele volta para o mesmo ambiente”, afirma.
Sucesso - Ainda assim, casos bem-sucedidos reforçam a aposta da delegada no esporte. Ela cita o exemplo de um adolescente encaminhado para o basquete que não voltou mais à delegacia e hoje segue praticando o esporte. Para Daniela Kades, histórias como essa mostram que o caminho existe, mas falta organização.
Na avaliação da delegada, um mapeamento simples, por bairro, reunindo projetos públicos e de organizações sociais, permitiria encaminhamentos mais rápidos e eficazes. Enquanto isso não acontece, o trabalho segue dependendo de iniciativas individuais. “Se eu conseguir salvar um a cada cem, já está valendo”, resume.
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