Ex-doméstica, engenheira, empresária: o seleto grupo de 1 milhão de seguidores

Ex-empregada doméstica, engenheira, empresária, jornalistas, arquiteto. De profissões diferentes, esse grupo se aglutina na projeção em redes sociais. Por diversos itinerários - seja com uma pegada empresarial, fotos sensuais  ou com estilo mais despojado - são   influenciadores digitais que, juntos, reúnem mais de um milhão de pessoas.

Com 480 mil seguidores no Instagram, a douradense Yasmin Casadias Pinheiro, 23 anos, tem na rede social o dobro da população de sua cidade natal. O começo foi no Facebook, com um vídeo de dança que “viralizou”.

Depois, quando tinha dez mil seguidores, fez a primeira permuta. “A dona de uma loja do bairro disse que me dava uma blusa se fizesse a divulgação do local. Fiquei bem feliz e vi que poderia ter outras vantagens”, afirma Yasmim, que cursou Engenharia de Aquicultura, mas hoje tem como fonte de renda o trabalho de digital influencer.

Ela conta que os números impressionam potenciais anunciantes. Mas, durante cursos sobre o tema, percebe que não poderia “abraçar” tantos segmentos e agora  faz um processo de transição, com destaque para o segmento de maquiagem.

“Comecei dando a cara a tapa. Atualmente, também produzo conteúdo para quem quer ser digital influencer, de como gravar vídeos ou ficar mais desinibido numa entrevista de emprego”, diz. Na rede social, tem fotos na praia, carrões e vídeo de coreografias.

Sucesso por brincadeira - Aos 42 anos, Silvana Amaral conta que o sucesso nas redes sociais começou por brincadeira, postando vídeos malhando.

“Eu incentivava a mulherada a ir para academia, que nunca é tarde para ter um corpo legal. Até 2016, trabalhava como empregada doméstica em Chapadão do Sul”, afirma.

O corpo, aliás, rende fotografias com decotes generosos, biquíni e roupas curtas. O estilo sensual resulta em seguidores majoritariamente do sexo masculino.

Entre uma dica e outra de como fazer dieta, com destaque para itens mais em conta, como a batata doce e o ovo, foi ganhando patrocínio de lojas de suplementos e de roupas. No perfil, Silvana se define como locutora, tequileira e digital infuencer das “brutas”. Numa alusão a estilo de quem pega no batente.

Hoje, está no interior do Rio Grande do Sul, ajudando o pai, que é pedreiro, a construir sua primeira casa própria de alvenaria. “Sou a servente e tô na lida. Ele morava em uma casinha de madeira bem feia, com situação precária”, diz.

Parte do dinheiro para realizar o sonho do pai veio do trabalho com a projeção nas redes sócias. “Por onde passo, brinco que é apito e grito. Faço muitas amizades por ser simples, humilde e honesta”, conta Silvana, que é casada há 22 anos e tem dois filhos adolescentes.

A conta de Silvana no Instagram tem 61,9 mil seguidores. Ela também abriu canal no Youtube, onde um vídeo de esfoliação antes de sessão de bronzeamento atingiu três milhões de visualizações.

No interior do Rio Grande do Sul, anda distante da internet porque o sinal é ruim. “Mas por um lado é até bom. Já estava ficando quase doida. É bom que dá um tempo para a cabeça”, diz.

“Vou viver e ganhar dinheiro com isso” – À frente do Caju Indica e seus 199 mil seguidores, está a jornalista Carmen Juliana Ascenço de Araújo, 35 anos. A trajetória no mundo virtual começou com um blog, em parceria com uma amiga, em que divulgava conteúdo sobre restaurantes,  lojas de roupas e as novidades que chegavam a Campo Grande.

“Era um diário em que compartilhávamos com as pessoas as nossas dicas. Mas não tinha a menor intenção de faturar, ganhar dinheiro”, diz a jornalista.

Porém, vendo o potencial de crescimento das redes sociais, ela se lançou aos estudos, enxergou que poderia viver desse trabalho e transformou sua página numa empresa.

