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Cidades

Deputado estadual também é citado em investigação de quadrilha do jogo do bicho

Primeira fase da investigação do Gaeco aponta que organização tem atuação na Capital, Dourados e Ponta Porã

Por Silvia Frias | 20/12/2023 14:05


Um dos suspeitos, segundo investigação, é parlamentar estadual, o que indica participação de deputado da ALEMS. (Foto: Arquivo)
Um dos suspeitos, segundo investigação, é parlamentar estadual, o que indica participação de deputado da ALEMS. (Foto: Arquivo)

A investigação sobre a disputa pelo comando do jogo do bicho em Mato Grosso do Sul chegou a grupo composto por, pelo menos, 14 pessoas, com atuação em Campo Grande, Dourados e Ponta Porã. Segundo dados da Operação Successione, a organização criminosa “envolve inclusive parlamentar estadual” em esquema em que foram apurados os crimes de corrupção e roubo majorado praticados por gestores e funcionários da jogatina.

No trecho de documento que embasa o decreto de prisão temporária da 1ª fase da operação, deflagrada no dia 5 de dezembro, não há citação textual de quem seria o parlamentar. Mas o poder dele é colocado como agravante, inclusive, pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) ao negar habeas corpus a três presos.

Com base no material anexado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), em ambas as decisões os magistrados argumentam que “(...) também deve ser considerada a complexidade da investigação, envolvendo organização criminosa composta por, pelo menos, 14 agentes e com atuação não só na Capital, mas também em Dourados e Ponta Porã, que envolve inclusive parlamentar estadual. Mostra-se natural, portanto, certo decurso de prazo para a coleta de indícios suficientes a respeito da autoria e materialidade dos supostos delitos”, destaca a decisão que concedeu os mandados de prisão.

Deputado Neno Razuk durante entrevista no dia 5 de dezembro, data da primeira fase da operação. (Foto: Arquivo)
Deputado Neno Razuk durante entrevista no dia 5 de dezembro, data da primeira fase da operação. (Foto: Arquivo)

Até agora, foram presas três pessoas que figuravam como assessores do deputado estadual Neno Razuk (PL): o major Gilberto Luiz dos Santos, o "Major G. Santos”, o sargento Manoel José Ribeiro, “o Manelão”, ambos da reserva da Polícia Militar, e Diego de Souza Nunes. Os três foram exonerados no dia 7 de dezembro, dois dias depois da operação.

No dia da operação, Neno Razuk compareceu à sessão na Assembleia Legislativa e confirmou que foi alvo da operação, sendo acordado pela equipe do Gaeco. Segundo ele, a equipe apreendeu pistola, dois celulares e o tablet do filho dele.

“Mostrei que só tinha joguinho, mas infelizmente estava no mandado e levaram até o tablet. Também a minha pistola que tenho registro, porte, tenho tudo bonitinho e nada mais de relevante, somente isso mesmo. Não tinha nada, não pegaram um real”, afirmou, em coletiva sobre a operação naquele dia, na Alems.

Também naquela entrevista, Razuk disse que confiava na Justiça, que tem certeza de sua inocência e que não sabia qual era o teor da ação. Hoje, a informação que o deputado estava em Dourados, participando das comemorações pelo aniversário da cidade.

A reportagem entrou em contato com assessoria que informou que Razuk já prestou esclarecimentos em entrevistas sobre a 1ª fase e que não há nada envolvendo o deputado nesta 2ª etapa. Hoje, durante a segunda fase da operação contra o jogo, Neno Razuk está em Dourados.

Denunciados - A Operação Successione teve mais uma etapa deflagrada hoje, com cumprimento de 12 mandados de prisão e 4 de busca e apreensão. Na 1ª fase, no dia 5 de dezembro, foram expedidos 10 de prisão e 13 de busca e apreensão.

Na primeira fase, foram expedidos mandados de prisão para Diego de Souza Nunes, o major aposentado Gilberto Luiz dos Santos (Coronel ou Barba), José Eduardo Abdulahad, Júlio Cezar Ferreira dos Santos, o sargento aposentado Manoel José Ribeiro, o Manelão, Mateus Júnior Aquino, Taygor Ivan Moretto Pelissari, Tiano Waldenor de Moraes, Valnir Queiroz Martinelli e Luiz Paulo Bernardes Braga. A reportagem apurou que há mandado em aberto ainda para Luiz e Tiano.

Conforme já apurado pelo Gaeco, os investigados fazem parte de organização criminosa dedicada “à prática dos crimes de roubo majorado, exploração de jogos de azar, corrupção, entre outros”.

Sobre quatro deles – Diego de Souza Nunes, Mateus Aquino Junior, Manoel José Ribeiro e Valnir Queiroz Martinelli – consta que seriam "responsáveis por executar os crimes que sustentam a organização, inclusive os roubos com uso de arma de fogo, aliciar os 'motoqueiros recolhes' do grupo que atualmente comanda as atividades ilícitas do 'jogo do bicho' na Capital, bem como de promover o treinamento dos apontadores".

O esquema do jogo do bicho começou a ser investigado a partir de flagrante na Rua Gramado, no Bairro São Francisco, onde foram encontradas 700 máquinas caça-níqueis.

Todos os que lá foram flagrados, segundo o Gaeco, “pertencem à mesma organização criminosa que praticou os roubos com uso de arma de fogo, e isso se afirma com base na dinâmica flagrada pela Equipe do GARRAS que encontrou uma das vítimas de roubo, (...), em meio a outras 9 (nove) pessoas, tendo o encontro sido marcado para tratar de salários e comissão envolvendo a atividade de 'recolhe do jogo do bicho', ou seja, assunto sensível à organização da atividade ilícita”.

O roubo citado se trata de ação forjada, no dia 16 de outubro, de dois malotes de R$ 5 mil e outro com cerca de R$ 2,5 mil. Os malotes estavam com dois motociclistas responsáveis pelo “recolhe” do jogo do bicho.

O roubo forjado teve a participação dos motociclistas, responsáveis por recolher o dinheiro do jogo do bicho do MTS, grupo do Rio de Janeiro que assumiu o esquema após a queda da Família Name. As duas supostas vítimas estavam sendo cooptadas pelo BET, grupo de Mato Grosso do Sul, que tenta entrar no mercado de jogos de azar.

“A gravidade concreta dos ilícitos encontra-se bem delineada nos autos, em especial pelo modus operandi empregado pelos agentes – ocorreram no mesmo dia, à luz do dia, com utilização de pistolas (...), concurso de agentes, circunstâncias típicas do agir de uma organização criminosa estruturada e violenta.”

2ª fase - Em nota, o MPMS (Ministério Público de MS) informou que a organização criminosa continuou agindo, mesmo depois da operação realizada no início de dezembro.

Segundo o MPMS, a organização é integrada por policiais militares da reserva e de um ex-policial militar, já excluído dos quadros da corporação, se valiam de sua condição, especialmente do porte de arma de fogo, agiam para tornar Campo Grande novo território sob seu comando. Até agora, 15 pessoas foram denunciadas, no fim da tarde de ontem, por participação no esquema. (Colaborou Ana Beatriz Rodrigues)

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