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Distribuidora ligada ao PCC que fatura R$ 2,7 bilhões tem filial fantasma em MS

Investigação aponta que recursos da empresa tinham origem em tráfico e lavagem de dinheiro

Por Bruna Marques | 02/09/2025 08:17
Distribuidora ligada ao PCC que fatura R$ 2,7 bilhões tem filial fantasma em MS
PF e Receita cumprem mandados contra 315 alvos, entre empresas e pessoas físicas (Foto: Divulgação)

Em Mato Grosso do Sul, na cidade de Iguatemi, a Operação Carbono Oculto identificou um aumento suspeito e repentino no faturamento da Duvale Distribuidora de Petróleo e Álcool, que saltou de uma empresa inativa em 2020 para movimentar R$ 2,79 bilhões em 2021, chamando atenção das autoridades e ampliando as investigações sobre a infiltração do PCC (Primeiro Comando da Capital) no setor de combustíveis.

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Polícia Federal investiga lavagem de dinheiro bilionária em esquema de combustíveis ligado ao PCC. A operação, deflagrada em conjunto com a Receita Federal e o Ministério Público de São Paulo, apura a infiltração da organização criminosa no setor, com movimentações financeiras que ultrapassam R$ 52 bilhões desde 2020. A Duvale Distribuidora de Petróleo e Álcool, alvo principal da investigação, registrou crescimento exponencial suspeito, passando de faturamento zero em 2020 para R$ 2,79 bilhões em 2021. O esquema envolve a adulteração de combustíveis com metanol e a utilização de empresas de fachada, fintechs e agentes do centro financeiro de São Paulo para lavagem de dinheiro proveniente do tráfico internacional de drogas. A operação cumpriu 248 mandados de busca e apreensão em oito estados, mas não houve prisões.

De acordo com documentos da Polícia Federal, o crescimento extraordinário da empresa está ligado à entrada de Daniel Dias Lopes, condenado por tráfico internacional de drogas, e ao aporte financeiro de Mohamad Hussein, o "Primo", e Roberto Lemos, o "Beto Louco", apontados como líderes de um esquema de lavagem de dinheiro do crime organizado. Os três tiveram prisão decretada na semana passada e seguem foragidos, com nomes incluídos na lista vermelha da Interpol.

Segundo o inquérito, "Primo" assumiu informalmente a Duvale após a cassação da licença de sua empresa anterior, a Copape/Aster, pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

Fundada em 1988 e registrada como inativa até então, a distribuidora começou a movimentar altíssimos valores em suas contas, levando o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) a emitir nove relatórios de inteligência financeira. Um deles aponta 24.229 depósitos em dinheiro fracionado, totalizando R$ 31,7 milhões entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021.

Distribuidora ligada ao PCC que fatura R$ 2,7 bilhões tem filial fantasma em MS
Operação Carbono Oculto mira esquema bilionário do PCC (Foto: Divulgação/Receita Federal)

O crescimento multimilionário da empresa possibilitou a abertura de filiais em Porto Velho (RO), Iguatemi, a 412 quilômetros de Campo Grande, e Feira de Santana (BA). Vistorias da PF nesses endereços não localizaram nenhuma operação em funcionamento. “Todo esse volume de recursos não tinha lastro fiscal e vinha do tráfico internacional de drogas”, afirma o relatório da Operação Tank, uma das três deflagradas na última quinta-feira.

Lopes, que cumpriu pena em regime fechado em presídios dominados pelo PCC, teria consolidado laços com a facção e outras frentes do crime organizado, incluindo operações de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, atividade que segue em expansão.

A descoberta do superfaturamento relâmpago adiciona um novo capítulo à Operação Carbono Oculto, que na semana passada mobilizou 1,4 mil agentes para cumprir 315 mandados em oito estados, incluindo Mato Grosso do Sul, onde o esquema envolveu empresas em Dourados e sete em Iguatemi. A operação investiga crimes como fraude fiscal, adulteração de combustíveis, lavagem de dinheiro e sonegação de tributos, com movimentação financeira estimada em R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024.

Distribuidora ligada ao PCC que fatura R$ 2,7 bilhões tem filial fantasma em MS
Agentes cumprem mandados em sete estados na Operação Carbono Oculto (Foto: Divulgação/PF)

As investigações apontam que o dinheiro de origem ilícita foi inserido em fintechs e fundos de investimento, dificultando o rastreamento e dando aparência de legalidade às operações. Entre os bens adquiridos com esses recursos estão usinas sucroalcooleiras, fazendas, caminhões para transporte de combustíveis e imóveis de alto padrão, no Brasil e no exterior.

A PF, a Receita Federal e o Ministério Público de São Paulo reforçam que a atuação conjunta entre os órgãos é essencial para combater o pilar financeiro do crime organizado, destacando que o uso de fintechs e fundos imobiliários pelo PCC representa uma mudança no perfil da lavagem de dinheiro, antes feita com dinheiro físico, agora integrada ao mercado financeiro formal.

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