“Contratei um fotógrafo profissional, tenho uma pessoa que me ajuda. E só divulgo o que gosto e que tem a ver com o meu perfil. Só indico aquilo em que realmente acredito. Costumo dizer que o influenciador é como se fosse um amigo seu e você pede uma dica porque confia naquela pessoa” , afirma Carmem Julian.

O perfil empresarial se mostra em fotografias bem produzidas na divulgação de roupas, sapatos, produtos e lojas.

Gestão financeira e casamento de R$ 200 mil   – Aos 27 anos, a jornalista Emanuelly, a Manu Vitório, transfomou em janeiro a conta com 103 mil seguidores em  empresa. Para a gestão, trouxe a credibilidade aprendida no jornalismo, a experiência de como projetar marcas, advinda do trabalho em concessionárias de veículos, e a dedicação aos números.

“Faço a gestão financeira, produzo conteúdo, negocio cachê. Calculo o tempo, o recurso investido e o que vai ter de retorno. Sou perfeccionista”, diz Manu.

A estratégia também inclui apresentar o produto de forma natural e sempre seguindo o mantra: não divulgue o que não confia. “O seguidor quer encontrar veracidade”, diz.

Filha do ex-deputado Manoel Vitório, ela conta que se fascinou pela comunicação vendo o pai em campanha eleitoral e dando entrevistas em estúdios. Mas quando começou a cursar jornalismo, chegou a ser alertada sobre a pouca rentabilidade da profissão.

“O pessoal brincava: vai passar fome”, recorda. No mês que vem, Manu vai se casar numa celebração calculada em R$ 200 mil. "Todo patrocinado pelos melhores profissionais da área de eventos. Serão 14 convidados, entre família e seis amigas”, diz, lembrando que o casamento exige medidas restritivas por conta da pandemia do novo coronavírus. Ela não descarta fazer a transmissão ao vivo do enlace.

Empresária que ensina até a dobrar lençol -  A empresária Sidney Volpe, 66 anos, descobriu as redes sociais por conta de um pé quebrado e hoje, a mulher que aparece nas fotos com peças de marcas renomadas, explica até como dobrar o lençol com elástico. Aos risos, ela lembra que sofreu a fratura em uma viagem de avião, quando retornava de temporada no apartamento de Miami (Estados Unidos).

Uma mala caiu no seu pé e, diante da preocupação do dono da bagagem, até se despediu com um abraço. Mas acabou no hospital e depois foi para a cadeira de rodas. Com a locomoção  restrita, prestou mais atenção no mundo virtual. Passou a fazer cursos e se surpreendeu em alcançar uma faixa etária de pessoas bem mais jovens.

Didática, explica sobre  tipos de corpos e de estilos, lembrando que responde pessoalmente, por áudio, as dúvidas dos seguidores, a maioria mulheres.

As perguntas vão de se mulher de baixa estatura pode usar vestido longo (sim, pode, mas aposte no sapato nude) a como dobrar o lençol que tem elástico.

“Me causa espanto ter tantos seguidores jovens. Tenho uma interação muto boa. Eu mostro o meu normal, fazendo omelete, limpando a casa, como que faz para limpar uma toalha, viajando. Coisas normal da vida. Tenho impressão que as pessoas não aguentam mais falsidade, fingimento”, diz a empresária, que tem 125 mil seguidores.

“Não sou blogueiro, falo do meu dia a dia” – Viagens e muitas fotografias relacionadas ao trabalho marcam as postagens do arquiteto Luís Pedro Scalise, que tem, 62,2 mil seguidores no Instagram.

“Nunca pensei em ser influenciador digital. Não sou blogueiro, mas uma pessoa que falo do meu dia a dia, principalmente do meu trabalho” afirma. A projeção veio primeiro no Facebook, onde abriu seis perfis para comportar os amigos virtuais.

“Me surpreendo com o carinho das pessoas. Elogiando, incentivando. E respondo todo mundo que me manda mensagem. Acho muito legal essa interação”.